Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Efeitos de lama de rejeitos na saúde humana ainda são objeto de estudos

Análises de amostras do rio Doce, depois de Mariana, mostraram a presença de metais na água

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Vista do rio Paraopeba, na região de Brumadinho (MG) com sujeira e resíduos após o rompimento da barragem - Pedro Ladeira/Folhapress
São Paulo

Três anos depois do rompimento da barragem de Mariana (MG), ainda sobram dúvidas sobre os riscos envolvidos no contato de pessoas com a lama de rejeitos. 

Análises da água do rio Doce, atingido em 2015 pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), feitas pela ONG SOS Mata Atlântica, em 2016 e 2017 mostraram a presença de metais no rio, como alumínio, magnésio e manganês, mas o impacto na saúde humana não foi bem documentado. 

O estudo de 2017 mostrou que em quase 89% dos pontos de coleta a qualidade da água estava ruim ou péssima. 

A Fundação Renova, criada pela Samarco após o desastre de Mariana, afirma que os metais encontrados no rio Doce não provocam câncer e que vários deles não saíram da barragem rompida, mas, sim, do fundo do corpo de água — ou seja, estariam relacionados com outras atividades ou seriam naturais da região. 

Segundo o médico toxicologista Sergio Graff, intoxicações agudas costumam causar enjoos, vômitos, dores de cabeça, entre outros. Sobre os efeitos a longo prazo ainda não há dados. 

 

Simone Silva, 40, moradora de Barra Longa, um dos municípios atingidos pela lama no rompimento de barragem em Mariana, afirma que desde o rompimento em Mariana sua filha tem adoecido.

“A barragem rompeu no dia 5 de novembro [de 2015] e no dia 6 a Sofya começou com vômitos e diarreia. Ficou um mês e meio assim e lixa na pele. E dali pra cá são 3 anos e 2 meses de luta intensa”, diz.

A menina também tem problemas respiratórios e dores nas pernas, segundo a mãe, que também conta que há laudos constatando a contaminação por metais. “Hoje, depois de muita luta minha, eles [Fundação Renova] pagam uma consulta para a Sofya quando ela necessita e alguns medicamentos.”

Em nota, a Renova afirma prestar atendimentos para um grupo de moradores de Barra Longa, com realização de exames, e, em alguns casos, fornecendo medicamentos e pagando médicos particulares.

O auxílio, porém, não contempla todos os medicamentos necessários ou a alimentação indicada para Sofya, diz Simone. Segundo ela, o seu filho mais velho, Davidy, 16, tem os mesmos problemas de saúde de Sofya e não recebe auxílio da Renova. Simone e seu marido estão desempregados.

Evangelina Vormittag, pesquisadora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, acompanhou os moradores de algumas das áreas atingidas pela lama da Samarco, como Barra Longa.

Segundo ela, porém, não é possível fazer ligações definitivas de causa e efeito entre os metais encontrados na região e os problemas de saúde achados no estudo que conduziu. “Não dá pra dizer que a população está contaminada; seria necessário ampliar o estudo para mais pessoas”, diz. 

Também foram conduzidos pela cientista exames de sangue e urina em 11 pessoas que podem ter sofrido contaminação por metais. Em todas foram encontrados níveis acima do normal de níquel e em três, de arsênio. “O fato de ter a presença do metal e se confirmar depois de um ano [do estudo inicial] significa que eles estão expostos ao metal no ambiente”, diz Vormittag.

Segundo Fabio Braz Machado, geólogo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os metais encontrados em análises ambientais após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, são similares aos que poderiam ser detectados na barragem do Córrego do Feijão, rompido na sexta (25). 

Análises diárias feitas no rio Paraopeba —que foi afetado pelo rompimento da barragem em Brumadinho—mostram presença acima do normal desses metais. Da mesma forma como ocorreu com o rio Doce, as secretarias de Saúde, de Meio Ambiente, de Desenvolvimento Sustentável e de Agricultura, Pecuária e Abastecimento orientaram a população a não utilizar a água do rio. 

A preocupação com a água dos rios se dá não só pelo possível consumo direto, mas pela contaminação da cadeia alimentar. “Há um risco dos peixes ingerirem esses metais, que poderiam chegar até as pessoas. Os metais podem ficar nos sedimentos e se incorporar nos rios”, diz Wanda Gunther, professora do departamento de saúde ambiental da USP. 

Além da água, o ar é outro fator que preocupa pesquisadores. Quando a lama seca, o vento pode carregar partículas de metais, as quais podem acabar no sistema respiratório das pessoas. Vormittag afirma que, quase um ano após o desastre, sua pesquisa detectou grandes quantidades de material particulado em áreas afetadas pelo rejeito de Mariana.

Segundo o Corpo de Bombeiros, há risco de contrair doenças como verminoses e leptospirose. Para Graff, são necessárias mais informações sobre a composição da lama e análises do solo e ar para tomar medidas de segurança mais precisas. “A Vale deveria fornecer essas análises o mais rápido possível”, diz. 

“Apesar de não ter comprovação, até o momento, de impactos na saúde provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, a Fundação entende que é seu compromisso aprofundar na questão, por meio de novos estudos”, diz a Renova, em nota. A entidade afirma que resultados de uma pesquisa própria sobre o assunto devem sair ainda este ano.


O impacto de rejeitos de minério de ferro na saúde

Materiais presentes no material da barragem rompida podem causar problemas de saúde. Governo de Minas Gerais afirma que pessoas não devem usar água do rio Paraopeba

Intoxicação com substâncias presentes na lama dependem de:

  1.  Tipo de contaminante
  2.  Via de exposição
  3.  Dose
  4.  Grupo que foi exposto

Dessa forma, não necessariamente a mera exposição vá causar problemas de saúde. Veja o que pode acontecer com cada substância:

FERRO


  • Sintomas 
    Problemas gastrointestinais, como diarreia, náuseas, vômitos e sangramento
  • Pode levar a...
    Problemas no coração e no fígado

MANGANÊS


  • Sintomas 
    Raramente há alguma manifestação
  • Pode levar a...
    Tremores, rigidez e problemas de coordenação

ALUMÍNIO


  • Sintomas 
    Tosses quando aspirado
  • Pode levar a...
    Problemas pulmonares

ARSÊNIO 


  • Sintomas
    Náusea, dor abdominal, vômitos, diarreia, formigamento de extremidades e perda de sensibilidade
  • Pode levar a...
    Doenças cardiovasculares; câncer de pele; morte em casos graves

CHUMBO


  • Sintomas 
    Não há níveis seguros de exposição e pode levar a náusea, vômito, dor abdominal ​
  • Pode levar a...
    P​roblemas no sistema nervoso central, nos rins e anemia ​

CÁDMIO​


  • Sintomas
    Náuseas, vômitos e dores abdominais
  • Pode levar a...
    Câncer de pulmão, falência renal e problemas pulmonares

NÍQUEL​


  •  ​Sintomas​
    Alergia na pele
  • Pode levar a:
    Bronquite e problemas pulmonares

CROMO​


  • Sintomas​
    Náusea, vômitos e diarreia​
  • Pode levar a:
    Dermatites, bronquite e câncer de pulmão

Fonte: “Desastre no Vale do Rio Doce”; Fabio Braz Machado; Wanda Risso Gunther

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.