Site distorce relação entre uso da cloroquina e aumento de recuperados

Em números absolutos, o Brasil está na segunda posição em recuperados, mas taxa não cresceu após o governo passar a recomendar o uso da droga

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São Paulo

É falsa a afirmação de que o número de pacientes recuperados de Covid-19 no Brasil aumentou depois que o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de cloroquina em casos leves da doença. O Projeto Comprova verificou o texto publicado no dia 29 de maio no site Agora Paraná, assinado por Oswaldo Eustáquio. O autor diz que depois da adoção do protocolo da cloroquina, o Brasil passou a ter o “número de curados quase duplicado”. Mas os dados do Ministério da Saúde desmentem essa alegação.

O blogueiro, conhecido defensor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), comemorou que o Brasil tinha o segundo maior número de pacientes curados até um dia antes da publicação e que havia ultrapassado a Alemanha. Em entrevista por telefone, ele disse que se baseou em dados da Universidade Johns Hopkins para chegar a essa conclusão. “Minha matéria é muito específica e clara. A fonte é uma instituição reconhecida mundialmente como a maior faculdade de ciências do mundo, e isso está no ranking [da John Hopkins], e a minha matéria não diz sobre estatística, sobre porcentagens, é sobre números [absolutos]“, afirmou.

De fato, os dados da universidade informam que, na data, o Brasil tinha o segundo lugar em quantidade de pacientes recuperados, 177.604 (veja mais detalhes abaixo). Mas a forma como Eustáquio usou a informação é enganosa já que, naquele momento, o país também era medalha de prata em infecções: 438.238 casos confirmados. Uma taxa de recuperação de 40,5%. No mesmo dia, a Alemanha registrou 163.360 pacientes livres da Covid-19, mas sobre um universo de infectados muito menor: 182.196. No caso dos alemães, a taxa de recuperação mais que dobra, chegando a 89%.

Foto de ambulância sendo dirigida por uma pessoa
Ambulância circula em meio à pandemia - Rivaldo Gomes/Folhapress

O texto do site Agora Paraná foi verificado porque o Comprova investiga conteúdos sobre o novo coronavírus que tenham grande viralização. Esses conteúdos são relevantes pois se inserem em uma lista de materiais que circulam com o intuito de minimizar a pandemia. O potencial negativo desses conteúdos é significativo, pois eles podem ter como resultado uma desmobilização da sociedade em praticar o isolamento social e adotar medidas de higiene necessários para combater a proliferação do vírus, para o qual não há cura ou vacina.

No Brasil, após o presidente Jair Bolsonaro defender a tese de que a pandemia não é grave e de que a cloroquina é uma alternativa para a doença, páginas conhecidas por apoiá-lo adotaram esse discurso. Nas últimas semanas, o Comprova verificou, por exemplo, conteúdos que levantavam dúvidas sobre o número de mortes por Covid-19 e os registros de óbitos em cartórios.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha e SBT e publicada na segunda-feira (8) pelo projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus. Foi verificada por UOL, Nexo, Jornal do Commercio e Poder360. 

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