Comodidade e preço convencem alunos a manter ginástica virtual após pandemia

Maioria dos paulistanos manteve rotina de exercícios no isolamento social

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Angélica Banhara
São Paulo

Mesmo com parques e academias fechados, a maioria dos paulistanos não abriu mão de se exercitar. De acordo com pesquisa Datafolha sobre os novos hábitos dos moradores da cidade, 61% têm feito atividade física durante a quarentena.

O índice é ainda mais alto entre aqueles com ensino superior (72%) e maior renda familiar, acima dos dez salários mínimos mensais (75%), mostra o levantamento, realizado no início deste mês. Para 16% dos paulistanos, a frequência dos exercícios aumentou. E, para 40%, o tempo dedicado à ginástica será ampliado quando o distanciamento social acabar.

A intérprete Sandra Tenório, 56, fazia musculação e corrida na academia três vezes por semana. Em casa, decidiu experimentar aulas online e acabou escolhendo a ioga, por aliar trabalho com o corpo e a mente.

Ao praticar sozinha, ela se sentiu mais à vontade para experimentar as posições. E, com a praticidade de se exercitar a qualquer hora, não pretende abandonar a ginástica a distância no pós-pandemia.

Essa é uma tendência confirmada pela alta procura por exercícios online. O aplicativo de treinos do grupo Bodytech Company, o BTFIT, teve mais de 500 mil downloads durante a quarentena e soma mais de 4,5 milhões de usuários.

"A pandemia acelerou as tendências do mundo fitness. Não se trata do fim do modelo presencial, mas de uma nova forma de se exercitar. Mais prática, conveniente e econômica", diz Eduardo Netto, diretor técnico da empresa. O aplicativo custa R$ 19,99 por mês.

Diante desse novo cenário e das mudanças no comportamento de consumo, o grupo Bio Ritmo lançou a plataforma digital de treinos Fitplay. O serviço funciona como um streaming de videoaulas e programas de treinamento —de emagrecimento a yoga.

“As pessoas aprenderam a viver uma nova realidade e começaram a ver novas possibilidades de consumo dentro de casa”, afirma André Pezeta, vice-presidente do Grupo Bio Ritmo. O Fitplay está disponível na forma de aplicativo para celular e na versão web. A taxa de adesão custa R$ 29,90 mensais.

A onda virtual atingiu também os negócios segmentados. A marca Superioga lançou em abril um estúdio totalmente digital, com aulas diárias ao vivo e outras 200 gravadas, que podem ser acessadas a qualquer horário. Segundo Paulo Andrade, diretor comercial da empresa, o número de alunos foi de 100 para 500 desde março. O plano anual custa R$ 28,94 por mês.

A educadora física Cau Saad, proprietária do instituto que leva o seu nome, lançou em novembro de 2019 um programa online de exercícios. Com o coronavírus, o serviço virou seu produto principal e soma mais de 200 assinantes.

As aulas são ministradas por Zoom, Skype ou Facetime e duram entre 30 e 40 minutos. Durante a pandemia, Cau fez várias lives abertas pelo Instagram, o que ajudou a atrair novos alunos.

Um deles é o empresário Bruno Santos, 39, que fazia musculação e treino funcional três vezes por semana na academia antes de começar o distanciamento social.

Ele diz ter aprovado o método de aula remota, em que o professor, do outro lado da tela, ajuda-o a fazer as correções necessárias e ainda incentiva o exercício.

Mas Bruno pretende retomar os treinos na academia assim que possível. Sente falta dos equipamentos e do convívio com os colegas.

Cau Saad diz que o mundo virtual é um caminho sem volta para o setor. "Muitas pessoas que estavam paradas passaram a se exercitar ou a se movimentar mais durante a pandemia. Entenderam que, sem movimentar o corpo, a saúde física e mental pode ficar comprometida.”

Segundo a personal, esse é um passo importante para compreender que a importância da atividade física vai além da estética: é um cuidado para o bem-estar e para a qualidade de vida.

E que o exercício pode ser democrático: não existe necessidade de grandes estruturas ou acessórios de última geração. Qualquer pessoa saudável pode praticar.

Mesclar presencial e virtual deve ser realidade dos estúdios nesse novo cenário. Betina Dantas, criadora do método Ballet Fitness e proprietária de um estúdio de mesmo nome na Vila Olímpia, em São Paulo, criou um Instagram fechado (@balletfitnessonline) logo no começo da quarentena.

“A ideia era oferecer aulas virtuais para as alunas do estúdio. Mas comecei a fazer lives abertas com famosas e o número de interessados aumentou. Então comecei a vender planos exclusivos online, e hoje contamos como mais de 100 alunos virtuais”, diz.

Eles têm aulas ao vivo de segunda a sexta, às 18h30, pelo Instagram e essas aulas ficam salvas no IGTV, para serem feitas em outros momentos.

Com as pessoas se exercitando em casa, a busca por aparelhos e acessórios também disparou nos últimos meses. A Movement, maior fabricante de equipamentos fitness do Brasil, registrou aumento de 500% na procura por itens de uso individual, segundo Marco Corradi, gerente de marketing e relacionamento da marca.

Corradi afirma que o momento é de reconfiguração das academias, com o aumento dos acessos digitais a treinos. "Estamos notando a mudança: as academias estão reconfigurando seu modelo para produtos mais enxutos. Há um crescimento dos estúdios e percebemos uma tendência de adaptação das academias para espaços menores e um formato mais otimizado”, conclui.

A executiva e maratonista Sara Velloso, 52, aproveitou a quarentena para realizar o desejo antigo de comprar uma bicicleta ergométrica. Antes do isolamento, Velloso praticava treinos de corrida ao ar livre, musculação e ioga.

O educador físico Marcio Atalla destaca que, mesmo em casa, é importante a orientação de um instrutor.

"A prática de atividade física regular traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental e é fundamental em momentos desafiadores como o que estamos enfrentando agora."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.