Descrição de chapéu drogas

Criadas para burlar a fiscalização, novas drogas sintéticas não têm tratamento padronizado entre médicos

Se sintomas não forem tratados corretamente, podem causar AVC, arritmia fatal e até morte

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Gabriela Bonin Giulia Granchi
São Paulo

A proliferação de novas drogas sintéticas no Brasil, desenvolvidas com misturas de diferentes substâncias psicoativas para evitar a fiscalização, deixa os profissionais da área da saúde em alerta.

Menos estudadas que as drogas tradicionais e com efeitos até cem vezes mais potentes, essas combinações sintéticas podem causar complicações no quadro clínico dos usuários mesmo em doses pequenas.

“Por serem desconhecidas, não há protocolo médico para tratar esses quadros. Quando recebemos um paciente em crise, o que fazemos é ouvir sua história, medir sinais vitais, hidratá-lo com soro na veia e pedir exames como eletrocardiograma e exames de sangue, para uma investigação mais completa. Se ele estiver agitado, também prescrevemos sedativos”, indica Miguel Ângelo de Góes, médico nefrologista do Hospital São Paulo, da Unifesp.

Os sintomas dos usuários geralmente incluem agitação, sudorese profusa, taquicardia, pupila dilatada, aumento da temperatura e pressão elevada —embora muitos sejam jovens—, e o tratamento é guiado a partir do que cada um apresenta.

Se não forem tratados corretamente, os efeitos das drogas podem causar AVC, arritmia fatal, insuficiência renal, alteração na função hepática e até morte.

De acordo com o relatório da Polícia Federal, em 2018, mais de 20% das drogas sintéticas apreendidas eram as chamadas NSPs (Novas Substâncias Psicoativas). A partir da comunicação feita pelos órgãos policiais, o prazo para que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) inclua uma nova droga na lista de proibições varia de 45 a 60 dias.

As catinonas sintéticas representam 66,8% das NSPs apreendidas pela Polícia Federal em 2018, segundo relatório da instituição. Seus efeitos assemelham-se aos da cocaína e da metanfetamina e incluem euforia e agitação, podendo gerar paranoias e comportamento agressivo.

Segundo a psiquiatra Fernanda Ramos, especialista em dependência química, essas drogas, popularmente conhecidas como “sais de banho”, se apresentam frequentemente na forma de pó ou de cristais. Para burlar a fiscalização, são vendidas como fertilizantes de plantas ou produto para limpeza de vidros.

Outra classe que compõe as novas drogas psicoativas é a dos canabinoides sintéticos. Muito populares na Europa, as substâncias eram o segundo maior grupo entre as NSPs no Brasil em 2016, quando totalizavam 19,2% das apreensões. Nos anos seguintes, houve uma diminuição nesse número, possivelmente atribuída à inclusão de diversos canabinoides na lista de substâncias de uso proscrito.

Os canabinoides têm efeitos análogos ao da maconha, mas mais intensos, podendo ser até cem vezes mais potentes. Geralmente, são vendidos junto à erva ou na forma líquida, que pode ser utilizada em cigarros eletrônicos.

Segundo Ramos, a venda pode ser feita na forma de incensos ou odorizadores de ambiente, também buscando enganar a fiscalização. “A ideia é a mesma [das catinonas], potencializar os efeitos de drogas já conhecidas, mas de forma que os órgãos de fiscalização não pudessem fazer nada.”

Outro fator considerado preocupante pela psiquiatra é que muitas pessoas usam essas substâncias sem saber. Apreensões realizadas em São Paulo e em Aracaju detectaram a presença de diferentes substâncias psicoativas, como as catinonas sintéticas, em supostos comprimidos de ecstasy.

Ao precisar de atendimento médico nesse caso, o paciente pode passar informações erradas ao profissional de saúde e o tratamento administrado, que já não segue um protocolo, pode ser inadequado.

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