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Com hospitais particulares em colapso e sistema público pressionado, Belém inicia lockdown

Região metropolitana entra na bandeira vermelha com ocupação total das UTIs de 17 hospitais privados

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Manaus

Com o sistema de saúde privado em colapso e taxa de ocupação nos leitos de UTI da rede estadual em 72%, a região metropolitana de Belém –que engloba outras quatro cidades– entra em lockdown por sete dias a partir das 21h desta segunda (15).

Os 17 hospitais particulares de Belém associados ao Sindicato dos Estabelecimentos de Saúde do Pará operam na capacidade máxima, com os 145 leitos de UTI disponíveis na rede lotados, informou o presidente do sindicato, Breno Monteiro.

Segundo Monteiro, a situação começou a se agravar há cerca de duas semanas.

“Atingimos nossa capacidade de ampliação de vagas e medidas de adiamento de procedimentos que podem esperar foram tomadas, mas não têm sido suficientes. Só há vaga quando alguém recebe alta ou quando alguém vem a falecer”, afirmou.

Belém entra em lockdown às 21h desta segunda-feira (15) - Igor Mota / O Liberal


O presidente da Unimed Belém, que atende 270 mil usuários do plano de saúde na capital paraense, Antonio Travesso, informou que a rede particular está em colapso e que a operadora estuda a abertura de um hospital de campanha nos próximos dias.

“Estamos com todos os nossos leitos praticamente ocupados. Fomos buscar na nossa rede credenciada a abertura de leitos e muitos donos de hospitais, por uma questão de humanidade, têm ampliado, mas há um limite.”

O colapso da rede privada de saúde em Belém está aumentando a pressão sobre o sistema público, que se aproxima de um esgotamento, alertou o governador do Pará, Helder Barbalho, ao justificar a decisão de decretar o lockdown em Belém e outros quatro municípios da região metropolitana –Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara e Benevides.

Na capital, a taxa de ocupação nas unidades municipais de saúde, no último fim de semana, chegou a 110% para leitos de enfermaria e 94% para os leitos de terapia intensiva, segundo a prefeitura de Belém, que chegou a registrar 135 pessoas na fila de espera por leito. Ainda no fim de semana foram abertos novos leitos na capital.

Pacientes com sintomas leves e moderados de Covid-19 buscam atendimento em tendas montadas em Unidades Básicas de Saúde, em Belém - Marco Nascimento / Agencia Pará


“Os planos de saúde já estão fazendo contato com o sistema público para encaminhar seus pacientes. O sistema privado não está dando conta e quem e está garantindo esse atendimento é o sistema público”, disse Barbalho.

Segundo ele, a abertura de novos leitos não está acompanhando a demanda por novas internações. “O que nos leva a crer que, ao tempo que não tiver mais oportunidade de abrir novos leitos, logo, logo estaremos com colapso do sistema de saúde”, afirmou o governador.

“Estamos dialogando com todos os municípios para garantir que todos estejam planejados", acrescentou o governador, que garantiu que o estado se precaveu com relação ao aumento da demanda por oxigênio, para evitar o cenário visto no Amazonas em janeiro.

Barbalho atribui a necessidade do lockdown à ineficácia das medidas adotadas anteriormente na tentativa de frear a contaminação. “Já estamos há mais de 20 dias com medidas restritivas”, justificou.

A prefeitura de Belém informou que adotou medidas como a ampliação de leitos, a contratação de 200 profissionais de saúde de forma emergencial e a abertura de 16 novos postos de atendimento exclusivos para Covid-19 na capital, na tentativa de desafogar os hospitais, mas as ações têm sido insuficientes.

Apenas a região metropolitana entrou na bandeira preta, a mais restrita da classificação epidemiológica de risco. As demais regiões do estado seguem em bandeira vermelha. O Pará tinha, até domingo (14) 385.536 casos confirmados e 9.427 óbitos pelo novo coronavírus. Em todo o estado, a taxa de ocupação dos leitos de UTI é de 81%.

Com a bandeira preta, apenas os serviços essenciais podem permanecer abertos pelos próximos sete dias. A circulação de pessoas só é permitida para quem estiver realizando uma atividade essencial ou quem for trabalhador de empresas desses segmentos. A Polícia Militar deve fiscalizar o cumprimento do decreto.

O médico Wilson Machado, que é diretor de comunicação do sindicato da categoria, alertou para a abertura de novos leitos sem garantir as condições adequadas para os pacientes já internados nas unidades de saúde do estado, onde faltam medicamentos, sedativos para intubação e respiradores. Para ele, é fundamental barrar as novas transmissões tanto na capital quanto no interior.

“A realidade é que aumentaram os casos, como em todo o Brasil. E estamos enfrentando os mesmos problemas da primeira onda da pandemia. Estamos tendo que transferir pacientes para outras unidades onde há respirador disponível”, afirmou.

Das oito regiões de saúde em que o estado é dividido, apenas duas tinham taxa de ocupação das UTIs abaixo de 80% nesta segunda. As regiões que mais preocupam são a do Tapajós, onde a taxa de ocupação da UTI é de 96%, e do Xingu, onde fica o município de Altamira, que está com 95% dos leitos de UTI ocupados.

Na região de Salinópolis (nordeste do estado), onde a prefeitura reabriu o acesso às praias na última quarta (10), 90% dos leitos de UTI estão ocupados.

Segundo o epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana os municípios do interior do estado, que seguem em bandeiramento vermelho, também enfrentam o aumento no número de casos.

“Em Santarém a situação está desfavorável há semanas, com lotação próxima a 96% nos leitos de UTI”, lembrou.

Ele alerta para os riscos da adoção tardia de medidas sanitárias em todo o estado e para a semelhança entre o cenário atual da pandemia no Pará e a situação do Amazonas em dezembro. Menos de um mês depois, o estado entrou em colapso.

“O caso é que a situação não parece desesperadora e, por isso, o governo parece esperar sinais mais fortes de agravamento da epidemia para agir como todo o resto [do país], tardiamente”, avaliou.

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