Metade dos internados com Covid em Araraquara já é de outras cidades

Ocupação de leitos de UTI segue alta, mas pacientes do município têm dado lugar a infectados de outras localidades

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Marcelo Toledo Roberto Schiavon
Ribeirão Preto e Araraquara

Se dois meses atrás Araraquara sofria com 100% de ocupação em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e chegou a enviar pacientes com Covid-19 para hospitais distantes até 389 quilômetros, agora a cidade que se tornou símbolo do avanço da variante brasileira no estado já tem mais da metade dos internados originários de outras localidades.

A cidade segue com altos índices de ocupação em leitos intensivos —92% nesta segunda-feira (19)—, mas, diferentemente do que ocorria em fevereiro, quando decretou lockdown, agora a maioria dos internados são de outras cidades e até mesmo estados.

Dos 167 pacientes internados na cidade nesta segunda, 77 são de Araraquara e 90 são de outras localidades, dos quais 44 estão em leitos de UTI. Se for contabilizado apenas pacientes da cidade, a ocupação de UTIs ficaria abaixo de 50%.

Há infectados com Covid-19 de 26 municípios internados em hospitais da cidade, sendo 33 da vizinha São Carlos, a que mais enviou pacientes para internação em Araraquara.

Um dos pacientes é de São Gabriel do Oeste, em Mat Grosso do Sul, e, nos últimos dias, pessoas do Rio de Janeiro e de Cuiabá já ficaram internadas no município, num cenário contrastante com o período pré-lockdown.

Ao menos 15 moradores de Araraquara foram transferidos para localidades de outras regiões do estado devido à falta de leitos entre fevereiro e início de março.

Cidades como Ilha Solteira —distante 389 km—, Osasco, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Barretos atenderam pacientes de Araraquara em suas redes de saúde quando a circulação da variante P.1 fez explodir os casos, internações e óbitos causados pelo coronavírus.

A cidade chegou a ter 247 internados no final de fevereiro, sendo 38 moradores de outras localidades —com pacientes ocupando leitos de regulação via SUS (Sistema Único de Saúde) ou vinculados a planos de saúde internados em hospitais privados.

Secretária da Saúde de Araraquara, Eliana Honain disse que o lockdown funcionou para a cidade e que foi um “remédio amargo, mas necessário.” “Não dá nem para comparar os cenários de antes e agora”, disse.

No domingo (18), foram confirmados 33 novos casos da doença na cidade, ou 12% das 371 amostras analisadas. Nesta segunda, foram confirmados 4 novos casos da Covid-19 no município, 3,2% dos 124 testes feitos nos serviços públicos de saúde.

​Na semana do lockdown, os positivados somavam cerca de 200, ou 50% dos testes feitos. Isso fez com que, gradativamente, fossem reduzidos os casos de internações em enfermarias e também em UTIs.

Os dados da cidade mostram que, em média, 20% dos casos positivados precisarão de internação em cerca de dez dias e metade desses internados terá necessidade de UTI. Se os casos confirmados desabam, consequentemente ocorrerá efeito cascata nas internações nas semanas seguintes.

Uma das cidades que tem enviado pacientes para Araraquara é Motuca, a 39 quilômetros. “Todos os pacientes que tivemos e temos necessidade de encaminhar vão para a regulação estadual e têm ido para Araraquara. Tivemos casos graves, internações e óbitos devido à variante P.1 [predominante em Araraquara]”, afirmou o secretário da Saúde de Motuca, Marcio Contarim.

Durante o ápice de internações em UTI em Araraquara, Motuca precisou enviar pacientes para São Carlos (77 km) e até mesmo para Ituverava (185 km).

Além de implantar novos leitos e decretar lockdown com severas restrições nos sete primeiros dias, Araraquara apostou em usar um antigo motel como unidade de quarentena (para quem não tem condições de se isolar em casa), uma igreja como extensão da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Xavier e passou a monitorar o esgoto da cidade, para ver em quais regiões a incidência do vírus está maior.

A prefeitura também tem feito uma ofensiva com a implantação de barreiras sanitárias. “Pegamos dezenas de pacientes positivados circulando nas barreiras. Vamos intensificar os pacientes internados em observação, aumentar os internados em alojamentos, quando não conseguem cumprir a quarentena em suas residências e fazer a busca ativa por setor econômico. Com essas medidas vamos construir esse processo de retomada”, afirmou o prefeito Edinho Silva (PT).

Na quinta-feira (15), os bloqueios estavam sendo feitos pela Guarda Civil Municipal e servidores da Secretaria da Saúde na entrada da cidade pela Via Expressa. Estavam sendo testados principalmente motoristas que dirigem veículos com placas de fora da cidade.

“Venho uma vez por mês para Araraquara a trabalho. Nunca tinha feito o teste e achei a iniciativa muito boa. Quanto mais controle, melhor para a segurança de todos”, disse o engenheiro civil Cleomar Moreschi, 41, de Jaú.

Para a estudante Laura Sabattino Ramos, 21, que é de Taquaritinga e cursa economia na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara, a abordagem surgiu em boa hora, já que ela teve contato com pessoas que tiveram a doença.

“Alguns de meus familiares testaram positivo e pessoas que moram comigo na república também. Nunca tive sintomas e já fiz o teste uma vez, mas deu inconclusivo.”

Até sexta-feira, Araraquara registrou 359 mortes provocadas pela Covid-19, 243 das quais a partir de fevereiro. Entre o dia 1º e esta sexta, a cidade teve 21 mortes, ante as 91 registradas no período de 1º a 16 de março.

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