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Vacinas sobram em UBSs de SP, e unidades divergem sobre destinação da xepa

Na ausência dos grupos de risco, prefeitura orienta não desperdiçar as doses e aplicar em qualquer maior de 18 anos

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São Paulo

Dependendo de qual UBS (Unidade Básica de Saúde) da capital paulista você perguntar, vai encontrar uma resposta diferente sobre a xepa da vacina contra a Covid-19 —as doses que sobram no final do dia e precisam ser aplicadas para não serem desperdiçadas.

As unidades criaram listas de espera para a aplicação de doses excedentes para quem mora no entorno, o que provocou uma corrida aos postos, mas também dúvidas, já que a orientação da prefeitura mudou e os enfermeiros ainda divergem sobre quem pode receber o imunizante.

As sobras são residuais e não há uma lista conjunta para todos os postos que deixe claro quantas pessoas ao todos esperam ser chamadas. A falta de padronização de critérios, no entanto, pode deixar para trás pessoas mais vulneráveis à doença e que deveriam ser imunizadas antes de jovens saudáveis pelo critério atual, como quem tem comorbidades que agravam o quadro de Covid.

Tanto CoronaVac quanto a AstraZeneca/Oxford, as duas vacinas disponíveis no Brasil, têm sido distribuídas em frascos com dez doses, que, se abertos, devem ser consumidos em pouco tempo. No caso da primeira, até 8 horas, já a segunda vence em 6 horas.

A reportagem entrou em contato com unidades de todas as zonas da capital. Na Saúde (zona sul), a UBS Neusa Rosália Morales inscreve pessoas de qualquer idade na lista de espera. Mas são três cadernos cheios de nomes —mais de 3.000.

De acordo com a enfermeira da unidade, sobram em média duas doses da vacina no fim da vacinação, às 18h. Eles então ligam para os primeiros nomes da listagem e pedem para que compareçam ao posto em, no máximo, 40 minutos. Nesse ritmo, para todos da lista receberem a imunizante demoraria mais de quatro anos.

Na zona leste, em Guaianases, a UBS Jardim Etelvina agora lista os idosos com mais de 60 anos para receber a dose extra. Mas já chegou a aplicar a vacina em pessoas jovens, com menos de 40 anos, e sem comorbidades, indicadas pelo dono do bar ao lado da unidade —fiéis da igreja tinham preferência.

Outra regra que varia é a idade dos profissionais da saúde que podem ser vacinados na xepa. Na UBS Parque Imperial, no Jabaquara, na zona sul, são os com mais de 50 anos; já na UBS Água Funda, no mesmo bairro, o profissional precisa ter acima de 52 anos.

Na UBS Doutor Manoel Joaquim Pera, na Vila Madalena, na zona oeste, o médico ou enfermeiro pode ter qualquer idade. Já na UBS Vila Dionísia II, em Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, apenas idosos acima de 60 anos podem colocar o nome na espera.

A fisioterapeuta Camila Siqueira conta que foi em uma UBS dez vezes atrás da xepa até conseguir se vacinar. Embora sejam profissionais da área, ela afirma que ouviu várias negativas de imunização por não estar na linha de frente da Covid, não ser médica nem enfermeira e por causa da idade.

"Na capital, só vacinam profissionais de saúde acima de 50 anos, enquanto policiais não tem limite de idade e professores podem com 47 anos. Cadê nossa prioridade? Sou a favor da vacinação de todos", diz ela.

A primeira orientação da prefeitura era usar as doses de sobra em idosos da faixa etária que estão sendo vacinados no momento, em profissionais de saúde e depois em idosos com mais de 60 anos.

Em fevereiro, no entanto, após reportagens mostrarem funcionários das UBSs se organizando em grupos de WhatsApp para redistribuir a vacina e inclusive descarte de doses após não localizarem um idoso na faixa etária autorizada, o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, mudou o posicionamento.

Ele disse que os profissionais da cidade estão autorizados a vacinar qualquer pessoa acima de 18 anos caso não sejam encontrados profissionais de saúde, pessoas mais velhas ou pessoas com comorbidades nas imediações de unidades que registrarem sobra de vacinas. Nenhuma dose de vacina deve ser descartada, embora, em geral, a oferta seja muito menor do que a demanda.

Apesar de o secretário afirmar que havia essa orientação desde o início da vacinação, não há essa informação nas primeiras notas técnicas, de janeiro. Só na do dia 12 de fevereiro que o novo critério é listado.

"No caso do serviço de saúde, no final do expediente de vacinação, encontrar-se com um frasco de vacina aberto para que não haja qualquer desperdício de dose, está autorizada a aplicação a um profissional de saúde, idosos moradores da região da unidade de saúde e, em não havendo essas categorias, partir para pessoas com comorbidades”, diz a nota técnica da secretaria naquela data.

"Se ainda assim, não for possível, a orientação é vacinar qualquer pessoa acima de 18 anos. Importante: não desprezar nenhuma dose viável da vacina."

No dia 5 de abril, o estado de São Paulo começou a vacinar a faixa etária de 68 anos e 185 mil profissionais que integram o público das forças de segurança. Na próxima semana, o cronograma passa a incluir também 350 mil profissionais da educação maiores de 47 anos.

O Núcleo dos Direitos da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência da Defensoria Pública de São Paulo enviou um ofício à prefeitura criticando as listas de espera que estão sendo feitas e cobrando que as doses remanescentes sejam destinadas apenas às pessoas com mais de 60 anos e não para profissionais fora da linha de frente.

"Que as unidades de saúde elaborem listas com usuários elegíveis em sua área de abrangência com telefones para convocação deste público, dando prioridade, dentro dos maiores de 60 anos, para os mais velhos e os com comorbidades de maior risco para covid-19", escreveram os defensores, que ainda não tiveram uma resposta do secretário municipal.

A Defensoria também pede a divulgação de dados de pessoas vacinadas em todas as regiões da cidade por grupos etários e a busca ativa das pessoas idosas que não foram vacinadas.

Já em ofício ao governo do estado, o núcleo questiona o fundamento legal usado para alterar a ordem nacional de vacinação e adiantar as categorias de professores e policiais em São Paulo.

"O requerimento se motiva no receio de maior postergação de vacinação de grupos prioritários e de risco", diz o texto. "Conforme Plano Nacional de Imunizações, a conclusão da vacinação de todas as faixas etárias dos idosos e depois grupos de risco em razão de comorbidades e pessoas com deficiências é anterior ao início de vacinação de outras categorias profissionais."

CRONOGRAMA DE VACINAÇÃO

SÃO PAULO

  • Professores do ensino básico (infantil, fundamental e médio) - a partir de 10 de abril
  • 67 anos - a partir de 13 de abril
  • 65 e 66 anos - a partir de 21 de abril

Categorias e faixas etárias já atendidas até agora

  • Trabalhador de saúde, indígenas e quilombolas - 17 de janeiro
  • Acima de 90 anos - 8 de fevereiro
  • Entre 85 e 89 anos - 12 de fevereiro
  • Entre 80 e 84 anos - 27 de fevereiro
  • Entre 77 e 79 anos - 3 de março
  • Entre 75 e 76 anos - 15 de março
  • Entre 72 e 74 anos - 19 de março
  • Entre 69 e 71 anos - 26 de março
  • 68 anos - a partir de 2 abril
  • 67 anos - a partir de 13 abril
  • Policiais e agentes penitenciários - a partir de 5 de abril
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