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Anvisa autoriza testes clínicos da vacina Butanvac contra Covid

Butantan, no entanto, ainda deve enviar dados extras antes do início dos testes do imunizante, aposta de Doria para a sequência da vacinação no Brasil

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Brasília e São Paulo

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) concedeu nesta quarta (9) a autorização para a realização de testes clínicos (em humanos) da vacina contra Covid Butanvac, em desenvolvimento pelo Instituto Butantan.

Mas, antes de iniciar a vacinação dos voluntários, o Butantan ainda terá que apresentar algumas informações complementares sobre os testes em andamento, que fazem parte da chamada etapa pré-clínica (em animais). "Logo em seguida, o Butantan deve iniciar a aplicação experimental da Butanvac", informou a agência.

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, mostra caixa da Butanvac
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, mostra caixa da Butanvac - Leonardo Benassatto - 26.mar.21/Reuters

A autorização para os testes em humanos foi dada 75 dias depois de a agência ter sido notificada da existência do imunizante e 48 dias após o pedido ter sido formalizado. O anúncio de que o Butantan teria uma vacina própria contra a Covid foi antecipada pela Folha.

O aval se refere às fases 1 e 2 dos testes clínicos da vacina, quando o imunizante começa a ser aplicado em humanos. De acordo com a Anvisa, a pesquisa deve ser dividida em três etapas (A, B e C), que devem envolver ao todo 6.000 voluntários com 18 anos ou mais. Neste momento, segundo a agência, está autorizada a etapa A do estudo, que vai envolver 400 voluntários.

A vacina será aplicada em duas doses, com um intervalo de 28 dias entre elas. O estudo deve ser realizado no Hospital das Clínicas (FMUSP) e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

O plano do Butantan é terminar em um mês as etapas iniciais, que verificam a segurança e a capacidade de gerar resposta imune da vacina, para avançar à fase 3, que avalia eficácia, nos dois meses seguintes.

Com isso, se tudo der certo e na visão expressa pelo diretor do instituto, Dimas Covas, em depoimento na CPI da Covid, o imunizante poderá estar disponível no último trimestre deste ano. A previsão parece otimista, dado que o governo João Doria (PSDB-SP) considerava possível iniciar os testes em abril e ter a vacina em uso já neste mês.

Embora o Butantan tenha anunciado ainda em março que buscaria iniciar os testes da vacina, porém, o protocolo clínico do estudo foi entregue apenas em 23 de abril, quando o pedido passou a valer de fato.

Em seguida, a Anvisa exigiu mais documentos para dar o aval, o que gerou queixas de membros da administração paulista. A agência, porém, alegou que os dados estavam incompletos e não atendiam aos requisitos para essa autorização.

Se por um lado essas idas e vindas nos últimos meses colocaram em dúvida as projeções sobre prazos, por outro conta a favor do plano do Butantan de ter o imunizante ainda neste ano a experiência prévia com outras vacinas contra o Sars-CoV-2, que demoraram até seis meses em suas duas fases iniciais. Segundo Covas, o tempo será poupado agora.

A aposta de Doria e a confiança de Covas no imunizante são claras: já há 7 milhões de doses da Butanvac prontas. Ela já contempla as variantes prevalentes no Brasil.

Até o fim do ano, o número poderia chegar a 40 milhões. Com a capacidade instalada, que usa a linha de produção da vacina sazonal contra gripe, serão inicialmente cerca de 100 milhões de doses anuais.

Nesta semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse à CPI da Covid que o imunizante poderia ser incluído no Programa Nacional de Imunizações assim que disponível.

A vantagem da Butanvac é sua forma de fabricação, que não depende de insumos e aproveita a técnica já usada pela vacina da gripe, na qual o imunizante é elaborado dentro de ovos embrionados.

O Butantan domina a tecnologia e chama a vacina de 100% nacional, apesar da polêmica acerca da sua composição. O instituto participa de um consórcio internacional, ao qual empresta 85% da capacidade produtiva, e usou um vírus inativado e a proteína de ligação de parceiros norte-americanos, conforme a Folha também antecipou.

Na prática, porém, a vacina deve ser feita de forma autônoma pelo Butantan, e é isso o que anima seus desenvolvedores.

A Butanvac usa o vírus da doença de Newcastle —patógeno de uma síndrome respiratória aviária que não causa sintomas em humanos— como vetor viral. Esse vírus é modificado geneticamente para expressar a proteína da espícula do Sars-CoV-2 e poder gerar resposta imunológica no corpo contra o causador da Covid-19.

É a espícula que o vírus usa para se ligar às células humanas e iniciar a infecção. Quando o corpo reconhece a presença dessa proteína, ele começa a produzir as defesas contra o invasor.

O instituto está montando uma fábrica para produzir no Brasil o insumo da Coronavac, vacina chinesa com que o país começou seu programa de vacinação. Hoje, depende de material importado, um processo semelhante ao que ocorre na Fiocruz com o outro fármaco dominante na campanha, da AstraZeneca/Universidade de Oxford.

Covas prevê que a Butanvac será mais eficaz do que a Coronavac. Governadores de estado têm feito gestões junto à Anvisa para tornar mais expedita a tramitação burocrática dos imunizantes.

Há também, obviamente, o escopo político do processo. No governo estadual, a nova vacina já é vista como o passaporte para manter São Paulo na vanguarda do combate à pandemia —de quebra, amparando as pretensões de Doria de disputar a Presidência da República no ano que vem.

Desde 2020 o tucano vive um embate com Bolsonaro, e nunca negou que a vacina é um ativo político também. O espaço para sua candidatura ficou mais apertado com a entrada do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) no jogo.

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