Descrição de chapéu Coronavírus

Vacina contra Covid no braço garante Dia dos Avós às Palmirinhas do Brasil

Imunização completa oferece proteção, mas especialistas recomendam manter o alerta

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São Paulo

Tudo o que Elda Gomes Zambrotti, 78, queria era um abraço da netinha. Ganhou um “aperna”.

“A gente chamou assim porque usamos os braços e abraçamos as pernas da outra. Depois trocamos”, ela explica como fez para rever Letícia Zambrotti Dusilek, 11, a filha de sua filha.

Ainda era o primeiro ano da pandemia de um novo coronavírus particularmente letal para idosos, e com nenhuma vacina à vista.

Nesse reencontro, para diminuir ao máximo os riscos da Covid-19, avó e neta se enfiaram em capas de chuva compradas numas férias na Disney, um modelo transparente com a silhueta do castelo do logo da Disney nas costas. Depois de meses acastelados, ela e o marido preferiram o perigo à saudade, mas com muitas restrições.

Elda, de 78 anos, e sua neta Letícia, de 11, se abraçam num sofá.
Elda, 78, e Letícia, 11, retomaram as "lasanhadas da vovó" depois de a idosa ser vacinada - Lucas Seixas/Folhapress

“Já tínhamos a casa deles. Sem sair do carro, ela e minha filha desceram e conversamos um pouco, sem qualquer toque”, lembra Elda. “Que loucura!”

“Então, começamos a pensar numa forma menos torturante de nos encontrar”, diz. “Assim fizemos: de máscaras, vestimos as capas ao contrário, com o capuz cobrindo o rosto, e nos abraçamos por um bom tempo. Foi emocionante. Tudo isso numa varanda. Hoje, podemos dizer que já tivemos dias piores, não é?”

Dias melhores vieram. Elda faz parte da legião de mulheres que poderá celebrar o Dia dos Avós nesta segunda (26). Muitos idosos já receberam as duas doses de vacina que garantem uma imunidade mais ampla contra a Covid-19, especialmente contra internações e mortes.

Daí a possibilidade de retomar um contato mais próximo com os netos, embora especialistas digam ser necessário continuar alerta contra a Covid, mantendo medidas como o distanciamento, o uso de máscara e a ventilação dos ambientes. Ou seja, mesmo com a imunização completa, o ideal é evitar encontros desnecessários.

A apresentadora Palmira Nery da Silva Onofre, a Palmirinha, 90, está na primeira leva de imunizados. “A primeira dose já foi uma dose de esperança, quando tomei a segunda me senti uma pessoa de muita sorte”, diz a frequentadora do imaginário popular como exemplo de vovó brasileira. “Espero que todos meus amiguinhos e amiguinhas possam ter o mesmo sentimento que o meu.”

Avó de seis e bisavó de outra meia dúzia, ela comemora pequenas conquistas em tempos pandêmicos, como fazer “o bolo de chocolate melecado que eles adoram”, ou “ir ao mercado e feira de vez em quando escolher as frutas e verduras que eu gosto”.

A apresentadora Palmirinha Onofre, 90 - Robson Ventura/Folhapress

Como nenhum imunizante assegura 100% de proteção, o pé ainda está no freio. “Tenho muita saudade de passear no shopping, de encontrar meus fãs pelos restaurantes de São Paulo e poder abraçar, tirar foto. Dá muita saudade, viu?”

Se não fosse a dupla espetada que levou no braço que prepara receitas ensinadas para gerações de brasileiros, como seu famoso bolinho de chuva, Palmirinha provavelmente ainda não teria conhecido a caçula do clã, de três meses de idade. “Um encontro bem emocionante foi poder conhecer de perto minha nova bisnetinha e, inclusive, poder segurá-la no colo. Sou uma bisa muito babona e adoro paparicar.”

O primeiro neto da escritora Isabel Dias, 66, chegou em agosto. Ela tem todo um álbum de fotos dele —a maioria, o print da tela do celular. Videoconferências foram a forma principal de manter contato na pandemia.

Isabel sentia falta sobretudo “daquele cheirinho de bebê que pela internet você não sente”. Em maio, desabafou numa rede social.

“Um ano. Que foram mais do que os 365 dias, talvez um milhão de dias! Sem abraços, com 95% dos dias hibernada. Mas, nesses dias, sozinha e nunca solitária. Com a esperança de um ‘ser humaninho’ crescendo dentro de uma barriga que já esteve dentro da minha. Já foi minha!”

A velocidade com que Nico espichou nessa temporada ainda impressiona a autora de “32 - Um Homem para Cada Ano que Passei com Você”, sobre a busca por 32 homens, um para cada ano que esteve casada com um marido que a traía. “Ele nasce aquele ratinho, cheio de rugas, aí vai vendo o nenê crescendo, crescendo.”

Já sua bebê de 38 anos “se sentiu muito desabrigada” enfurnada num pós-parto atravessado durante a pior crise sanitária em um século, diz. “Quando o nenê nasce, se preocupam com ele, e pouca gente com a mãe. Queria dar esse carinho pra Isabela.” A Covid-19 não deixou, ao menos não presencialmente.

Elda, a avó de Letícia, sofreu com a distância física. Sentiu falta de abraçar, de beijar, de dormir com ela na cama, “fazendo o vovô ir dormir no escritório”, conta. “A escola dela é perto da minha casa, e eu costumava pegá-la três dias na semana.”

O hábito voltou em julho, quando a menina retomou as aulas presenciais. “Só que, agora, de máscaras. O que mudou? Ela ficou mais alta do que eu!”

A altura de Letícia está marcada no azulejo branco da casa, com risquinhos feitos a caneta. Em novembro de 2020, o 1,50m da neta ainda não haviam superado o 1,53m da avó. No dia 5 de julho, última marcação, Letícia contava seis centímetros a mais.

A saudade que só fazia encompridar, pelo menos, deu uma trégua. Letícia lembra que, na primeira reunião depois da pandemia, a avó usava, além das capas de chuva da Disney, uma sacola na mão ("tipo luva") e um óculos escuro. Tudo pela segurança da vovó.

Hoje, é Elda quem se preocupa com a neta. "Daqui a pouco, ela também será vacinada. A Pfizer está vacinando maiores de 12 anos, e ela completa 12 em setembro. Aí, vai ficar melhor ainda!"

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