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Bilinguismo pode ajudar a prevenir demência, sugere estudo

Pesquisadores da Alemanha observaram que quem usa mais de um idioma diariamente pontua mais em testes de aprendizado e memória do que quem fala apenas um

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Jaya Padmanabhan
The New York Times

Falar duas línguas proporciona a invejável capacidade de fazer amigos em lugares inusitados. Um novo estudo sugere que o bilinguismo também pode trazer outro benefício: melhorar a memória na etapa avançada da vida.

Estudando centenas de pacientes idosos, pesquisadores da Alemanha descobriram que aqueles que relataram usar dois idiomas diariamente desde tenra idade pontuaram mais em testes de aprendizado, memória, linguagem e autocontrole do que pacientes que falavam apenas um idioma.

Mapa do córtex cerebral, responsável pelas funções cognitivas avançadas, como pensamento abstrato, linguagem e memória - Matthew F. Glasser, David C. Van Essen/Divulgação via Reuters

As descobertas, publicadas na edição de abril da revista Neurobiology of Aging, somam-se a duas décadas de trabalho sugerindo que o bilinguismo protege contra a demência e o declínio cognitivo em pessoas mais velhas.

"É promissor que eles relatem que o bilinguismo no início da vida e na meia-idade tem um efeito benéfico na saúde cognitiva mais tarde na vida", disse Miguel Arce Rentería, neuropsicólogo da Universidade de Columbia, que não participou do estudo. "Isso se alinharia com a literatura existente."

Nos últimos anos, cientistas obtiveram uma maior compreensão do bilinguismo e do envelhecimento do cérebro, embora nem todas as suas descobertas tenham se alinhado. Alguns descobriram que, se as pessoas que têm fluência em dois idiomas desenvolverem demência, elas a desenvolverão mais tarde do que as pessoas que falam só um idioma. Mas outras pesquisas não mostraram nenhum benefício claro do bilinguismo.

Os neurocientistas levantam a hipótese de que, como as pessoas bilíngues alternam com fluidez entre dois idiomas, elas podem implantar estratégias semelhantes em outras habilidades –como multitarefa, gerenciamento de emoções e autocontrole– que ajudam a retardar a demência numa fase posterior.

O novo estudo testou 746 pessoas com idades entre 59 e 76 anos. Cerca de 40% dos voluntários não apresentavam problemas de memória, enquanto os outros eram pacientes em clínicas de memória e apresentavam confusão ou perda de memória.

Todos foram testados em uma variedade de tarefas de vocabulário, memória, atenção e cálculo. A eles foi solicitado recordar objetos nomeados anteriormente, por exemplo, e soletrar palavras de trás para a frente, seguir comandos de três partes e copiar designs apresentados a eles.

Os voluntários que relataram usar um segundo idioma diariamente entre 13 e 30 anos ou entre 30 e 65 anos tiveram pontuações mais altas em linguagem, memória, foco, atenção e habilidades de tomada de decisão, em comparação com aqueles que não eram bilíngues nessas idades.

Investigar o bilinguismo em diferentes fases da vida é uma abordagem única, disse Boon Lead Tee, neurologista da Universidade da Califórnia em San Francisco, que não participou da pesquisa. Com o tamanho da amostra impressionantemente grande, disse ela, os autores do estudo provavelmente podem gerar outros resultados novos, como se a idade em que uma pessoa adquiriu cada idioma afetou sua cognição mais tarde na vida.

Ela alertou, no entanto, que o estudo se concentrou em apenas um aspecto do bilinguismo: usar dois idiomas todos os dias por longos períodos de tempo. Os efeitos positivos sobre a cognição podem vir a ser causados por outro fator, como a idade em que as duas línguas foram codificadas na memória, ou dados demográficos ou experiências de vida específicas de pessoas que são bilíngues.

Outros especialistas concordaram que os resultados poderiam ter sido diferentes se os pesquisadores tivessem perguntado aos voluntários se eles falavam um segundo idioma uma vez por semana, ou até com menos frequência, em vez de todos os dias.

"Acho que não há uma definição com a qual todos concordem, e acho que nunca haverá, porque ser bilíngue é um espectro completo", disse a doutora Esti Blanco-Elorrieta, pesquisadora de idiomas da Universidade Harvard.

Também é crucial para pesquisas futuras observar os benefícios mais amplos do bilinguismo, disse Blanco-Elorrieta, que fala basco, inglês, alemão e espanhol.

"A vantagem de ser bilíngue não está realmente nesses milissegundos de vantagem que se pode ter numa tarefa cognitiva", disse ela. "Acho que a importância de ser bilíngue é poder se comunicar com duas culturas e duas formas de ver o mundo."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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