Descrição de chapéu Projeto Saúde Pública

Um terço dos paulistas com planos de saúde busca o SUS para internação

Pesquisa feita no estado também mostra procura por consultas e exames; para professor da USP, cenário reflete problemas com setor suplementar

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São Paulo

Mais de um terço (34%) dos moradores do estado de São Paulo com planos de saúde utiliza hospitais públicos quando precisa de internação. Outros 28% também recorrem ao SUS para consultas médicas e 27%, para exames laboratoriais.

Quando o assunto é vacina, quase 9 em cada 10 (87%) usuários da saúde suplementar buscam imunização nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Os resultados são de uma pesquisa online do Instituto Qualibest, encomendada pelo Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo), com 2.013 moradores da capital paulista, interior e litoral. A margem de erro é de 2,23 pontos percentuais para o total da amostra.

Profissional de saúde aplica vacina no braço de homem, que está de lado para ela, segurança a manga da camiseta
Vacinação contra Covid em UBS na Bela Vista, região central de São Paulo - Danilo Verpa - 9.nov.22/Folhapress

A maioria dos entrevistados afirma não possuir plano de saúde (58%), contra 48% dos que dizem ter. Desse total, 64% relatam utilizar as redes pública e privada: 31% somente a pública e 5% apenas a privada.

Segundo o médico Francisco Balestrin, presidente da Sindhosp, é possível que o alto percentual de quem utiliza ambas as redes ocorra em razão do PNI (Programa Nacional de Imunizações), que cobre toda a população brasileira com vacinas para todas as faixas etárias.

"Tem também a ver com a pandemia de Covid-19, já que foi o setor público que forneceu as vacinas", diz.

Entre os entrevistados, 96% dos usuários do SUS e 87% dos que dispõem de planos de saúde afirmam recorrer às UBSs para a imunização. Clínicas e laboratórios particulares são opção para 21% dos que são cobertos por planos de saúde.

Para consultas médicas, 90% das pessoas sem planos recorrem ao SUS. Mas 26% delas também procuram clínicas populares e 14%, médicos particulares. Entre os usuários da saúde suplementar, 28% buscam médicos da rede pública; 89%, profissionais dos planos de saúde; 26%, de clínicas populares; e 25%, médicos privados.

Quando precisam realizar exames, 86% dos que têm plano de saúde procuram os laboratórios credenciados, mas quase 3 em cada 10 (27%) também recorrem a laboratórios públicos. As clínicas com valores mais acessíveis são opção para 28% dos usuários SUS e para 23% dos que têm planos.

Para atendimento hospitalar, 97% dos entrevistados sem planos de saúde recorrem aos hospitais públicos, conveniados ao SUS e às UPAs. Essa é também a opção de 34% dos usuários de planos de saúde, embora a grande maioria use a rede credenciada das operadoras (85%). Hospitais particulares foram citados por 16% dos que têm planos e por 7% dos usuários do SUS.

Na opinião de Balestrin, os dados da utilização do SUS pelas pessoas com planos de saúde deixam claro que o setor privado de saúde precisa, necessariamente, se sentir parte do SUS. "Não tem que ter um sistema de saúde público e outro privado. Tem o financiamento público e privado. Mas é um sistema único de saúde."

Mario Scheffer, professor do departamento de medicina preventiva da USP, afirma que a pessoa com plano vai para o SUS ou paga do próprio bolso para ter acesso a médicos, exames e internações por negativa de cobertura pela operadora ou porque o produto, em geral, um plano de menor preço, não tem na rede conveniada o que ela necessita.

"Essa realidade já aparece também nas pesquisas populacionais do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. O fato é que grande parte das pessoas que têm planos em São Paulo, a maioria ligada ao plano coletivo da empresa em que trabalha, tem contratos com restrições de cobertura e rede prestadora insuficiente ou de pior qualidade."

Scheffer afirma que, com os reajustes "proibitivos" dos planos para indivíduos, famílias e empregadores, há cada vez mais a substituição de um contrato por outro mais barato e de pior cobertura. "São essas pessoas que aparecem nas pesquisas relatando usar cada mais o SUS ou pagando particular, mesmo tendo plano."

A questão do acesso (ou da falta de) é tão importante que, para a maioria dos entrevistados, ela confunde com o próprio conceito de saúde. Para 66%, saúde é ter acesso a um sistema para prevenção, cuidado e tratamento. Segundo a definição da OMS (Organização Mundial da Saúde), saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.

Outros 44% citam que saúde é ter boa alimentação. Atividade física regular e a ausência de doenças aparecem empatadas para 37% dos entrevistados. Um terço (33%) diz que saúde é ter acompanhamento médico frequente e, para 31%, os exames em dia.

De acordo com dados internacionais, 85% das demandas de saúde podem ser resolvidas na atenção primária. As UBSs e o programa ESF (Estratégia Saúde da Família) deveriam ser as portas de acesso, mas os resultados da pesquisa mostram que a maioria dos usuários do SUS (67%) não faz acompanhamento com clínico geral ou equipe de saúde da família.

Entre os que têm plano esse percentual cai para 40%, ou seja, a maioria dos beneficiários da saúde suplementar (60%) afirma fazer esse tipo de acompanhamento. Quem faz aprova o serviço que recebe. O índice de conceito "bom" é praticamente idêntico entre os usuários do SUS (54%) e entre os beneficiários da saúde suplementar (53%).

Para o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, um outro ponto que também chama a atenção na pesquisa é o fato de que maioria da população reconhece a UBS (94% sabem o que é) como porta de entrada do sistema de saúde, sabe qual é a unidade que deve procurar, mas a assistência oferecida na atenção primária é ineficiente.

"As equipes precisam ser capacitadas para que a atenção se torne mais resolutiva e não haja progressão pela busca de serviços mais complexos", disse Paiva à Folha, por mensagem de texto.

A maioria das pessoas relata procurar uma UPA quando precisam de consulta médica. Isso ocorre com 70% das pessoas que possuem planos e com 57% dos usuários do SUS.

Segundo o secretário, outra questão importante levantada pesquisa é a baixa utilização de telemedicina no SUS. Pouco mais da metade (51%) dos que têm planos de saúde já utilizaram essa modalidade de assistência, contra apenas 13% dos que dependem do sistema público. "Se ampliada de forma estruturada e com qualidade, ela representa importante ferramenta de ampliação de acesso", afirma Paiva.

Para Balestrin, no período da pandemia, o setor privado foi mais eficiente do que o público para aumentar o acesso à telemedicina. A pesquisa aponta um índice de aprovação desse tipo de assistência similar entre os dois públicos: 72% entre os que têm planos e 69% entre os que não têm.

O levantamento também expõe as dificuldades de acesso ao SUS: 83% dos entrevistados relatam entraves. As filas de espera foram os principais obstáculos para 54% deles, seguidas do encaminhamento para a realização de exames (38%).

Entre os que precisaram de internação em hospital público, 56% dizem que não encontraram dificuldade. Desse total, 64% são usuários do SUS e 37%, beneficiários do setor suplementar.

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