Descrição de chapéu Interior de São Paulo

Laudo confirma que piloto e moradora de Hortolândia também morreram de febre maculosa

Dentista, de 36 anos, morreu pelo mesmo motivo; doença é transmitida por picada de carrapato

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São Paulo

O Instituto Adolfo Lutz confirmou nesta terça-feira (13) que febre maculosa foi a causa da morte do piloto de automobilismo e empresário Douglas Pereira Costa, 42, morador de Jundiaí (58 km de SP), e de uma mulher de 28 anos, moradora em Hortolândia (109 km de SP).

A informação foi divulgada pela Vigilância Epidemiológica de Jundiaí, que disse ter recebido a confirmação do diagnóstico do instituto ligado ao Governo de São Paulo, no caso do piloto, e da Secretaria Estadual da Saúde.

Na noite desta segunda (12), o órgão estadual já havia confirmado a mesma causa para a morte da namorada de Costa, a dentista Mariana Gioardano, 36.

Douglas Pereira Costa, 42, de Jundiaí (SP), de braços cruzados; ele veste uniforme de piloto de corridas preto e vermelho e usa um boné verde com símbolo da Mercedes-Benz
O piloto Douglas Pereira Costa, 42, de Jundiaí (SP), que morreu no último dia 8, de febre maculosa; ele estava com a namorada, a dentista Mariana Giordano, 36, que também morreu pela doença e no mesmo dia - @srdouglaspc no Facebook

Os três morreram no mesmo dia, na quinta-feira passada (8), e estiveram um evento na Fazenda Santa Margarida, em Joaquim Egídio, bairro de Campinas e local provável da infecção.

As suspeitas iniciais eram de febre maculosa, dengue ou leptospirose.

A Prefeitura de Campinas disse que a fazenda só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação.

O restaurante Seo Rosa, responsável pelo evento na fazenda em Campinas, afirmou que soube da "fatalidade", mas que "não está confirmado que pegaram o carrapato no local".

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida por meio da picada de uma das espécies de carrapato —ou seja, não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa e seus sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças que causam febre alta, diz a Secretaria de Estado da Saúde, em nota.

A doença tem como principais sintomas febre, dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e muscular, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e nas solas dos pés, gangrena nos dedos e orelhas e paralisia dos membros. Pode ser leve ou grave, com alta taxa de letalidade.

No Brasil, o principal vetor é o carrapato-estrela, mas qualquer espécie pode abrigar a bactéria causadora da febre maculosa, como o carrapato do cachorro, segundo o Ministério da Saúde.

A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos adequados.

Ainda segundo a Secretaria da Saúde, com a confirmação da nova vítima, São Paulo conta com cinco mortes provocadas por febre maculosa —de um total de nove casos registrados, todos no interior.

De acordo com a pasta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), na capital paulista e na região metropolitana de São Paulo há pouquíssimos registros da doença, dada a urbanização da área.

No interior do estado, diz o órgão, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba e Assis, e nas áreas mais periféricas da região metropolitana de São Paulo e no litoral, mas em uma versão mais branda.

"Os municípios de Campinas e Piracicaba são, hoje, os dois que apresentam o maior número de casos registrados da doença", afirma.

Em nota, a Prefeitura de Campinas diz que, imediatamente após ser notificado dos casos, nesta segunda, o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) desencadeou uma série de ações de prevenção, informação e mobilização contra a febre maculosa na Fazenda Santa Margarida. O distrito de Joaquim Egídio é mapeado como área de risco para a doença.

Os responsáveis pela fazenda foram notificados sobre a importância da sinalização quanto aos riscos. "Essa informação é imprescindível para que as pessoas adotem comportamentos seguros ao frequentar esses espaços e também para que, após a visita, caso apresentem sinais e sintomas, informe o médico e facilite o diagnóstico" dise a prefeitura.

Nos próximos dias, técnicos do Devisa farão uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos (pesquisa acarológica) no espaço.

A prefeitura afirmou ainda que reforçou as ações de comunicação, informação e mobilização contra a febre maculosa nos parques da cidade.

O QUE É FEBRE MACULOSA?

Doença infecciosa febril aguda transmitida por carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, presente principalmente no carrapato-estrela. Os carrapatos que transmitem a Rickettsia são chamados de Amblyomma cajennense e são encontrados em todo o território nacional. Para que haja a transmissão, o carrapato precisa ficar fixado à pele por pelo menos quatro horas. Não há transmissão de pessoa para pessoa.

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, duas espécies da Rickettsia estão associadas a quadros de febre maculosa: rickettsii, considerada a doença grave, registrada no norte do estado do Paraná e nos estados da Região Sudeste; e a parkeri, que tem sido registrada em ambientes de Mata Atlântica (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará), ligada a quadros clínicos menos graves.

QUAIS OS SINTOMAS?

Os sintomas são, de início, súbitos: febre alta, dor no corpo, na cabeça, prostração, perda do apetite, náuseas, vômitos e aparecimento de manchas avermelhadas principalmente nas mãos e nos pés, do segundo ao quinto dia, que podem evoluir para petéquias (pequenos pontos avermelhados na pele que lembram picada de mosquito) e equimose (manchas roxas). A doença tem formas leves e graves, incluindo a hemorrágica, com evolução para morte. A taxa de letalidade pode ser superior a 50%.

TRATAMENTO

São administrados antibióticos —Tetraciclina e cloranfenicol— que evitam a proliferação de bactérias, contendo o agravamento da doença. A uso da medicação já deve ser feito mesmo antes da confirmação do resultado.

EM QUANTO TEMPO O QUADRO DO PACIENTE EVOLUI PARA A MORTE?

O indivíduo pode evoluir para morte entre o 5º e o 15º dia após o início dos sintomas. Dependerá da agilidade no diagnóstico e início do tratamento. A febre maculosa é de difícil diagnóstico por apresentar sintomas inespecíficos e que se confundem com outras doenças, como leptospirose, zika, dengue e meningite, entre outras.

QUALQUER CARRAPATO PODE TRANSMITIR A FEBRE MACULOSA?

Os principais carrapatos que transmitem a febre maculosa no Brasil são três: Amblyomma cajennense, Amblyomma cooperi (dubitatum) e Amblyomma aureolatum (carrapato amarelo do cão).

No interior de São Paulo, a febre maculosa está associada ao carrapato-estrela que, em geral, ocorre em áreas de mata silvestre e beira de rios. Em geral, homens adultos são mais acometidos, por trabalharem nessas regiões. As ninfas (formas imaturas do carrapato) são os principais estágios evolutivos envolvidos na transmissão e predominam nos meses mais frios.

COMO EVITAR A PICADA DO CARRAPATO?

Quem circula por áreas endêmicas deve usar botas, calças e blusas com manga comprida, cobrindo todo o corpo. É importante evitar locais com mato alto.

HÁ RISCO DE INFECÇÃO EM ÁREAS URBANAS?

Sim. O Amblyomma aureolatum encontrado nos cães estão envolvidos na transmissão da doença nas regiões metropolitanas, principalmente nas cidades do Sudeste e Sul do país, onde ocorre o maior número de casos.

QUAIS AS ÁREAS ENDÊMICAS EM SÃO PAULO?

Jundiaí, Campinas e Piracicaba, em especial.

Fontes: Tania Chaves, infectologista, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará, e Marcelo Simão, infectologista, professor da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Os dois são consultores da Sociedade Brasileira de Infectologia.

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