Entenda o que são doenças crônicas e como reduzir o risco de desenvolvê-las

Enfermidades são a principal causa de morte em todo o mundo e vitimam principalmente populações mais vulneráveis

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Brasília e São Paulo

As DCNT (doenças crônicas não transmissíveis) são condições de longa duração que resultam de uma combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e comportamentais.

A lista é grande, mas pode ser dividida em quatro grupos principais: doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e asma.

Mão branca com um pouco de sangue no dedo indicador e uma aparelho medidor de insulina ao lado.
Paciente faz teste para medir glicemia - Agência Brasil

Trata-se do grupo de enfermidades de maior magnitude no país, atingindo especialmente as populações mais vulneráveis e respondendo por mais da metade dos óbitos —em 2019, 54,7% das mortes no Brasil foram causadas por DCNT, segundo o Ministério da Saúde.

Globalmente, elas também correspondem à principal causa de morte. Em 2019, foram 17,9 milhões de vidas perdidas apenas por doenças cardiovasculares, o equivalente a 32% do total. Dessas, 85% foram relacionadas a ataques cardíacos e derrames.

Quais são os principais fatores de risco?

Os fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis podem ser divididos em modificáveis, metabólicos e ambientais.

A primeira categoria engloba tabagismo, consumo abusivo de álcool, alimentação inadequada e inatividade física. Segundo a OMS, o tabagismo responde por mais de 8 milhões de mortes a cada ano; o excesso de sal na dieta provoca anualmente 1,8 milhão de mortes e a falta de exercício, 830 mil.

As alterações metabólicas, por sua vez, estão associadas à hipertensão, à obesidade, à hiperglicemia (altos níveis de açúcar no sangue) e à hiperlipidemia (altos níveis de gordura na corrente sanguínea). Dessas, a principal é a pressão alta, à qual é atribuída 1 a cada 5 mortes registradas globalmente. No Brasil, aproximadamente 25% da população tem a doença. Na faixa etária entre 30 e 79 anos, são 50,7 milhões de brasileiros vivendo com pressão alta, ou seja, 45%.

"Se as pessoas fazem mais exercícios, se não têm sobrepeso ou obesidade, se mantêm uma dieta com pouquíssimos ultraprocessados, vão controlando os fatores de risco para essas doenças crônicas", diz Rosana Onocko, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Já entre os riscos ambientais, a poluição do ar é o fator mais crítico. Anualmente, ela está relacionada a cerca de 5,7 milhões de mortes por derrame, isquemia cardíaca, DPOC e câncer de pulmão.

"Divulgar informações como sintomas e fatores de risco é importante para, de uma certa forma, alertar a população, educá-la para cuidar da saúde e contribuir com a própria longevidade", avalia Onocko.

Quão frequentes são essas doenças no Brasil?

As DCNT são a principal causa de morte na população entre 30 e 69 anos, e representam anualmente um gasto de cerca de R$ 8,8 bilhões para o SUS (Sistema Único de Saúde).

Apenas em 2019, foram registrados 738.371 óbitos por esse grupo de doenças no país, de acordo com o Ministério da Saúde. Nesse ano, a mortalidade prematura por essas enfermidades foi de 123,1 óbitos por 100 mil habitantes, considerando as doenças cardiovasculares; 108,2 por câncer; 23,3 devido ao diabetes e 19,7 por doenças respiratórias.

E os números estão aumentando. De 2023 a 2025, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima mais de 2 milhões de novos diagnósticos de câncer, cerca de 704 mil casos por ano. No levantamento anterior, que calculou os números do aparecimento da doença entre 2020 e 2022, a taxa era de 625 mil novos casos a cada ano.

Em relação ao diabetes, em 2022, o número de amputações de pernas e pés atingiu o maior nível em dez anos, com uma média de 85 intervenções cirúrgicas por dia. A doença foi responsável por mais da metade desses casos.

A ocorrência das DCNT, porém, não é a mesma em todos os grupos populacionais. "Nos chama muito a atenção o fato de que parte da maior prevalência dessas doenças ocorre entre pretos e pardos", destaca o diretor do departamento de prevenção e promoção de saúde do Ministério da Saúde, Andrey Lemos.

Ele lembra que o avanço de algumas doenças crônicas não transmissíveis está ligado a fatores como trabalho e renda, discrepantes na população. "Quando pensamos em pobreza, sabemos que para muitas famílias vai ser mais barato comprar refrigerante do que o suco da fruta, por exemplo. Essas crianças vão ter mais chance de desenvolver obesidade infantil", afirma ele.

"Achamos que não é possível reduzir a prevalência dessas doenças em alguns grupos sem olhar para as condições de vida."

Qual a perspectiva para os próximos anos?

O plano do governo para o enfrentamento das doenças crônicas prevê, entre outras metas, reduzir em 33% a taxa de mortalidade prematura (de 30 a 69 anos) até 2030. Outros objetivos relacionados a essa faixa etária são a redução da mortalidade por câncer de mama em 10%; diminuir a mortalidade por câncer de colo do útero em 20% e, por câncer do aparelho digestivo, em 10%.

As metas estabelecidas para os fatores de risco até 2030 são: reduzir a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes em 2%; deter o crescimento da obesidade em adultos, aumentar a prática de atividade física no tempo livre em 30%; elevar o consumo de frutas e de hortaliças em 30%; reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados; diminuir em 30% o consumo regular de bebidas adoçadas; reduzir o consumo abusivo de bebidas alcoólicas em 10%; diminuir a prevalência de tabagismo em 40%; e reduzir a mortalidade por DCNT atribuída à poluição atmosférica.

Outro objetivo é atingir 90% de cobertura vacinal contra o HPV, vírus associado a quase todos os casos de câncer de colo do útero e a uma parcela de neoplasias do ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe.

Onocko destaca, contudo, que a resposta às DNCT requer mais do que a redução dos fatores de risco. "O impacto dessas doenças tem muito a ver com o acompanhamento, uma responsabilidade importantíssima da atenção primária", diz. Ela lembra, por exemplo, que em algumas regiões a população não tem acesso a consultas e exames na frequência desejável.

Além disso, a professora destaca o vínculo entre doenças crônicas e saúde mental, que requer políticas públicas para além da saúde, como incentivo à cultura, aumento da segurança e melhoria nas relações de trabalho.

Segundo Lemos, o Ministério da Saúde tem avaliado medidas para aumentar a atenção a pessoas com doenças crônicas não transmissíveis por meio do acompanhamento com equipes de saúde da família e pela contratação de profissionais tanto pelo programa Mais Médicos quanto por editais específicos para a atenção básica.

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