Descrição de chapéu The New York Times

Mulheres podem enfrentar maior risco de AVC após tratamento para infertilidade

O estudo analisou os resultados de 31 milhões de pacientes que tiveram parto hospitalar em 28 estados americanos entre 2010 e 2018, incluindo 287,8 mil que fizeram tratamentos de infertilidade

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

As mulheres que engravidaram depois de fazerem tratamento para infertilidade tinham maior probabilidade de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) no ano seguinte ao parto, quando comparadas com mulheres que conceberam naturalmente, informaram cientistas na quarta-feira (30), segundo o maior estudo desse tipo.

O risco de AVC era elevado nos primeiros 30 dias após o parto entre as mulheres que foram submetidas a tratamentos, e as probabilidades continuaram aumentando durante o ano após o parto. Mas os números absolutos permaneceram muito baixos, enfatizaram os pesquisadores: apenas 37 hospitalizações por AVC para cada 100 mil mulheres submetidas a tratamento.

Não há necessidade de alarme, disse o autor principal em entrevista. Mas as mulheres que procuram tratamento devem ser informadas sobre a possível ligação.

Mulher deitada ou sentada e tocando a barriga com os dedos da mão
Tratamentos de infertilidade podem trazer mudanças fisiológicas; grandes quantidades de estrogênio, por exemplo, aumentam a coagulação do sangue, um forte fator de risco para AVC - fotoduets - stock.adobe.com

Por que é importante?

Os Estados Unidos têm a maior taxa de mortalidade materna do mundo desenvolvido. Os acidentes vasculares cerebrais são responsáveis por cerca de 7,5% das mortes relacionadas à gravidez.

Ao mesmo tempo, o uso da tecnologia de reprodução assistida aumentou drasticamente nos últimos dez anos. Cerca de 2% dos nascimentos nos Estados Unidos envolvem algum tipo de tratamento de infertilidade, segundo o jornal.

No novo estudo, os pesquisadores definiram essas medidas para incluir inseminação intrauterina, tecnologia de reprodução assistida, utilização de um substituto e procedimentos de preservação da fertilidade.

Embora os tratamentos de infertilidade sejam geralmente seguros, alguns estudos os associaram a maiores riscos durante a gravidez, incluindo taxas mais altas de pré-eclâmpsia —uma complicação potencialmente mortal que envolve pressão arterial extremamente elevada—, bem como anomalias placentárias e parto prematuro.

Pano de fundo

Estudos anteriores sobre acidente vascular cerebral após tratamentos para infertilidade produziram resultados mistos. Acredita-se que o novo estudo, publicado na JAMA Network, seja o maior a examinar o risco de hospitalização por AVC entre essas mulheres.

Foram analisados os resultados de saúde de 31 milhões de pacientes que tiveram parto hospitalar em 28 estados americanos entre 2010 e 2018, incluindo 287.813 que foram submetidas a tratamentos de infertilidade.

O risco de AVC hemorrágico —sangramento no cérebro— foi duas vezes maior entre as mulheres que foram submetidas a esses tratamentos, em comparação com as que não os fizeram, descobriu o estudo.

A probabilidade de um AVC isquêmico, que ocorre quando o fornecimento de sangue ao cérebro é interrompido, foi 55% maior, em comparação com as mulheres que conceberam naturalmente. Esses resultados não são a palavra final sobre o assunto, no entanto.

Há poucas semanas, a revista JAMA Cardiology publicou um estudo que examinou os resultados de saúde em longo prazo de mulheres em quatro países escandinavos que tinham recebido tratamentos de infertilidade, e não encontrou evidências de um risco aumentado de doenças cardiovasculares. Esse estudo foi muito menor, porém, incluindo apenas 2,4 milhões de mulheres.

A nova pesquisa não incluiu dados sobre fatores de risco importantes para acidente vascular cerebral, como tabagismo, índice de massa corporal e hipertensão arterial.

Os cientistas tomaram medidas para levar em conta os dados não computados, e ainda assim encontraram um risco elevado, disse o principal autor do artigo, doutor Cande V. Ananth, chefe de epidemiologia e bioestatística da Escola de Medicina Robert Wood Johnson, em Nova Jersey.

O próximo passo

Numa entrevista, Ananth descreveu três explicações possíveis para uma ligação entre o AVC e o tratamento de infertilidade.

"Sabemos que as mulheres que recebem tratamento para infertilidade apresentam certas complicações vasculares, normalmente um risco aumentado de pré-eclâmpsia e descolamento prematuro da placenta", disse ele.

Em segundo lugar, os tratamentos de infertilidade podem causar alterações fisiológicas, disse ele. As pacientes recebem frequentemente grande quantidade de estrogênio, por exemplo, o que pode levar ao aumento da coagulação sanguínea, um forte fator de risco para AVC, disse ele.

Em terceiro, acrescentou, "as pessoas que recebem o tratamento o recebem por uma razão. Talvez existam características biológicas diferentes" entre as mulheres que procuram tratamento, disse ele.

Ainda assim, o AVC continua sendo muito pouco frequente entre as mulheres após o parto, quer tenham recebido tratamento ou não, disse Ananth. "As pacientes devem estar cientes dos riscos iminentes e ser aconselhadas adequadamente", disse ele.

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