Diabetes gestacional desaparece depois do parto? Leia perguntas e respostas

Doença cresce com obesidade, mas diagnóstico pode ocorrer mesmo mulheres sem esse fator de risco

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Belo Horizonte

Com prevalência considerada alta no Brasil, o diabetes gestacional é marcado por um aumento nos níveis de açúcar no sangue observado pela primeira vez durante a gravidez, o que exige cuidados.

Embora seja uma condição temporária para boa parte das mulheres, o diagnóstico traz um alerta sobre a necessidade de manter hábitos saudáveis e acompanhamento mesmo após o parto, segundo apontam especialistas da área ouvidos pela Folha.

Mão branca com um pouco de sangue no dedo indicador e uma aparelho medidor de insulina ao lado
O Brasil é o 5º país do mundo com maior incidência de diabetes, segundo o IDF Diabetes Atlas - Agência Brasil


Isso ocorre porque o diabetes gestacional é atualmente um dos fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 após o parto. O diagnóstico na gestação também traz alerta para o risco maior de doenças cardiovasculares.

Atualmente, a estimativa é que a doença atinja 18% das gestações, um percentual que cresceu nos últimos anos devido a mudanças nos critérios de diagnóstico e outros fatores externos, como o aumento da obesidade no país.

Veja abaixo perguntas e respostas sobre diabetes gestacional:

O que é diabetes gestacional?

Um dos tipos de diabetes, o diabetes gestacional é uma doença em que há aumento na taxa de açúcar no sangue durante a gravidez. Isso ocorre por uma resistência maior do organismo à insulina, hormônio que controla esse nível de açúcar no sangue. Essa alteração geralmente desaparece após o nascimento do bebê, mas exige cuidados durante a gestação e também acompanhamento após o parto.

Como é feito o diagnóstico?

Em geral, o diagnóstico de diabetes gestacional é mais frequente a partir do segundo trimestre de gestação. O rastreamento, no entanto, começa mais cedo. Atualmente, as diretrizes nacionais orientam pedido de exame já na primeira consulta de pré-natal. Neste caso, a análise é feita por meio da glicemia em jejum, analisada por exame de sangue. Se os valores ficarem acima de 92 mg/dL, o quadro é considerado como de diabetes gestacional. Já caso os valores fiquem acima de 126 mg/dL, é considerado como de diabetes possivelmente prévio à gestação (ou seja, diabetes que não tinha sido diagnosticado).

O rastreamento também ocorre em outros momentos. O mais comum é entre 24 e 28 semanas de gravidez, quando há recomendação de que gestantes que não tenham sido diagnosticadas no primeiro trimestre façam um teste de tolerância oral à glicose (ou TOTG, pela sigla). O exame é marcado pela ingestão de um líquido com 75 g de glicose. Antes e depois desse momento, em que há uma sobrecarga de glicose, é feito um acompanhamento da glicemia. Caso os valores fiquem acima de 92 mg/dL em jejum, de 180 mg/dL após uma hora e de 153 mg/dL até duas horas depois, há o diagnóstico de diabetes gestacional.

Em cidades onde não houver a oferta de TOTG, a indicação é que seja feita uma nova glicemia em jejum, a qual pode ser atrelada a outras verificações, caso necessário.

Vale destacar que o valor considerado para diagnóstico de diabetes gestacional é menor do que o usado para diabetes em geral, fora da gestação. Segundo especialistas, isso ocorre devido às características da gravidez e após estudos que mostraram maior risco de desfechos negativos em quem tinha esses parâmetros —o que levou a uma mudança nos critérios de diagnóstico adotados no Brasil em 2017.

"Isso significa que vamos ter hoje um número maior de mulheres com alterações do que anos atrás, porque antes o ponto de corte era igual do adulto normal", afirma Belmiro Gonçalves Pereira, da Febrasgo.

Há fatores de risco para o diabetes gestacional?

Segundo Lenita Zajdenverg, coordenadora do serviço de diabetes e gravidez da maternidade-escola da UFRJ, estudos mostram que o diabetes gestacional pode afetar qualquer gestante —daí a recomendação de que seja feito o rastreamento universal, com indicação de exames a todas as mulheres nesse período. "Mas há mulheres que têm mais chance de desenvolver excesso de glicose e diabetes na gestação, e os fatores de risco para isso são parecidos com os fatores do diabetes tipo 2: obesidade, excesso de peso, histórico familiar de parentes com diabetes tipo 2, mulheres que engravidam em idade avançada, que têm histórico de síndrome de ovário policístico, que têm hipertensão, que façam uso crônico de determinados medicamentos que aumentam a glicose e aquelas com sedentarismo. Outro fator de risco é a gemelaridade [mulheres que estão grávidas de gêmeos]", explica.

Como é o tratamento?

Há alguns pilares principais de tratamento. O primeiro é uma mudança na alimentação, com recomendação de maior controle na ingestão de açúcares, carboidratos e gorduras, por exemplo. Um segundo pilar é o da prática de atividade física (nos casos em que não há essa contraindicação).

Em nenhum dos casos, no entanto, deve haver exageros, segundo especialistas. "A gestação não é o momento de perda de peso. Então, o ideal é que se passe por uma nutricionista para orientação da dieta para cada trimestre, baseado no seu IMC [índice de massa corporal] e semana de gravidez", afirma Patrícia Dualib, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

"Outra coisa importante são as glicemias capilares, que é aquela que faz na ponta do dedo. Onde tem viabilidade financeira de tratamento, a ideia é que se faça todo dia, quatro vezes ao dia, no jejum e 1h após café, almoço e jantar. E onde não tenha viabilidade financeira, que faça pelo menos três vezes por semana, sendo duas vezes durante a semana e em um dia do final da semana", explica a médica.

Em geral, 70% das gestantes têm boa resposta nas taxas de glicemia apenas com mudanças na alimentação e atividade física. Para as demais, em que há maior dificuldade de controle (verificado por meio da glicemia na ponta do dedo), a orientação é que seja feito tratamento preferencialmente com uso de insulina, considerada segura para o bebê. Em outros casos mais específicos (como de mulheres que residem em lugares onde há dificuldade no armazenamento de insulina, entre outros exemplos), há indicação de uso de metformina.

Diabetes gestacional traz riscos? Quais?

A adesão ao tratamento é fundamental para prevenir os riscos do diabetes gestacional. "Se conseguirem ter cuidados, podem ter uma vida absolutamente normal e gravidez sadia", afirma Pereira, da Febrasgo.
Os riscos do diabetes gestacional variam para mãe e bebê.

"Há os riscos para o bebê, que tende a nascer maior, e esse maior peso tende a ser gordura. E de precisar de cesárea ou de parto mais cedo. Também pode ter uma tendência de ter hipoglicemia logo que nasce", afirma Maria Inês Schmidt, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS.

Já para a mãe, o risco é maior de desenvolver quadros de hipertensão e pré-eclâmpsia, "além do risco de desenvolver diabetes e doenças cardiovasculares no futuro", completa Schmidt.

Diabetes gestacional desaparece depois do parto?

Em geral, as taxas de alteração na glicemia tendem a voltar ao normal no pós-parto para boa parte das mulheres. Novos exames e acompanhamento, no entanto, continuam a ser indicados. Atualmente, a recomendação é que seja feito novo exame de reclassificação do diagnóstico seis semanas após o parto, por meio de um novo exame de tolerância à glicose, tido como padrão-ouro para diagnóstico.

Caso os valores fiquem igual ou acima de 126 mg/dL em jejum ou igual ou acima de 200 mg/dL após duas horas, há o diagnóstico de diabetes. Para valores acima de 100 mg/dL em jejum, é considerada como glicemia alterada. Segundo Schmidt, o risco de alterações ou diabetes é maior para aquelas que tiveram diagnóstico logo no primeiro trimestre ou precisaram de insulina para controle na gravidez.

Após esse período, para aquelas sem alterações nesse primeiro exame, o recomendado é que seja feita medição da glicemia ao menos uma vez ao ano. Cuidados com a alimentação e prática de atividades físicas também são indicados. "Estudos mostram que fazer uma intervenção de estilo de vida ajuda a prevenir o diabetes", completa Schmidt.

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