Descrição de chapéu Projeto Saúde Pública

Ministério da Saúde suspende nota sobre aborto legal após pressão de bolsonaristas

Texto afirmava que legislação não prevê limite de tempo gestacional para aborto legal

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Brasília

O Ministério da Saúde suspendeu nesta quinta-feira (29) os efeitos de uma nota técnica sobre procedimentos de aborto legal, ou seja, em casos previstos na legislação, após pressão de bolsonarista.

Em nota, a pasta afirmou que o documento ainda não foi avaliado por "todas as esferas necessárias" e pela consultoria jurídica da pasta. "Portanto, está suspenso."

Prédio cinza com os dizeres "Ministério da Saúde" colados na parede lateral
Fachada do Ministério da Saúde, em Brasília - Roque de Sá/Agência Senado

A nota técnica afirmava, entre outros pontos, que a legislação não prevê limite de tempo gestacional para os casos em que não há outro meio de salvar a vida da gestante, além de gravidez resultante de estupro e de gestação de fetos anencéfalos.

"Destarte, se o legislador brasileiro ao permitir o aborto, nas hipóteses descritas no artigo 128 [do Código Penal] não impôs qualquer limite temporal para a sua realização, não cabe aos serviços de saúde limitar a interpretação desse direito, especialmente quando a própria literatura e ciência internacional não estabelecem limite", disse a nota.

Após a página da Gazeta do Povo publicar texto sobre a nota técnica, parlamentares bolsonaristas passaram a pressionar o governo federal. Nas redes sociais, a senadora Damares Alves (Republicanos -DF) disse que sua equipe estudava medidas "jurídicas e legislativas" contra o texto.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) tratou da nota em reunião com a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Em publicação nas redes sociais, Lira afirmou que há "necessidade de uma discussão maior com a sociedade" sobre o tema.

A nota técnica também anularia um documento elaborado em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), que previa a realização do aborto somente até a 21 semanas e 6 dias de gestão.

À época em que o documento da gestão Bolsonaro foi lançado, a Anis (Instituto de Bioética) afirmou que a lei brasileira não determina "qualquer limitação de idade gestacional à realização do aborto legal".

"Assim, o Ministério da Saúde não pode limitar o que a lei não restringe, sob pena de gerar omissão de socorro para mulheres e meninas", afirma o mesmo documento da Anis.

Em nota, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse que soube da existência da nota técnica nesta quinta-feira (29), durante viagem a Boa Vista (RR). A pasta também disse que a ministra irá tratar do tema do aborto legal em diálogo com a AGU (Advocacia-Geral da União) em discussão que ocorre no STF (Supremo Tribunal Federal).

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