Vacina para câncer de pâncreas tem bons resultados em fase inicial de teste nos EUA

Estudo acompanhou por três anos pacientes com tumor pancreático e encontrou resposta imune potente

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São Paulo

Uma candidata à vacina para câncer de pâncreas apresentou bons resultados na primeira fase de teste em humanos nos Estados Unidos, segundo divulgaram os pesquisadores neste domingo (7).

A vacina, produzida a partir da tecnologia de mRNA, a mesma empregada para a Covid, induziu resposta imune de células de defesa responsáveis por buscar e atacar o tumor pancreático por um período de até três anos após a imunização.

Uma micrografia eletrônica de varredura colorida de células cancerosas do pâncreas
Uma micrografia eletrônica de varredura colorida de células cancerígenas no pâncreas - Steve Gschmeissner/Science Source

Os dados do ensaio clínico de fase 1 conduzido no Centro de Câncer Sloan Kettering Memorial, em Nova York, foram apresentados durante o encontro anual da Associação Americana para Pesquisa em Câncer, em San Diego (Califórnia).

Segundo Vinod Balachandran, médico-cirurgião que liderou a pesquisa no centro, ele e a equipe estão pesquisando uma vacina contra o câncer desde meados de 2015.

No estudo, foram incluídos 16 pacientes com adenocarcinoma do ducto pancreático, um tipo agressivo de tumor do pâncreas, que já haviam sido analisados com 1,5 ano de acompanhamento pós-vacina.

A vacina foi feita pela BioNTech, a mesma empresa que desenvolveu a vacina contra a Covid, utilizando o RNA mensageiro com informações retiradas dos tumores dos participantes. Essas informações apontam para o sistema imune o alvo para ataque.

Funciona assim: o RNA mensageiro é uma molécula composta por uma sequência do código genético que traduz uma proteína, a ser produzida no nosso organismo. Essa proteína contém a fórmula de uma proteína do invasor, no caso, moléculas encontradas na superfície de vírus, bactérias ou tumores, conhecidas como antígenos.

Os cientistas pegaram essa informação dos tumores pancreáticos individuais de cada paciente e desenvolveram um chamado neoantígeno —contendo apenas a informação necessária para as células de defesa reconhecerem aquele corpo estranho e atacá-lo. Cada vacina foi feita de forma personalizada para, em contato com o organismo, os anticorpos identificarem o antígeno verdadeiro, ou seja, o tumor.

Inicialmente, a resposta imune teve sucesso em metade deles, ou seja, em oito pacientes. Nos demais, houve recidiva do câncer em cerca de 13 meses. Naqueles imunizados, as células de defesa impediram o crescimento de células cancerígenas por 18 meses.

Na nova análise, realizada três anos depois, os dados apontaram que 98% das células de defesa capazes de reconhecer e atacar o tumor foram produzidas após a vacinação, o que indica o sucesso do imunizante em estimular uma resposta imunológica duradoura.

Além disso, em 6 dos 8 pacientes imunizados, foram encontradas células de defesa do tipo linfócito T CD8+, responsáveis por atacar as células cancerígenas, além de interferons. Estes últimos são proteínas liberadas pelos linfócitos que sinalizam para outras células de defesa o corpo estranho e ajudam a combatê-lo.

A resposta imune ajudou a impedir a chamada recidiva do tumor, que pode acontecer em pacientes em tratamento por um período de até cinco anos. "Atualmente, estamos focados em testar esta vacina em pacientes com câncer de pâncreas que são elegíveis para cirurgia", afirma Balachandran.

Segundo os autores, é provável que o prolongamento da proteção —indicado pela demora em terem a recidiva— seja um efeito esperado da vacinação, mas novos estudos de fase 2 vão ajudar a demonstrar a eficácia e segurança da vacina. "Um estudo de fase 2 em andamento avaliará a eficácia e segurança da vacina em comparação com o tratamento padrão quimioterápico. A abordagem visa reduzir o risco de recorrência de câncer pancreático após a remoção do tumor por cirurgia", disse o médico.

Há mais de 30 anos, pesquisadores vêm estudando formas de desenvolver vacinas contra o câncer. Até então, a maior dificuldade era conseguir fazer com que o nosso organismo não reconhecesse a molécula de RNA das vacinas como um corpo estranho, atacando-o, mas sim como um código genético para produzir anticorpos de defesa. Essa última etapa das pesquisas avançou nos últimos anos, mas atingiu seu ápice na pandemia, o que possibilitou o desenvolvimento em tempo recorde dos primeiros imunizantes contra o coronavírus.

Por essa razão, a bioquímica húngara Katalin Karikó e o médico americano Drew Weissman foram laureados, em 2023, com o prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia pela descoberta desta plataforma.

Com as descobertas, o interesse por essa tecnologia começou a aumentar e, em 2010, várias empresas já trabalhavam no desenvolvimento de vacinas em que o RNA mensageiro produzido artificialmente fornecia as instruções para a construção de estruturas semelhantes às de agentes invasores (antígenos), levando à produção de anticorpos.

A equipe do Sloan Kettering Memorial espera agora resultados do estudo em fase 2 já em andamento, com 260 pacientes em todo o mundo. O ensaio clínico de fase 1 teve apoio da imCore, Genentech (do Grupo Roche), BioNTech, Stand Up to Cancer, Lustgarten Foundation e Instituto Nacional do Câncer.

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