Descrição de chapéu Dias Melhores câncer

Pesquisa identifica bactérias em tumor de pâncreas que podem ajudar em diagnóstico

Identificação de microrganismos associados às células tumorais possibilita apontar novos alvos para tratamento

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São Paulo

Pesquisadores do Instituto Rutgers para Câncer, de Nova Jersey (EUA) desenvolveram uma ferramenta capaz de mapear a microbiota encontrada em um tipo de câncer de pâncreas, o adenocarcinoma do duto do pâncreas (PDA, na sigla em inglês), para avaliar se o tumor é maligno ou não. A pesquisa foi publicada na última segunda (10) na revista especializada Cancer Cell.

O câncer de pâncreas é considerado a quarta causa de morte por câncer tanto em homens quanto em mulheres nos Estados Unidos. No Brasil, apesar de só responder a cerca de 2% do total de casos de câncer, o tipo adenocarcinoma no órgão é o mais comum (cerca de 90% dos diagnósticos) e tem letalidade alta, segundo dados do Ministério da Saúde.

Uma micrografia eletrônica de varredura colorida de células cancerosas do pâncreas
Uma micrografia eletrônica de varredura colorida de células cancerígenas no pâncreas - Steve Gschmeissner/Science Source

Para investigar quais os microrganismos vivendo em conjunto com o câncer pancreático, os cientistas sequenciaram o DNA presente nas células tumorais e isolaram o DNA humano (que representa o hospedeiro) daquele da chamada microbiota, conjunto de microrganismos que habitam o órgão.

A partir das sequências de material genético "limpas", isto é, sem outros componentes que pudessem atrapalhar na leitura, os pesquisadores observaram a frequência desses fragmentos de DNA bacterial em 55 amostras de adenocarcinoma obtidos de dois grupos bem estudados de pacientes oncológicos nos Estados Unidos.

Fizeram parte da amostra 41 pacientes com tumores malignos e 14 que possuíam a forma benigna e tiveram os tumores removidos por cirurgia.

Usando um programa de computador para mapear se os conjuntos de células e a presença das sequências de DNA da microbiota "davam match", os cientistas observaram que em 48 das 55 amostras (87%) tiveram resultado positivo para material genético bacteriano, que incluíam pelo menos 19 gêneros distintos de bactérias.

Porém, embora essas bactérias estivessem presentes na maioria das amostras, 18 tipos foram encontrados em células das amostras de tumor maligno e apenas um tipo estava presente no tumor benigno.

MicroRNA que, quando superexpresso, reduz o tumor e bloqueia o processo de metástase
MicroRNA que, quando superexpresso, reduz o tumor e bloqueia o processo de metástase - Wellcome Collection

Em seguida, os pesquisadores colheram amostras de 13 indivíduos saudáveis (sem histórico de câncer) e procuraram material genético de bactérias associado às células pancreáticas, mas não obtiveram nenhum resultado positivo.

Na análise, não é possível saber se a presença das bactérias está associada com algum tipo de interação entre o tumor pancreático e esses microrganismos, ou se a presença do câncer junto a outras condições de base (doenças gastrointestinais) pode levar ao aparecimento deles. No entanto, outros estudos feitos já demonstraram uma associação entre bactérias e outros microrganismos e células tumorais.

Em resposta à Folha por email, o engenheiro genético e autor sênior do estudo Subhajyoti De disse que não é possível descartar a possibilidade de essas bactérias encontradas serem derivadas de outras doenças, mas que as amostras saudáveis tinham uma quantidade muito reduzida de microrganismos, tornando essa hipótese menos provável.

"Alguns dos microrganismos parecem ter uma afinidade muito forte com as células tumorais, por isso a maioria dos gêneros [18 de 19] apareceu nas amostras de tumores malignos, mas estudos futuros podem ajudar a responder melhor essa questão", disse.

Para ele, a ciência que investiga a associação da microbiota com células tumorais é algo particularmente novo, mas com grande potencial tanto para diagnóstico quanto para tratamento. "A chamada ‘digital’ que esses microrganismos deixam nas células ou na corrente sanguínea pode ser facilmente analisada em amostras de sangue em laboratório, e isso possibilita o diagnóstico e análise da progressão oncológica de forma não invasiva."

Em relação ao tratamento, ainda é cedo para saber se uma terapia com algum antibiótico pode ajudar ou atrapalhar no tratamento do câncer, e até mesmo se essas bactérias se beneficiam do tumor ou são apenas coexistentes. A pesquisa de De e colaboradores, porém, encontrou uma forte associação de células do sistema imune, os chamados linfócitos T, nas células tumorais que possuíam DNA bacteriano.

"Pode ser que essa associação com os linfócitos T esteja indicando uma relação desses microrganismos com os mecanismos de defesa do corpo contra o tumor, mas ainda não há nenhuma descoberta nesse sentido. Há estudos investigando o desfecho clínico de pacientes que são tratados com imunoterápicos associados com antibióticos, mas nada ainda sobre câncer pancreático. Novas pesquisas podem explorar essa janela terapêutica", completa.

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