Descrição de chapéu medicina

Santa Casa de Alfenas (MG) tratará de graça 50 pessoas com a chamada pior dor do mundo

Pacientes que utilizam a saúde suplementar não são elegíveis para o tratamento; seleção será na próxima semana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Santa Casa de Alfenas (MG) tratará de graça 50 pessoas com neuralgia do trigêmeo, um distúrbio que provoca uma dor intensa na região do rosto, por onde passa o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face. É considerada pela medicina como a pior dor do mundo.

Interessados devem enviar uma mensagem para o email solidariedade@santacasaalfenas.com.br com cópias de documento de identidade, comprovante de endereço, cartão SUS, laudo médico e exames recentes para comprovação da condição clínica e um relatório assinado por assistente social para comprovar a situação econômica.

O secretário municipal de saúde do município de origem deverá dar ao paciente uma carta se comprometendo a fornecer transporte, hospedagens e outras despesas não médicas na cidade de Alfenas.

A seleção, que acontecerá na próxima semana, vai obedecer critérios clínicos e sociais como idade, tempo de doença, intensidade dos sintomas, condição clínica geral do paciente e vulnerabilidade econômica.

Qualquer pessoa pode se inscrever, exceto as que possuem seguro ou plano de saúde.

Mulher jovem e branca de cabelo liso castanho com tatuagem no pescoço
Carolina Arruda, 27, sofre com neuralgia do trigêmeo há 11 anos e está em tratamento na Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais - Reprodução/Carolina Arruda no Instagram

Segundo Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas e presidente da Sbed (Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor), os pacientes mais carentes, com maior gravidade e os que não responderam a medicações contra a neuralgia terão prioridade.

A expectativa é atender todos os selecionados até 31 de dezembro.

Com início em agosto, o tratamento será adotado de acordo com cada caso. O planejamento inclui a microcompressão por balão ou a radiofrequência. Na primeira técnica, é colocado um balão onde o trigêmeo sai do crânio. Ao insuflá-lo, o nervo é comprimido, levando ao alívio da dor.

Na segunda, o balão é substituído por um eletrodo de radiofrequência. "A radiofrequência 'queima' o nervo, reduzindo sua funcionalidade", explica o médico.

O custo de cada tratamento é estimado em R$ 15 mil a R$ 20 mil, a depender do hospital, dos equipamentos e da cotação do dólar.

Carlos Marcelo de Barros é o responsável pelo caso da estudante de veterinária Carolina Arruda, 27, que convive com a neuralgia do trigêmeo há 11 anos. Ela foi beneficiada com a gratuidade no tratamento, previsto para durar meses. Internada desde 8 de julho na Santa Casa de Alfenas, Carolina permaneceu sedada por cinco dias na UTI para proporcionar ao cérebro um descanso das dores. Ela já retornou ao quarto.

A internação e os serviços hospitalares serão cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e as despesas restantes ficarão a cargo da instituição. A equipe médica envolvida direta e indiretamente não receberá
honorários.

"O caso da Carolina é uma exceção, mais grave e altamente refratário. O tratamento dela, se fosse ser feito pelo preço normal, ficaria em uns 400 mil reais."

"É preciso entender que a Carolina é uma exceção dentro desse processo. A maioria absoluta melhora com remédio e alguns precisam do balão da radiofrequência. Poucos não melhoram com isso. A Carolina tem uma alteração anatômica na artéria cerebelar superior. Ela comprime os dois nervos trigêmeos e isso foi evidenciado na nossa ressonância. Por isso que ela tem a trigeminalgia bilateral", explica Barros.

Por não ter mais qualidade de vida e nem suportar a dor, a mineira de Bambuí estava decidida a ir à Suíça em busca da eutanásia — lá a prática é permitida por lei, ao contrário do Brasil. A vaquinha online criada na internet em 1º de julho havia arrecadado mais de R$ 134 mil até esta terça-feira (16). O objetivo da estudante era chegar a R$ 150 mil.

O médico Carlos Marcelo de Barros e outros cinco especialistas de Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Colatina (ES) discutiram e elaboraram a proposta terapêutica para o caso da estudante. A previsão é que o tratamento comece em 27 de julho.

O primeiro procedimento será o implante de neuroestimuladores na medula espinhal e no gânglio de gasser (origem facial do nervo trigêmeo), a ser realizado após a confirmação com um bloqueio teste (injeção de pequena quantidade de anestésico local próximo ao nervo para confirmação da origem da dor). A depender da resposta se discutirá com a paciente a decisão por reabordagem no gânglio da esquerda ou neuromodulação de gânglio de gasser.

Se não der resultado, os médicos tentarão o implante de bomba de infusão intratecal de fármacos —dispositivo implantado no abdômen da paciente que, através de um cateter colocado diretamente no sistema nervoso central, infunde analgésicos no alvo terapêutico.

Caso não dê certo, a opção será submeter a paciente a nova cirurgia de descompressão vascular do nervo trigêmeo.

Se nenhuma das opções proporcionar alívio da dor e qualidade de vida à Carolina, a última tentativa será a nucleotractomia trigeminal, cirurgia que tem o objetivo de interromper a transmissão sensitiva do nervo trigêmeo.

"Sou um médico muito sério. Nunca prometi nada para qualquer paciente, além de dedicação, esforço e fazer o que temos de melhor, mas não existe nada mais avançado do que isso para tratamento de dor. Estou esperançoso, mas não gosto de prometer. É importante dizer que a Carolina deu voz a milhares de pacientes", finaliza o especialista.

A ação na Santa Casa de Alfenas (MG), que tratará de graça 50 pessoas com neuralgia do trigêmeo, se dará por meio de emenda parlamentar do deputado estadual Luizinho (PT/MG) e em parceria com a Faculdade Sinpain e a Prefeitura de Alfenas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.