Brasileiro mais bem colocado em maratona sonha com vaga na Rio-2016
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Édson (de azul) durante a Maratona Caixa da cidade do Rio de Janeiro |
Melhor brasileiro na Maratona Caixa da Cidade do Rio, quando chegou em terceiro, o baiano Édson Amaro Arruda dos Santos, 30, é o quarto colocado no ranking nacional e acalenta sonhos olímpicos.
Pretende buscar sua classificação para a Rio-2016 em uma corrida que será disputada na Europa, no início do ano que vem. Desde já, porém, garante: "Vai ter um nordestino na maratona olímpica".
DEPOIMENTO
Da minha mãe, só tive uma irmã, filha do meu pai, só que, depois de uma hora de nascida, ela morreu.
Já por parte de pai, eu tenho 18 irmãs; pela minha mãe, só tenho um irmão. Somos, então, em 20 irmãos. Só eu saí corredor.
A gente é de família humilde. Morávamos em uma casa de taipa em Juazeiro da Bahia, próximo à rodoviária. Quando meu avô morreu, em 1986, quando eu tinha dois anos, minha avó ficou revoltada. Ela era muito apaixonada por ele, não quis mais viver lá. Vendeu o que tinha, levou toda a família para São Paulo. Eu vinha todo ano para Juazeiro.
Quando completei 17 anos, não quis mais voltar para São Paulo. Não gostava de lá porque não tinha liberdade, a gente sai de casa e não sabe se volta...
Comecei a praticar atletismo na escola Pedro Raimundo Rego, a mesma em que estudou Daniel Alves. Quem me levou para lá foi a professora Edileusa, a mesma do Daniel. Depois ela trouxe o treinador Marciano [Barros], e foi aí que tudo começou.
Ele me perguntou se eu confiava nele, disse que eu poderia vir a ser um grande atleta. Eu queria: a gente treinava duro, três vezes por semana. Conheci José Carlos Santana, tricampeão da maratona do Rio, medalha de prata no Pan de Havana. Via que estava rodeado de pessoas que poderiam somar para eu dar uma levantada, subir na vida.
DROGAS E VIOLÊNCIA
Era difícil. Eu morava num bairro muito carente. Perdi muitos amigos para as drogas. Muitas vezes, os meninos chegavam drogados à escola. Às vezes, a gente brigava, cheguei a tomar arma da mão de meninos na escola.
A primeira corrida que eu ganhei, treinando com Marciano, foi um 5.000 m nos Jogos Escolares de Juazeiro. Foi em 2003, quando comecei.
No meio da turma, eu era o mais magrinho de todos. Na arquibancada, diziam que eu nem ia conseguir completar. Ficaram de gozação comigo.
Na hora da corrida, eu fui passando, dando volta, dando volta, dando volta, acabei ganhando. Dois dias depois, teve a competição dos 1.500 m e eu ganhei também.
Quatro dias depois, teve uma corrida lá em uma cidade chamada Senhor do Bonfim, na Bahia. Tinha muitos atletas bons, mas Marciano falou que era para eu correr do meu jeito, sem me preocupar com ninguém.
Fui o quarto colocado geral da prova, eram 12 km, e o primeiro na minha categoria, de 15 a 19 anos. Ganhei um troféu que era quase da minha altura.
Até hoje eu guardo esse troféu com carinho lá em casa. Eu vinha dentro do ônibus abraçado com o troféu, 125 km abraçado com o troféu, que eu nunca tinha ganhado um troféu bonito e grande daquele jeito.
Minha primeira maratona foi em 2012, em Santiago, no Chile, eu estava com medo de correr. Nunca tinha corrido 42 quilômetros.
Na hora da largada, deu um frio na barriga. Mesmo assim, completei em 2h16min20. Fui quarto colocado geral na minha primeira maratona e consegui o índice para os Jogos Olímpicos de Londres.
Mas a marca que eu fiz ainda era alta e não dava mais tempo de correr outra prova antes de fechar o período de classificação. Acabei sendo o quarto melhor brasileiro naquele ano, mas não pude ir à Olimpíada.
Agora, não. Agora tem tempo. Já fiz de novo 2h16 e tenho até abril para melhorar esse tempo.
Depois de Santiago, corri várias maratonas. Sou bicampeão da Maurício de Nassau, no Recife. Na segunda vez, foi com chave de ouro: corri dez quilômetros com o grupo e 32 quilômetros sozinho.
MEU SONHO
Tem de ter cabeça. Penso só no treinamento, trabalhando o meu psicológico, concentrando na prova. Têm fotos minhas em que meus olhos estão vidrados, assim, concentrado. Tudo vem do treinamento: concentração e não perder o foco.
Entrei muito determinado na maratona do Rio, fui brigando do começo ao fim. Do primeiro até o km 36, 37, eu estava junto com os quenianos, disputando o título. Acabei em terceiro, melhor brasileiro na prova. Fiz 2h16min51, vale o índice para a Olimpíada, mas ainda têm outros melhores.
Eu vou conseguir. Meu foco é todo nisso. Nem estou entrando em provas mais curtas, só mesmo para ganhar ritmo de competição. Estamos tentando uma maratona rápida para o início, porque sei que tenho condições de correr melhor.
Meu sonho é ir para a Olimpíada. Não só ir, isso é uma parte. Não quero ir apenas para colocar a camisa da seleção. Quero brigar com unhas e dentes e conseguir uma medalha para o Brasil.
Vou ser sincero. Nos Jogos Olímpicos do Rio, tenho certeza, o Brasil vai ter um nordestino na maratona.
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