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Livro mostra que propinas fizeram Hawilla ascender no futebol

'O Delator' narra história do empresário, que foi parceiro da Fifa e da CBF

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O empresário J. Hawilla, jornalista e dono da Traffic, antes de participar da palestra "As relações de poder no futebol brasileiro", no Auditório da Folha
O empresário J. Hawilla, jornalista e dono da Traffic, antes de participar da palestra "As relações de poder no futebol brasileiro", no Auditório da Folha - Letícia Moreira - 9.nov.2010/Folhapress
São Paulo

O Delator

  • Preço R$ 50 (ebook: R$ 38). 266 págs
  • Autoria Allan de Abreu e Carlos Petrocilo
  • Editora Record

​J. Hawilla se tornou um gigante do marketing esportivo. Sua empresa, a Traffic, se transformou numa das maiores do mundo nesse ramo, graças principalmente a um esquema de propinas que beneficiava os mais poderosos cartolas das Américas.

Em 2011, porém, autoridades dos EUA decidiram desvendar a teia de corrupção na elite do futebol mundial. Dois anos depois, Hawilla foi um dos primeiros a serem detidos.

A queda do gigante levou à derrocada de dezenas de cartolas, a começar pelo ex-presidente da CBF, José Maria Marin, preso nos EUA.

É essa a saga apresentada pelo livro-reportagem “O Delator”, dos jornalistas Allan de Abreu e Carlos Petrocilo. 

A introdução é um dos pontos altos da obra. Narra os momentos em que Hawilla formalizou a delação diante de um juiz de Nova York, em 2013. O empresário, então com 71 anos, já enfrentava graves problemas de saúde —morreu em maio de 2018.

Debilitado, ele faria qualquer coisa para escapar da cadeia, o que não seria fácil porque o FBI havia reunido provas contundentes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, entre outros crimes. A saída, então, foi delatar os seus comparsas.

Evidentemente, a ação dos EUA não pôs fim à bandidagem no futebol, mas causou um estrondo. Jamais a cartolagem havia sido devassada de modo tão rigoroso, e os depoimentos do homem-bomba Hawilla foram decisivos para promover essa primeira grande faxina.

Os autores também se saem bem ao expor a trajetória de Hawilla antes da Traffic.

Como repórter de rádio, ele foi um dos grandes responsáveis por atiçar a ira de boa parte da torcida do Corinthians contra Rivellino depois da perda do título paulista para o Palmeiras, em 1974.

O meia acabou trocando o time pelo Fluminense.

No fim da década de 1970, o repórter deixa a cena para a ascensão do empresário.

“O Delator” mostra também como a aliança corrupta entre a Fifa, então liderada por João Havelange, e a empresa de marketing ISL serviu como modelo para a parceria entre a CBF, com Ricardo Teixeira no comando, e a Traffic.

Juntos, Teixeira e Hawilla fizeram proezas. Uma delas foi receber quase US$ 30 milhões (cerca de R$ 115 milhões) da Nike por meio de um banco suíço e de uma offshore no paraíso fiscal das Bahamas.

O livro, aliás, tem passagens muito voltadas a Teixeira em detrimento de Hawilla, o que pode levar à dispersão do leitor. As artimanhas do ex-chefe da CBF merecem obra à parte.

“O Delator” também falha pela falta de concisão. Os autores se alongam em questões jurídicas que nem sempre são indispensáveis para a história.

Esses problemas reduzem a fluência do livro, mas não comprometem o valor e a pertinência das informações, algumas exclusivas. Ao fuçar o submundo do futebol, prática ainda rara entre os repórteres brasileiros, “O Delator” representa vitória do jornalismo.

Jornalistas relatam dificuldade para lançar livro em São José do Rio Preto (SP)

Os repórteres Allan de Abreu e Carlos Petrocilo afirmam que foram impedidos de promover uma noite de autógrafos do livro em livrarias dos shoppings Iguatemi e Riopreto, ambos em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.

Os jornalistas dizem acreditar que a família de Hawilla tenha intercedido no caso do Shopping Iguatemi e afirmam que o Riopreto é "anunciante contumaz" da TV Tem, afiliada da Globo e que pertence aos Hawillas.

Os autores também disseram que empresas que administram outdoors pela cidade se negaram a divulgar a obra.

O shopping Riopreto diz que não irá se manifestar sobre o caso, e o Iguatemi não respondeu à reportagem.

 
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