Dinheiro da TV explica domínio de ingleses em finais europeias

Receita de direitos televisivos é decisiva no faturamento de clubes britânicos

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São Paulo

O futebol inglês já dominou a Europa no passado. Entre 1977 e 1985, apenas uma vez um time do país não chegou à final da Copa da Europa, que se tornou Champions League em 1992.

Em nove anos, foram sete títulos. Quatro vencidos pelo Liverpool e outros três deles por times que nunca foram potências europeias, como Nottingham Forest (duas vezes) e Aston Villa.

Mas isso não se compara ao fenômeno de 2019. Os quatro finalistas da das atuais edições da Champions League e Liga Europa são ingleses. E não são as equipes mais ricas do país.

O que eles têm em comum para chegar próximo ao topo da Europa é a importância do dinheiro dos direitos de transmissão em seus orçamentos anuais.

Segundo o Deloitte Football Money League de 2019, estudo publicado pela empresa de auditoria com sede nos Estados Unidos, Tottenham, Liverpool (finalistas da Champions League), Arsenal e Chelsea (que vão decidir a Liga Europa) estão entre os 10 times que mais arrecadam no planeta. Mas entre o 7º e o 10º lugar.

As quatro equipes estão atrás, no ranking, de outros ingleses: Manchester United (3º) e Manchester City (5º).

Também estão na lista o Real Madrid (1º), Barcelona (2º), Bayern de Munique (4º) e Paris Saint-Germain (6º).

Mas os finalistas das competições europeias desta temporada são os que mais contaram com o dinheiro do televisionamento dos jogos para chegar ao topo.

Tottenham, o 10º clube mais rico do mundo, arrecadou 428,3 milhões de euros (R$ 1,9 bilhão), sendo que 52,9% (R$ 1 bilhão) do total são provenientes da TV. Entre os dez do ranking da Deloitte, é quem mais depende dos recursos da venda dos direitos dos jogos da liga nacional.

Na decisão da Champions, o time enfrenta o Liverpool (7º do ranking), que dos 513,7 milhões de euros obtidos (R$ 2,28 bilhões), tem 49% como dinheiro de TV.  Mais, mas não muito, do que os finalistas da Liga Europa.

O Chelsea, em 8º, arrecadou 505,7 milhões de euros (R$ 2,25 bilhões), com 45,6% deles graças ao televisionamento. O Arsenal (9º) teve arrecadação de 439,2 milhões de euros (R$ 1,95 bilhão), 47,1% oriundos das transmissões.

Entre os outros seis mais ricos do planeta, a média da influência dos recursos da TV no orçamento é de 32,3%.

O contrato de transmissão dos jogos da Premier League é o maior do futebol mundial. O acordo começou em 2015 e termina neste ano, vendido por 5,9 bilhões de euros (R$ 26,5 bilhões).

O modelo de negociação da liga inglesa se tornou molde seguido por outros países, como Itália e Alemanha. O presidente do Bayern de Munique, Karl-Heinz Rummenigge, reclamou várias vezes do poderio financeiro dos ingleses, turbinado pelos contratos televisivos.

Tottenham e Liverpool usaram o dinheiro para um projeto de longo prazo de remontagem de elenco e da estrutura do departamento de futebol. Ambos confiaram nos trabalhos dos treinadores (Mauricio Pochettino e Jurgen Klopp, respectivamente).

O Liverpool, por exemplo, fez para esta temporada contratações caras como o volante guineense Keita (R$ 250 milhões) e o goleiro brasileiro Alisson (cerca de R$ 300 milhões), em mais uma demonstração de como a Premier League é um paraíso para os atletas estrangeiros.

No início do campeonato, o índice de jogadores nascidos em outros países nos 20 clubes era de 67,7%. Ou seja, dois terços da liga eram estrangeiros.

Para muitos, esse número é prejudicial ao desenvolvimento dos jogadores locais, que, teoricamente, perdem espaço nas equipes da elite para atletas de outros países. Há quem vá na contramão desse pensamento. Caso do economista Stefan Szymanski, que escreveu com o jornalista Simon Kuper o best-seller “Soccernomics”.

Uma discussão que ganha ainda mais corpo com o Brexit, acordo desenhado pela primeira-ministra britânica, Theresa May, para a saída do país da União Europeia.

Segundo a tese dos autores de “Soccernomics”, o fortalecimento da liga local com grandes reforços de fora cria uma espécie de seleção natural. Jogam só os melhores, e se um inglês está entre eles, sobe inclusive o nível da seleção. A campanha inglesa na Rússia, chegando até a semifinal, ajuda a corroborar essa tese.

Essa competitividade também se traduz na tabela do Inglês. O Liverpool, que é o vice-líder, tem 94 pontos, um a menos que o líder Manchester City. Pontuação que seria suficiente para que o time faturasse o título em 24 edições da Premier League, que é disputada desde 1992/1993.

Com o fim do pagamento pela construção do Emirates Stadium, inaugurado em 2004, o Arsenal passou a ter recursos para investir na equipe, mas títulos até agora têm sido escassos. A última conquista da liga inglesa aconteceu há 15 anos, ainda no antigo estádio Highbury. O discurso sempre foi de que o clube precisa ser autossustentável, o mesmo modelo que o Chelsea tem tentado usar para se desvencilhar da imagem de brinquedo do bilionário russo Roman Abramovich.

A internacionalização também está presente nos donos dos clubes. Das 20 equipes da liga, apenas seis são comandadas inteiramente por britânicos —o Crystal Palace tem britânicos e americanos no comando. Dos finalistas europeus, só o Tottenham não tem donos estrangeiros. Americanos controlam Arsenal e Liverpool, e russos, o Chelsea.

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