Descrição de chapéu The New York Times

Toronto Raptors fez as mudanças certas para conquistar a NBA

Para chegar ao topo, time canadense passou por ziguezagues incontáveis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Scott Cacciola
Oakland (Califórnia) | The New York Times

Por seis jogos, Fred VanVleet ficou encarregado da tarefa defensiva mais difícil de sua vida: grudar em um dos maiores arremessadores da história da NBA, para ajudar o Toronto Raptors a buscar seu lugar na história.

Assim, durante seis jogos, VanVleet perseguiu Stephen Curry, do Golden State Warriors. Seis jogos de cortes secos para dentro do garrafão, movimentos de arremesso que criavam separação entre arremessador e marcador, dribles cruzados e corta-luzes impiedosos.

Fred VanVleet, do Toronto Raptors, enfrenta marcação de Stephen Curry, do Golden State Warriors, na partida que rendeu o título da NBA à franquia canadense
Fred VanVleet, do Toronto Raptors, enfrenta marcação de Stephen Curry, do Golden State Warriors, na partida que rendeu o título da NBA à franquia canadense - Thearon W. Henderson - 13.jun.2019/Getty Images/AFP

"Um milhão de corta-luzes", disse VanVleet.

Era como correr no mar revolto, preparado para encarar ondas e mais ondas.

Mas na noite de quinta-feira (13), quando o Raptors começou a celebrar seu primeiro título na NBA depois de uma vitória por 114 a 110 contra o Golden State Warriors no sexto jogo das finais, VanVleet, usando uma camiseta comemorativa do título, encharcada em champagne, e exibindo os pontos que levou embaixo do olho depois de uma colisão com um adversário, refletiu sobre seu papel em ajudar a derrubar o time mais majestoso da liga.

O Raptors, ele disse, não era um campeão comum. "Não somos astros reluzentes", disse VanVleet, acrescentando: "Temos caras que tiveram de seguir o caminho mais longo, que começaram da lama, que tiveram de superar obstáculos. Nosso time está repleto de caras como esses, vindos de toda parte, de todas da origens, com histórias de vida muito diferentes; e foi assim que chegamos aqui. Mas temos talento. Pode ter certeza de que temos talento".

 

É justo dizer que o Raptors tem, na verdade, um desses astros cintilantes: Kawhi Leonard, o longilíneo ala escolhido como melhor jogador das finais depois de conseguir uma média de 28,5 pontos e 9,8 rebotes contra o Warriors. Mas Leonard estava ansioso por dividir o prêmio com Kyle Lowry, armador com presença frequente nas seleções de melhores jogadores da NBA e que foi uma das poucas presenças constantes no time do Raptors nas últimas temporadas.

"Demorou a chegar", disse Lowry.

O percurso do Raptors para o título com certeza não foi uma linha reta. Em cada uma das três temporadas precedentes, o time foi eliminado nos playoffs pelo Cleveland Cavaliers de LeBron James, e a saída dele, para o Los Angeles Lakers, no final da temporada passada, criou uma oportunidade que o Toronto estava ansioso por explorar.

Mas a oportunidade só surgiu graças a anos de riscos calculados e mudanças de pessoal orquestradas por Masaj Ujiri, o presidente de operações de basquete do time. Para chegar ao topo, o Raptors passou por ziguezagues incontáveis.

"Conseguir o título com o grupo de jogadores que temos foi maravilhoso", disse Lowry, que marcou 26 pontos na quinta-feira. "Para mim, continua a ser meio surreal".

A jogada de risco mais aparente de Ujiri foi, é claro, a troca que levou Leonard ao seu time, depois do final da temporada passada. Leonard só tinha um ano restando em seu contrato e não tinha mencionado Toronto como um de seus destinos preferenciais. A troca também envolveu a transferência de DeMar DeRozan, negociado com o San Antonio Spurs depois de nove temporadas com o Raptors.

Leonard, ciente de que Lowry e DeRozan eram amigos, enviou uma mensagem de texto a Lowry depois da troca.

"Eu o convidei para sair, para fazer alguma coisa especial", recorda Leonard. "Disse que sabia que o melhor amigo dele tinha sido trocado, e que ele com certeza estava furioso. Mas pedi que me ajudasse a fazer o negócio funcionar. E olhe só onde viemos parar".

A outra grande decisão de Ujiri no final da temporada passada foi demitir o treinador Dwane Casey e contratar Nick Nurse, um treinador assistente que passou a maior parte de sua carreira no exterior e na G League da NBA. Nurse não tinha experiência alguma como treinador da NBA, mas nunca pareceu assustado com as novas responsabilidades. Essa tranquilidade fez dele o comandante perfeito para um time de jogadores batalhadores.

"Jogamos dois meses de playoffs e os jogadores em nenhum momento me pareceram cansados", disse Nurse. "Mentalmente, eles continuaram a pedir para ver vídeos, para falar sobre algumas coisas, para continuar aprendendo e melhorando".

O Raptors transformou o desenvolvimento de jogadores em uma forma de ciência. Há apenas dois anos, Pascal Siakam (27º escolhido no draft de 2016) e VanVleet (que estudou na Universidade Estadual de Wichita e não foi selecionado no draft na NBA) formavam uma dupla vencedora na corrida do Raptors 905, o time de desenvolvimento do Raptors, para o título da G League em 2017.

Sob o comando de Nurse, os dois floresceram nesta temporada e se tornaram astros instantâneos nos playoffs. Na quinta-feira, o ala de força Siakam, 25, conhecido pelo apelido "Spicy P", marcou 26 pontos e conseguiu 10 rebotes, e VanVleet, além de cuidar da marcação de Curry, marcou 10 de seus 22 pontos no quarto período.

Foi uma série momentosa para VanVleet, armador que começou na NBA há apenas três anos. Ele marcou 15 pontos, vindo do banco, no jogo um; perdeu parte de um dente depois de uma cotovelada no jogo quatro; e fez uma série de jogadas cruciais no jogo seis. Converteu cinco arremessos de três pontos, entre os quais o que deu ao Raptors a liderança definitiva na partida, com menos de quatro minutos no relógio.

Depois que o jogo acabou, VanVleet e Curry trocaram um abraço.

"Ele é batalhador", disse Curry. "Obviamente encarei muitos defensores, mas foi ele que aceitou o desafio. E agora é o campeão. Foi merecido".

O jogo parece ter sido o final de uma era para o Warriors, que disputou suas últimas partidas na Oracle Arena, em Oakland. (Na temporada que vem, eles jogarão em seu novo ginásio em San Francisco.) O time sofreu uma série catastrófica de lesões.

Depois que Kevin Durant rompeu o tendão de Aquiles no jogo cinco, Klay Thompson rompeu o ligamento anterior cruzado de seu joelho esquerdo no jogo 6. O futuro do Golden State parece estar em questão, depois de três títulos e dois vice-campeonatos em cinco temporadas —por mais implausível que isso soe.

O Raptors também tem questões a responder, a começar por Leonard, que se tornará agente livre em breve. Ele vai ficar no time ou pretende sair?

Mas por uma noite, o time pôde curtir o momento. Marc Gasol, adquirido em uma troca com o Memphis Grizzlies na metade da temporada, estava papeando com o ex-colega de time Mike Conley e saboreando uma lata de cerveja. Ujiri estava envolto em uma bandeira da Nigéria. E o veterano armador Danny Green foi congratulado na saída do vestiário por Vince Carter, 42, um ala e armador que durante muito tempo foi o símbolo do Raptors, na época em que a equipe buscava apenas ser respeitada.

Já a atual encarnação do Raptors acreditava ser capaz de ir além. E provou que isso é fato. "É inacreditável", disse VanVleet. 

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.