Descrição de chapéu F1

Sensação na F2, Drugovich quer ajuda de ex-pilotos por vaga na F1

Paranaense se destacou em 2020 e conseguiu vaga numa categoria de acesso à elite

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São Paulo

Felipe Drugovich, 20, havia acabado de conquistar sua segunda vitória na F2, no GP da Espanha, em seu ano de estreia na principal categoria de acesso à F1, mas saiu do carro irritado.

"Ainda estava pensando na corrida que não consegui ganhar no dia anterior", ele disse em entrevista à Folha.

Em 2020, cada etapa da F2 foi disputada com rodadas duplas. O brasileiro chegou em sétimo na primeira prova disputada na Catalunha, em agosto, quando a estratégia de sua equipe acabou prejudicada pela entrada do safety car e a necessidade de um segundo pit stop. "Eu fiquei muito bravo, tinha condições de vencer."

Ele foi o piloto do país mais bem colocado no campeonato. Ganhou três corridas, conquistou um terceiro lugar, fez uma pole e fechou o Mundial em nono, à frente dos compatriotas Pedro Piquet, filho do tricampeão de F1 Nelson Piquet, 20º, e Guilherme Samaia, 24º.

O desempenho do estreante chamou a atenção da equipe UNI-Virtuosi, pela qual o britânico Callum Ilott, 22, foi vice-campeão no ano passado —Mick Schumacher, filho do heptacampeão de F1 Michael, levou o título. No fim da temporada, a escuderia de Ilott anunciou a contratação do paranaense natural de Maringá.

"Realmente, os meus resultados me surpreenderam", disse Drugovich. "Não esperava ter vitórias em 2020, muito menos três e uma pole. Isso foi o que me deu a oportunidade de fechar com uma equipe boa."

A saída da MP Motorsports, uma escuderia mediana, elevou as expectativas do piloto. Enquanto no ano de estreia ele esperava "apenas correr e aprender", agora já vislumbra trilhar o mesmo caminho de Mick, que conquistou um espaço na F1, contratado pela Haas.

O russo Nikita Mazepin (Haas) e o japonês Yuki Tsunoda (AlphaTauri) também deixaram a F2 e farão suas estreias na elite em 2021.

No caso do alemão, além do talento e da regularidade que o levaram ao título, o sobrenome famoso ajudou a abrir portas na principal categoria do automobilismo. A equipe que o contratou possui uma parceria com a Ferrari, pela qual o pai dele conquistou cinco de seus sete títulos mundiais.

Sem uma credencial parecida com a do alemão ou um investidor de peso na carreira (caso principalmente de Mazepin), Drugovich espera continuar em ascensão e ter o apoio de ex-pilotos brasileiros que correram na F1 para chegar lá.

"Seria muito legal eles [ex-pilotos] abrirem portas em equipes, cogitarem o teu nome e tudo mais. O mundo de qualquer esporte funciona assim: o cara que tem mais imagem, que é importante, faz indicações. 'Pô, tal pessoa é boa, dá uma olhada'. Eu acho que isso ajuda", afirmou.

Dos brasileiros que passaram pela categoria, Drugovich conta que teve mais contato com Felipe Nasr, que correu na F1 entre 2015 e 2016, sem muito sucesso. "Foi ele que me deu o meu primeiro kart", conta.

O desempenho recente do paranaense na F2 chamou a atenção de outro Felipe, o Massa, último brasileiro titular em uma equipe na principal categoria do automobilismo.

"O Drugovich está mostrando um desempenho surpreendente. No primeiro ano na F2, ele venceu corridas, mostrou que tem talento e a possibilidade de ser o nosso futuro piloto na F1", disse o ex-piloto da Ferrari à reportagem. "O que eu puder fazer para ajudar, farei. Assim como sou amigo do Caio Collet também, outro piloto brasileiro que está entrando na F3 neste ano."

Massa deixou a F1 em 2017, depois de 15 temporadas em três equipes diferentes: Sauber, Ferrari e Williams.

O piloto diz que cultiva muitos amigos no meio, mas não chegou a fazer indicações. "Eu nunca fiz isso, até porque eu parei de correr agora de F1. Antes, logicamente, era focado na minha carreira."

Mas ele reconhece a importância de apoiar os mais jovens. "Todos os pilotos têm que ter talento, mostrar resultados e também ter a sua volta pessoas que possam dar uma chance de correr na F1."

Felipe Drugovich conhece bem como funciona o meio do automobilismo. Ele iniciou a carreira no kart, em 2008, incentivado por seus tios Junior, Claudio e Sérgio, todos pilotos. "Eles e minha mãe foram meus principais apoiadores. Dois tios meus correram de Formula Truck, um correu na Formula Ford e em várias modalidades. Isso foi muito legal para eu poder aprender."

De seus familiares, o jovem piloto herdou o gosto por participar do desenvolvimento do carro e o rigor. "Eu sou muito crítico comigo mesmo, às vezes até demais", diz. "Depois das corridas, vejo meus erros e meus acertos para tentar melhorar. Acho a parte mais importante."

Segundo o paranaense, nem todas as equipes deixam os pilotos atuarem no desenvolvimento dos carros. "Algumas falam 'o carro é esse e você tem que guiar'", relata, antes de celebrar a liberdade que espera ter na UNI-Virtuosi. "Já fizemos alguns testes e eles me deixaram bem à vontade. Isso é importante."

Além disso, ele demonstra empolgação com os resultados da escuderia na temporada passada. "Eles não foram campeões simplesmente por fatores que estavam fora do controle deles", afirma. Schumacher fez 14 pontos a mais que Ilott (215 a 201). "Por isso acredito que a gente pode sonhar em brigar por vitórias e pelo título."

A abertura do campeonato de F2 deste ano será no dia 27 de março, no GP do Bahrein, onde o brasileiro conquistou sua terceira vitória na categoria em 2020.

Drugovich ainda está em busca de seu primeiro título de expressão internacional. O maior sonho dele é um dia repetir os passos de seus dois maiores ídolos, os tricampeões Ayrton Senna (1960-1994) e Niki Lauda (1949-2019).

"O Senna, por ser um piloto brasileiro, já começo a ter ele como ídolo, mas muito mais pela velocidade, técnica e determinação. O trabalho dele sempre foi absurdo", afirma. "E o Lauda pela persistência. Depois do acidente dele, voltar pela paixão pelo esporte fez ele ser também um dos meus ídolos."

Homem branco com camisa preta e braços cruzados
Felipe Drugovich agora é piloto da UNI-Virtuosi - @felipedrugovich no Instagram
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