Mentor de Joaquim Cruz, Luiz Alberto de Oliveira morre no Qatar

Maior técnico do atletismo brasileiro estava internado e sofreu uma parada cardíaca

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São Paulo

Morreu na quarta-feira (30), em Doha, no Qatar, o treinador de atletismo Luiz Alberto de Oliveira. O técnico, que vinha trabalhando no atletismo do país, estava internado tratando de problemas nos rins. Ele sofreu uma parada cardíaca.

Oliveira dirigiu Joaquim Cruz na vitória nos 800 m nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984. Até hoje é o único ouro olímpico do Brasil em uma prova de pista no atletismo. Na ocasião, Joaquim Cruz realizou uma performance espetacular para derrotar o britânico Sebastian Coe, favorito ao ouro. O brasileiro obteve o tempo de 1min43s00, um novo recorde olímpico. A marca só seria superada 12 anos depois, pelo norueguês Vejorn Rodal, nos Jogos de Atlanta-1996.

O treinador foi quem convenceu o garoto de pernas compridas a deixar o basquete para se aventurar nas pistas. A parceria também rendeu a medalha de prata na mesma prova na Olimpíada de Seul-1988, quando Joaquim Cruz liderou quase até o final, mas acabou ultrapassado pelo queniano Paul Ereng. O bronze daquela disputa ficou com outra lenda dos 800 m, o marroquino Said Aouita.

O técnico Luiz Alberto de Oliveira posa em frente a uma pista de atletismo
O técnico de atletismo Luiz Alberto de Oliveira, que morreu na quarta-feira, após parada cardíaca - Reprodução/ESPN

"O Luiz viveu a vida numa intensidade de 1min41s00 nos 800 m e agora está descansando", afirmou Joaquim Cruz, referindo-se à barreira rompida pelo queniano David Rudisha na Olimpíada de Londres-2012 (1min40s91), que é o atual recorde mundial da prova.

Oliveira não se limitou à parceria com Joaquim Cruz. Foi o mentor da melhor geração de meio-fundistas do atletismo brasileiro. O treinador também dirigiu Agberto Guimarães e Zequinha Barbosa. Agberto tem no currículo como principais conquistas a medalha de ouro nos 800 m e nos 1.500 m no Pan-Americano de Caracas-1983, na Venezuela.

Nos Jogos de Moscou-1980, chegou em quarto lugar na final dos 800 m, prova fortíssima, que contou com o duelo entre os destaques britânicos da época Steve Ovett e Sebastian Coe. Agberto não resistiu à frustração e chorou muito a perda da medalha olímpica.

"É triste saber que uma pessoa com a qual a gente conviveu parte importante da vida tenha falecido. E tão longe de todo mundo. Mas, ao mesmo tempo, acompanhando o que vinha acontecendo com o Luiz nos últimos tempos, a doença, ele descansou", afirmou Agberto. "E que Deus o tenha e ajude a família. Muito triste", acrescentou.

Zequinha Barbosa, por sua vez, conquistou quatro medalhas nos 800 m em Mundiais em pista coberta ou descoberta: um ouro, duas pratas e um bronze. O destaque foi o título no Mundial indoor de Indianápolis-1987. Em Pans, ele ganhou mais um ouro e uma prata.

"O Luiz Alberto foi um treinador uns 30 anos na frente de todo mundo. Acompanhei todo o seu problema. Estou muito chateado por ele não terminar sua vida trabalhando no Brasil e não consigo definir a dor imensa que estou sentindo. É uma grande tristeza", lamentou o Zequinha.

Após o fim da carreira da geração de Joaquim Cruz, Agberto e Zequinha, Oliveira ainda descobriu novo talento: Hudson Santos, melhor meio-fundista do Brasil nos anos 2000, dono de cinco medalhas nos Jogos Pan-Americanos, incluindo o ouro nos 1.500 m em Santo Domingo-2003 e no Rio-2007. Osmar Barbosa, medalha de bronze no Mundial indoor de Budapeste-2003, foi mais uma descoberta do treinador.

Outros talentos a passar pelas mãos do técnico foram Sanderlei Parrela, vice-campeão mundial dos 400 m em Sevilha-1999, e Wander do Prado Moura, campeão pan-americano dos 3.000 m com obstáculos em Mar del Plata-1995. A marca obtida na Argentina, de 8min14s41, é o recorde sul-americano até hoje.

"Que momento triste. Você fará falta na vida de muitos. Como eu sempre te disse, você transformou a minha vida. Dói saber que meu amigo, meu segundo pai, não está mais entre nós", afirmou Sanderlei.

"Treinador, obrigado por tudo que foi para mim: mestre, treinador, amigo, pai e uma pessoa responsável por meus grandes resultados.Que Deus possa lhe receber em seus braços, gratidão eterna por tudo. Você fará falta", disse Moura.

Oliveira também trabalhou no exterior, tendo dirigido estrelas internacionais das pistas. Ele foi treinador da norte-americana Mary Decker, campeã mundial dos 1.500 m em 1983, e da moçambicana Maria Mutola, dona de 14 medalhas em Mundiais (10 ouros, 2 pratas e 2 bronzes), sempre nos 800 m.

“O Brasil perde uma grande referência. Apaga-se uma luz do atletismo, uma pessoa pela qual tinha uma elevadíssima estima, respeito e consideração. Tive o prazer e a oportunidade de conversar muito com ele, que nos apoiou nesta jornada. Que o arquiteto do universo o receba em seu descanso eterno", comentou Wlamir Motta Campos, presidente do Conselho de Administração da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).

A saúde do treinador já estava bastante comprometida. Ele teve que retirar um rim em novembro passado e vinha fazendo hemodiálise enquanto esperava um possível transplante. Oliveira também sofrera um AVC ainda no Brasil e recentemente teve que colocar seis stents. Pulmão, coração e fígado também estavam prejudicados.

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