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Pia trabalha renovação da seleção feminina de futebol e quer Marta diferente

Treinadora diz em entrevista à Folha que jogadora não tem vaga garantida na equipe

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Júlia Belas
São Paulo

Pia Sundhage, 61, aposta em uma nova geração de jogadoras para o ciclo olímpico para os Jogos de Paris-2024. A treinadora da seleção brasileira, há dois anos no comando da equipe, volta à beira do campo contra a Argentina, após golear a equipe rival por 5 a 0 dois anos atrás, no Torneio Uber Internacional, disputado no Pacaembu.

Os jogos estão marcados para os dias 18 e 21 de setembro, na Paraíba. O primeiro será realizado no Estádio Almeidão, em João Pessoa, já o segundo, no Amigão, em Campina Grande.

A convocação para os amistosos foi a primeira após a eliminação nos pênaltis para o Canadá nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Com seis estreantes entre as selecionadas, Pia já não conta mais com Formiga, 43, volante que deixou a seleção após mais de duas décadas dedicadas à amarelinha. Seis vezes melhor do mundo, Marta, 35, vai defender a equipe contra a Argentina, mas seu futuro ainda é incerto.

"Parece que ela quer colocar toda a sua energia para continuar a jogar na seleção. Temos alguns jogos chegando e veremos o quanto ela se dedica. Ninguém, nem mesmo Marta, vai ter a vaga garantida enquanto eu for a treinadora."

Em entrevista à Folha, a comandante explica que o principal passo para a renovação é o trabalho com as seleções sub-20, comandada por Jonas Urias, 32, e sub-17, sob a batuta de Simone Jatobá, 40. Para Pia, o principal objetivo antes da Copa do Mundo de 2023 e das Olimpíadas de 2024 é preparar essas jovens atletas para grandes eventos.

"Eu acho que o nosso trabalho para o futuro é encontrar novas jogadoras. Se elas tiverem apoio, acho que podem chegar à seleção principal, se não neste ano, no ano que vem, e isso é importante."

Pia Sundhage durante jogo da seleção brasileira contra o Canadá nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020
Pia Sundhage durante jogo da seleção brasileira contra o Canadá nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 - Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Você acha que a eliminação nas Olimpíadas para o Canadá é um combustível para este novo ciclo olímpico? Eu fiquei muito triste e desapontada. Nós estávamos tão perto, especialmente quando elas não marcaram no primeiro pênalti. Durante o jogo, nós poderíamos ter jogado muito melhor. Isso me diz que nós temos que mudar um pouco, especialmente no ataque. Acho que, defensivamente, nós fomos bem. Não sofremos muito gols, mas também não fizemos muitos gols, exceto contra a China. Acho que este é um bom começo. Este é um momento de recarregar as energias e fazer as coisas de uma forma diferente no ataque.

Vocês já têm planos de jogar amistosos contra seleções do topo do ranking? Eu adoraria jogar contra times do top 10 em todas as datas Fifa, mas não é possível. Por causa da Covid-19, nós tentamos planejar. Eu queria planejar tudo até 2023. Quando nós vamos para a SheBelieves Cup, é fantástico. Você tem boas jogadoras, você tem organização, tem aquela atmosfera de “será que eu vou ganhar, será que eu vou perder?”. Devemos sempre tentar enfrentar os dez melhores times do mundo.

Jogar amistosos contra a Argentina é significativo para você, já que elas foram as suas primeiras adversárias com o Brasil? A Argentina é a nossa vizinha, é um bom time. Elas jogaram na Copa do Mundo, e nós temos algumas jogadoras de lá no Campeonato Brasileiro. É especial porque foi o meu primeiro jogo, dois anos atrás, e jogamos bem. Vai ser muito mais difícil porque eu acho que a Argentina, hoje, é um time melhor, enquanto nós estaremos testando coisas novas. Eu realmente quero fazer coisas diferentes para conseguir resultados diferentes. É bom também para a Copa América, então é inspirador enfrentar a Argentina.

Pia Sundhage durante o jogo entre Brasil e Zâmbia pelo Grupo F das Olimpíadas de Tóquio-2020
Pia Sundhage durante o jogo entre Brasil e Zâmbia pelo Grupo F das Olimpíadas de Tóquio-2020 - Molly Darlington/Reuters

Você convocou seis jogadoras novas para os amistosos. O que você quer testar nessas atletas? Eu espero que elas subam de nível com a seleção, e que realmente aproveitem essa chance. Com o que vi nos clubes, eu acredito que elas podem somar ao nosso estilo de jogo. Também quero ver um pouco de competição para ver quem será titular. A primeira vez na seleção é difícil, com uma nova treinadora e uma nova comissão, mas eu realmente espero que elas aproveitem essa chance e tenham essa coragem, especialmente no ataque.

Ao mesmo tempo, temos jogadoras veteranas nesta convocação. Você acredita que terá uma renovação gradual? Primeiro, você não pode jogar todas as jogadoras fora. Lembre-se, nós chegamos às quartas, estávamos no caminho para a semifinal, mas não conseguimos passar nos pênaltis. Por isso a conversa com o Jonas, do time sub-20, é tão importante. Eu acho que o nosso trabalho para o futuro é encontrar novas jogadoras. Se elas tiverem apoio, acho que podem chegar à seleção principal, se não neste ano, no ano que vem, e isso é importante.

Então o trabalho vai ser ainda mais integrado com as seleções de base? Assim que eu pude, observei os times sub-17 e sub-20. É óbvio que nós precisamos de novas jogadoras, nova energia. Eu estou levando jogadoras do Jonas nesta convocação, e isso é tão importante quanto quando o Jonas leva jogadoras da Simone. Eu acho que essa cooperação, trabalhar juntos, é uma fórmula vencedora. E eu e Jonas passamos muito tempo conversando sobre as jogadoras. Ele também está envolvido na seleção principal.

Pia Sundhage assistiu à final da Série A2 entre Atlético-MG e Red Bull Bragantino no Estádio Independência
Pia Sundhage assistiu à final da Série A2 entre Atlético-MG e Red Bull Bragantino no Estádio Independência - Cristiane Mattos/Staff Images Woman/CBF

Você convocou jogadoras de vários times brasileiros e também acompanhou várias partidas do Nacional. Como você vê o Campeonato Brasileiro Feminino atualmente? Dois anos atrás, eu fui para Porto Alegre e vi Internacional x Flamengo, o meu primeiro jogo. Posso dizer isto: a qualidade está aumentando. A final do Campeonato Brasileiro, entre Corinthians e Palmeiras, vai ser um bom jogo. Eu vi a final da Série A2, e achei que foi um jogo muito bom. Se você comparar com algumas das ligas da Europa, dos Estados Unidos, nós estamos avançando e fazendo cada vez melhor. É muito importante que a CBF apoie a liga, porque também é como formamos uma seleção forte.

Você já preparava essas atletas mais jovens, como Angelina e Giovana, para defender a seleção neste novo ciclo? Eu vi muito de Giovana, ela já está conosco há um tempo e eu acredito que ela é o futuro. E as jogadoras mais jovens precisam de apoio. Eu realmente quero inspira-las. Elas têm a cultura dos clubes, eles as ensinam sobre futebol, mas para mim elas têm que ter a coragem de ir além na seleção. Eu falei com Angelina após as Olimpíadas e estou impressionada com como ela jogou. Mesmo com pouca preparação, ela entrou, graças à seleção sub-20 e graças ao Jonas. Foi uma das razões pelas quais ela foi para as Olimpíadas. Esse é um ótimo exemplo. Jonas ajudou a seleção com Angelina, e Angelina ajudou a seleção por ter jogado pelo sub-20.

Qual vai ser o futuro de Marta na seleção? Conversei brevemente com ela após as Olimpíadas. Parece que ela quer colocar toda a sua energia para continuar a jogar na seleção. Temos alguns jogos chegando e veremos o quanto ela se dedica. Ninguém, nem mesmo Marta, vai ter a vaga garantida enquanto eu for a treinadora. Você precisa se dedicar e ter paixão. Eu lembro da final das Olimpíadas de 2008, quando eu fui treinadora contra a seleção brasileira. Sabe de uma coisa? Se você quer ganhar a medalha de ouro, ser o melhor time do mundo, é importante que muitas jogadoras realmente queiram mudar o estilo de jogo um pouco. Espero que Marta queira fazer isso.

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