Descrição de chapéu The New York Times

Investigação de ataque a jogadora do PSG vai de colega de time a ex-lateral do Barcelona

Atleta foi agredida com barra de ferro; parceira de time foi detida, mas apuração indica que história talvez seja diferente

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Tariq Panja
Versalhes (França) | The New York Times

Já estava escuro na hora em que Aminata Diallo atravessou o arco de concreto da delegacia central de polícia e chegou à calçada do lado de fora. Trinta e seis horas antes, policiais bateram à porta de seu apartamento, onde ela estava dormindo, para prendê-la.

Agora libertada e vasculhando as centenas de mensagens que tinha recebido sem poder ler, Diallo, meio-campista do clube de futebol francês Paris Saint-Germain, ficou chocada com o que leu. Quase desconhecido até poucos dias antes, fora do mundo fechado do futebol feminino francês, seu nome subitamente tinha se tornado manchete em todo o planeta.

De acordo com as reportagens, Diallo era a jogadora que estava dirigindo o carro um mês atrás quando uma de suas colegas de time foi arrancada do assento de passageiros por um homem mascarado, e agredida. Os artigos afirmavam que Diallo saiu ilesa do ataque enquanto sua amiga e colega de time, Kheira Hamraoui, foi espancada com uma barra de ferro. E Diallo era a jogadora que estava sendo questionada não como testemunha, mas como possível suspeita daquilo que a polícia definiu como um ataque orquestrado.

Kheira Hamraoui (esq.) e Aminata Diallo (dir.) tiveram carro atacado por homens encapuzados
Kheira Hamraoui (esq.) e Aminata Diallo (dir.) tiveram carro atacado por homens encapuzados - Franck Fife e Paul Vernon/AFP

A história, com suas insinuações de ciúme esportivo, seus ecos de Tonya Harding e seus vínculos com o Paris Saint-Germain, atual campeão francês de futebol feminino e um dos clubes de futebol mais ricos do planeta, não demorou a circular pelo mundo todo.

Mas à medida que novos detalhes começaram a emergir –sobre infidelidade conjugal; sobre acusações implicando outras integrantes do time; sobre revelações de telefonemas ameaçadoras a outras jogadoras nos quais a vítima foi criticada antes da agressão–, isso inverteu completamente a história inicial.

E agora ninguém está certo sobre em que, ou em quem, acreditar.

Mais de três semanas se passaram desde que Diallo, 26, saiu da delegacia em Versalhes, libertada depois de dois dias de interrogatórios e de uma noite passada em uma cela pequena e malcheirosa. A investigação prossegue, mas a polícia não parece estar mais perto de descobrir o que, ou quem, esteve por trás do ataque, acontecido em 4 de novembro em uma rua escura do subúrbio parisiense de Chatou.

Alguns fatos são claros. Hamraoui, 31, foi vítima de um crime grave. Diallo foi interrogada e libertada. Nenhum dos agressores foi identificado. Nenhuma arma usada foi encontrada. E ninguém foi acusado de qualquer crime.

Mas ao apurar os fatos sobre as semanas tumultuosas que transcorreram desde o ataque, o The New York Times constatou também que Hamraoui havia em alguns momentos dado a entender que outras pessoas ligadas ao clube, entre as quais pelo menos duas colegas de time, podiam estar envolvidas no ataque; que, embora o Paris Saint-Germain tenha mantido Hamraoui e Diallo separadas do resto do time, e uma da outra, em seus treinos, há semanas, um engano de agenda gerou uma interação que resultou na troca de declarações ásperas; e que embora a polícia tenha libertado Diallo sem acusá-la, se recusou a inocentá-la de todas as suspeitas, e reteve os dois celulares e o laptop da atleta.

Os danos colaterais causados pelo incidente, enquanto isso, continuam a se agravar. Diallo e Hamraoui tiveram seus nomes maculados e suas carreiras prejudicadas. A harmonia do vestiário do Paris Saint-Germain foi destruída, o que prejudica as ambições de título de um dos melhores times da Europa. E o casamento de um herói do futebol francês que foi arrastado ao caso terminou: a mulher do atleta divulgou um comunicado afirmando que queria o divórcio, depois de seu marido ter admitido, segundo o advogado dela, que estava tendo um caso extraconjugal com Hamraoui.

O The New York Times recolheu informações sobre a agressão, e sobre o que aconteceu depois dela, por meio de entrevistas com quase uma dúzia de pessoas diretamente informadas sobre os envolvidos, a agressão e os dias seguintes, entre as quais amigos, parentes e conhecidos das jogadoras e seus advogados, além de fontes bem informadas sobre o Paris Saint-Germain e a polícia.

Muitos dos entrevistados buscaram refutar a narrativa existente de ciúme e traição e quase todos só concordaram em falar sob a condição de que seus nomes não fossem mencionados, dada a delicadeza do caso.

Mas o caminho adiante parece tão complicado quanto o presente: Hamraoui conversou com a polícia de novo na semana passada, e Diallo provavelmente também voltará a ser interrogada. As jogadoras voltaram a treinar com as colegas na terça-feira, mas o caso agora foi encaminhado a um magistrado que conduzirá a investigação, um processo que pode demorar até 18 meses. Ao longo desse período, as autoridades e as jogadoras continuarão a tentar a deslindar aquele minuto de violência em uma rua escura, que mudou as vidas de ambas.

As pessoas presentes não viram nada de especial no jantar em um restaurante fino localizado em uma ilha em um dos maiores parques de Paris, na primeira semana de novembro.

As jogadoras foram convidadas pelo clube para uma refeição, em um esforço para manter a coesão do time, que as ajudou a começar a temporada sem derrotas, e a fim de prepará-las para os desafios que as aguardavam.

Sakina Karchaoui (dir.) esteve com Diallo e Hamraoui no dia do ataque
Sakina Karchaoui (dir.) esteve com Diallo e Hamraoui no dia do ataque - Patrick Hertzog - 10. jun.2021/AFP

Diallo concordou em dar uma carona a Hamraoui e a outra jogadora, Sakina Karchaoui, depois que o clube pediu que as jogadoras fossem juntas ao restaurante, porque as vagas de estacionamento eram limitadas, As três jogadoras, que moram na mesma região, no subúrbio ao noroeste de Paris, tinham se aproximado bastante desde que chegaram ao clube na janela de transferência da metade do ano, Hamraoui vinda do Barcelona, Karchaoui do Lyon e Diallo de um breve período de empréstimo ao Atlético de Madrid. Mas Diallo e Hamraoui, que já tinham jogado juntas em uma passagem anterior pelo Paris Saint-Germain e servido juntas à seleção francesa, eram especialmente próximas; tinham até viajado juntas nas férias.

Depois do jantar, por volta das 22h30, as três mulheres voltaram ao carro de Diallo, um Toyota Corolla fornecido pelo clube, para a jornada de volta. Hamraoui se acomodou no assento frontal de passageiro, Diallo registrou o endereço de Karchaoui em seu app de navegação, e elas iniciaram o percurso.

Depois de deixar Karchaoui, e enquanto Diallo manobrava com cuidado entre carros estacionados, dois homens mascarados emergiram de trás de um furgão. Pularam sobre o capô do carro, exigindo que ela parasse, e gritando para que Diallo e Hamraoui abrissem as portas.

Os agressores agiram rapidamente. Um abriu a porta da motorista e segurou Diallo contra o volante. O outro arrancou Hamraoui do assento de passageiro.

"O homem do meu lado me agarrou e me arrancou do veículo", disse Hamraoui à polícia mais tarde, de acordo com detalhes de suas declarações publicados pela mídia francesa. "Antes de fazê-lo, ele apanhou uma barra retangular de ferro que trazia escondida nas calças ou sob a blusa, e começou a me bater com ela desde o começo do ataque, para me forçar a sair.

Hamraoui disse que caiu na rua. "O agressor me atingiu diversas vezes com a barra de ferro", ela disse. "Vi que o alvo dele eram as minhas pernas, e tentei me proteger com as mãos."

Hamraoui disse que se recorda de ter ouvido um dos agressores gritar alguma coisa sobre um homem casado. Diallo mais tarde diria à polícia que ouviu uma sentença completa: "É assim, então, você sai tocando homens casados?"

Diallo também disse que ouviu insultos de natureza sexual por sobre os gritos agoniados de Hamraoui, enquanto o agressor a espancava.

O ataque durou menos de um minuto, e os atacantes fugiram. Hamraoui, que sangrava de um ferimento na mão, voltou para dentro do carro. Ela e Diallo ligaram imediatamente para Karchaoui, cuja casa ficava a menos de 100 metros de onde estavam, para contar o que tinha acontecido e pedir que se juntasse a elas no carro. Depois, elas se encaminharam a um pronto-socorro próximo.

Enquanto Diallo dirigia, as jogadoras alertaram o vice-diretor de segurança do Paris Saint-Germain, Frédéric Doué, que chegou ao hospital acompanhado por Bernard Mendy, treinador assistente do time feminino. Uma amiga de Hamraoui logo apareceu no pronto-socorro também.

Com os ferimentos de Hamraoui tratados mas os agressores não identificados, dirigentes do clube disseram às jogadoras que elas de maneira alguma deveriam voltar às suas casas. Em lugar disso, o time conseguiu acomodações para as três em um Holiday Inn perto do centro de treinamento da equipe, cerca de 16 quilômetros a oeste do centro de Paris.

As três mulheres conheciam o hotel; tinham passado algumas semanas lá depois de se transferirem ao Paris Saint-Germain, meses antes. Karchaoui e Hamraoui dividiram um quarto e Diallo ficou no quarto ao lado. A amiga de Hamraoui também passou a noite lá.

No hotel, as mulheres discutiram quem poderia estar por trás do ataque. Hamraoui insistiu desde o começo em que alguém do clube estava envolvido, de acordo com pessoas informadas sobre essas conversas. As jogadoras também discutiram um estranho episódio acontecido duas semanas antes, quando diversas colegas de time receberam telefonemas anônimos de um homem, que falou mal de Hamraoui. Mas enquanto continuavam conversando noite adentro, Hamraoui também mencionou outros potenciais suspeitos, em determinado momento falando do marido de uma quarta colega de time, que trabalha como agente.

Na manhã seguinte, depois de algumas horas de sono inquieto e preocupado, as mulheres voltaram a examinar o acontecido. Enquanto conversavam, Hamraoui recebeu um telefonema. Era Eric Abidal, ex-jogador da seleção francesa de futebol com quem ela tinha feito amizade no Barcelona, onde ela jogou por três temporadas e ele trabalhava como diretor técnico.

Hamraoui perguntou a Abidal se a mulher dele poderia querer machucá-la, antes de lhe contar que tinha sido agredida. Com o telefone em viva-voz, as pessoas na sala puderam ouvir a resposta dele: Abidal pareceu chocado. Mais algumas palavras foram trocadas, e a conversa terminou.

Karchaoui e Diallo logo deixaram o hotel, juntas, para tomar café no centro de treinamento do clube em Bourgival, onde treinaram antes de conversar com membros da direção do clube para relatar detalhes do ataque (Hamraoui não as acompanhou porque foi encaminhada para novo tratamento de suas lesões). Mais tarde, as jogadoras e diversas das colegas de time que tinham recebido telefonemas ameaçadores foram à delegacia de polícia para prestar mais declarações.

O clube, preocupado com o ataque a uma jogadora, designou membros de sua equipe de segurança para vigiar as casas de Diallo, Hamraoui e Karchaoui nos dias seguintes, mas as notícias sobre a agressão não circularam fora do Paris Saint-Germain.

Campeão pelo Barcelona, Abidal teve caso extraconjugal com Hamraoui
Campeão pelo Barcelona, Abidal teve caso extraconjugal com Hamraoui - Lluis Gene - 28.mai.2011/AFP

Dentro do time, porém, a tensão crescia. Kadidiatou Diani, atacante da seleção francesa de futebol, zangada por Hamraoui ter mencionado seu marido como possível suspeito –ele não foi implicado e nem mesmo questionado pela polícia– confrontou a colega enquanto Hamraoui se exercitava em uma bicicleta.

Em 9 de novembro, menos de uma semana depois do ataque, Diallo substituiu Hamraoui em um jogo da Champions League contra o Real Madrid. Karchaoui também jogou. Não parecia haver coisa alguma de errado, além da ausência de Hamraoui, que foi explicada pelo clube com a afirmação de que ela estava de fora por "motivos pessoais". O Paris Saint-Germain venceu mais uma vez. Até aquela partida, a defesa da equipe não tinha sofrido nem mesmo um gol na temporada.

Naquela noite, como faz depois da maioria dos jogos, Diallo ficou acordada até tarde; a adrenalina da partida a manteve desperta até as 3h. Ela mal tinha dormido, dizem pessoas próximas à jogadora, quando poucas horas mais tarde foi acordada por batidas à sua porta. Ao abrir, ela encontrou quatro policiais.

De maneira polida mas firme, um dos policiais disse a Diallo que ela teria de acompanhá-los à delegacia. Outros policiais revistaram sua casa e recolheram alguns itens, entre os quais dois celulares e um laptop. Na delegacia, Diallo recusou a oferta de ter um advogado presente durante seu interrogatório.

Desde o momento em que a polícia começou a lhe fazer perguntas, Diallo percebeu que Hamraoui a havia apontado como suspeita. A polícia deu a entender que Diallo havia seguido um caminho diferente, depois do jantar, do que aquele que mencionou inicialmente. Eles a questionaram sobre os motivos de estar dirigindo tão devagar ao sair da casa de Karchaoui. E depois propuseram uma teoria, mais tarde revelada por um jornal francês enquanto ela ainda estava detida: a de que o ataque pode ter sido motivado por seu desejo de conquistar a posição de Hamraoui no meio de campo do time principal.

Foi essa afirmação que arremessou a história ao noticiário internacional e gerou comparações com a infame agressão à patinadora Nancy Kerrigan, em 1994.

A polícia se concentrou na mesma série de perguntas durante interrogatórios repetidos a Diallo, centradas principalmente no percurso do carro e nas ações dela durante o ataque. Mas também lhe foram feitas perguntas sobre sua conexão com um homem aprisionado em Lyon por crimes não relacionados, entre os quais extorsão. O homem, conhecido como Ja Ja, era conhecido de diversas jogadoras de futebol, disse Diallo à polícia, entre as quais Hamraoui. A polícia mais tarde confirmou que ele também estava sendo questionado sobre o ataque.

Depois de inicialmente tentar manter o assunto em segredo, Diallo terminou por revelar aos interrogadores que tinha ouvido um dos agressores acusar Hamraoui de dormir com um homem casado. (No final de seu quinto interrogatório, a polícia tinha descoberto que o chip no celular de Hamraoui estava registrado em nome de Abidal; Hamraoui só tinha dito que estava no nome de um ex-namorado.)

Àquela altura, Diallo disse a amigos, ela percebeu um abrandamento das questões da polícia. Mas ainda assim foi informada de que teria de passar a noite em uma cela porque no dia seguinte teria de participar de uma "acareação" com Hamraoui –uma característica das investigações criminais francesas, na qual versões de um acontecimento são apresentadas a suspeitos e testemunhas ao mesmo tempo, e estes são autorizados a responder.

Para tornar a estadia dela mais confortável, a polícia permitiu que Diallo, que é muçulmana, pedisse seu jantar usando um app de delivery. Ela escolheu um sanduiche de frango halal.

Só no final da tarde do dia seguinte Diallo enfim pôde encarar Hamraoui. Ela diria mais tarde a amigos e parentes que ouvir a acusação feita contra ela lhe pareceu "bizarro": a de que Hamraoui tinha ouvido de outras colegas de time que Diallo era responsável pelo ataque. Diallo negou a acusação. A acareação durou cerca de uma hora. Quando terminou, Diallo foi autorizada a deixar a delegacia.

Na entrada da delegacia, ela foi apanhada por um amigo. A caminho de casa, a escala de sua celebridade indesejada rapidamente se tornou clara, quando ela encontrou centenas de mensagens de texto recebidas de amigos, parentes e outros.

Naquela noite, Diallo contratou um advogado, Mourad Battikh, para representá-la. No dia seguinte, o diretor geral do Paris Saint-Germain, Ulrich Ramé, acompanhado por um médico, visitou Diallo em casa. Eles insistiram em que ela passasse algum tempo com a família, para se recuperar. Ela rebateu que estava pronta para voltar aos treinos, e que só o que queria fazer era voltar a jogar. O clube rapidamente deixou claro que isso inicialmente não seria possível.

Em razão de uma pausa na agenda do Paris Saint-Germain, Diallo por fim decidiu viajar a Grenoble e visitar sua família, que tinha sido informada sobre o ataque, e a detenção dela, pela mídia.

Um primo, Abou Dieng, disse ao The New York Times que Diallo só queria voltar a entrar em campo pelo Paris Saint-Germain, o time pelo qual sempre sonhou jogar. "Nós nem falamos sobre Hamraoui", ele disse. "Falamos só de futebol e de um retorno aos treinos".

Ao voltar a Paris, Diallo passou a treinar sozinha. O mesmo aconteceu com Hamraoui; o clube marcava horários de treino separados para as duas e se esforçava para garantir que nunca estivessem no mesmo local de treinamento na mesma hora (mas nem sempre com sucesso). O purgatório de ambas começou a acabar na segunda-feira, quando elas treinaram juntas pela primeira vez desde a agressão, depois de uma intervenção do sindicato nacional dos jogadores de futebol da França. As duas voltaram a treinar com as colegas na terça-feira, mas um dirigente do clube anunciou que nenhuma das duas viajaria com o time à Ucrânia na metade da semana para um jogo da Champions League.

Nem Diallo e nem Hamraoui disseram qualquer coisa em público sobre o ataque, ou o que aconteceu depois. Mas poucos dias depois que Diallo foi libertada da delegacia, Battikh deu uma entrevista na TV francesa e descreveu a detenção de sua cliente como "difamatória, escandalosa e incoerente". Poucas horas mais tarde, Said Harir, o advogado de Hamraoui, também deu uma entrevista, exibindo imagens que mostravam em detalhes explícitos os ferimentos sofridos por sua cliente.

O Paris Saint-Germain, que se recusou a comentar para esta reportagem, disse pouco, em meio às reviravoltas e complicações da trama, que agora parecem incluir o fim do casamento de Abidal. Um advogado que representa a mulher dele, Hayet, anunciou que ela pediu o divórcio e divulgou uma declaração, em 18 de novembro, na qual Hayet Abidal afirma que seu marido admitiu um caso extraconjugal com Hamraoui. Abidal mais tarde apelou pelo perdão de sua mulher no Instagram.

Hayet Abidal negou qualquer envolvimento no ataque. Mas Maryvonne Caillebotte, a promotora inicialmente encarregada do caso, disse ao jornal Le Monde no mês passado que Abidal "seria ouvido em breve", e não excluiu a possibilidade de obter o depoimento de sua mulher.

Battikh, o advogado de Diallo, continua furioso com a maneira como ela foi tratada pela polícia. "No caso de Aminata eles mostram os músculos, e a colocam na cadeia", disse Battikh. "Mas no caso de Eric Abidal –alguém forte, famoso e popular–, eles esperam, agem lentamente, e garantem que não cometerão qualquer erro."

A equipe feminina do Paris Saint-Germain continua abalada pela crise. Seu primeiro jogo depois que a notícia surgiu foi uma goleada por 6 a 1 sofrida contra seu principal rival na disputa do título francês, o Lyon, o que prejudicou as chances do clube de conquistar o bicampeonato. Depois disso, algumas colegas de Hamraoui pediram para trocar de armário no vestiário, a fim de se distanciarem dela. Outras disseram a dirigentes do clube que é difícil voltar a jogar com ela. Diversas das melhores jogadoras do clube só querem que a confusão toda acabe.

Enquanto isso, os agressores continuam soltos, e ninguém é capaz de dizer como o caso vai terminar. Um ataque premeditado como o infligido contra Hamraoui pode resultar em cinco anos de prisão, de acordo com uma porta-voz da polícia de Versalhes.

Diallo quer justiça, disse seu advogado. Ela está convicta de sua inocência e determinada a prosseguir sua carreira no Paris Saint-Germain, onde só tem mais seis meses de contrato. "A reputação dela foi prejudicada por jornais do mundo inteiro", disse Battikh, seu advogado.

Hamraoui também quer justiça, e continua a acreditar que a verdade será encontrada dentro de seu clube de futebol. Foi o que ela disse em um depoimento recente à polícia, em 29 de novembro; os investigadores, de acordo com uma pessoa informada sobre esse depoimento, lhe perguntaram de novo sobre as ações de Diallo no percurso do restaurante para casa, e sobre a rota que ela escolheu.

Em seu escritório em um bairro elegante perto da Champs-Élysées, Harir, o advogado de Hamraoui, disse que o foco precisa continuar a ser encontrar quem ordenou o ataque. "Nossa expectativa é de que os culpados sejam acusados rapidamente", ele disse.

"O que ela quer hoje", ele acrescentou, falando sobre Hamraoui, "é que sua vida privada seja respeitada e que seu status como vítima seja respeitado".

Tradução de Paulo Migliacci

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