Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 evangélico

É pecado acompanhar os Jogos Olímpicos?

O cristianismo foi o motivo para o evento ser proibido na antiguidade; hoje, perfil do crente como alguém que rejeita os esportes, como se fosse uma atividade mundana, tem sido alterado

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Daniel Guanaes

PhD em teologia pela Universidade de Aberdeen, é pastor na Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro, e psicólogo

Os Jogos Olímpicos começaram na antiguidade, em 776 a.C., na cidade de Olímpia, na Grécia. Eles eram realizados em honra a Zeus, o principal deus do panteão grego, e incluíam diversas competições atléticas, como corridas e lutas. Esses jogos continuaram até aproximadamente 393 d.C., quando foram proibidos pelo imperador romano Teodósio 1º, como parte de seus esforços para promover o cristianismo e eliminar práticas pagãs.

As Olimpíadas modernas foram retomadas em 1896, mas a controvérsia sobre a pertinência do evento não é tema superado. Em algumas tradições evangélicas, por exemplo, ainda há quem pense que os jogos são incompatíveis com a sua religião.

Um ex-líder de uma denominação pentecostal, que preferiu não se identificar, relatou que não pôde acompanhar o evento durante os 30 anos em que foi pastor. Faltar a um culto para assistir as Olimpíadas "não pegava bem". Era como se você estivesse dividido entre Deus e os Jogos. No grupo de WhatsApp de jovens de uma igreja Batista, uma mensagem expressava o mesmo receio: "os Jogos são importantes, mas Deus é mais".

A imagem mostra os cinco anéis olímpicos em cores vibrantes (azul, amarelo, preto, verde e vermelho) posicionados na areia de uma praia. O céu ao fundo está parcialmente nublado, com nuvens e uma luz suave do sol nascente ou poente. Há também algumas silhuetas de pessoas ao fundo, interagindo com a cena.
Aníes olímpicos na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro - Diego Padgurschi - 1º.ago.16/Folhapress

É como se a opção por acompanhar o evento fosse uma negação da fé –sobretudo se uma agenda dos Jogos coincidir com o horário de um culto.

Essa forma de encarar os Jogos Olímpicos, todavia, não representa o pensamento da maioria do segmento evangélico. O perfil do crente como alguém que rejeita os esportes, como se fosse uma "atividade mundana", tem sido alterado –mesmo nas denominações mais rigorosas.

As Olimpíadas acabam sendo um incentivo à prática esportiva. Em algumas igrejas, grupos inserem o calendário das partidas nas suas agendas. Projetam as disputas nos telões dos templos e convidam os membros para assistirem. O clima é de festa.

A representatividade evangélica entre os atletas dos Jogos de Paris ajuda a desmistificar o assunto. A skatista Rayssa Leal e a ginasta Rebeca Andrade, por exemplo, são atletas conhecidas por sua fé. Gabriel Medina, um dos representantes do país no surfe olímpico, também é outro que não esconde o lugar de Deus na sua trajetória. Sua família é evangélica, e, em entrevistas e postagens, ele costuma incluir a fé nas razões das suas vitórias e superações.

Essa presença de evangélicos nas Olimpíadas ajuda a remodelar a percepção dos mais conservadores em relação ao tema.

Além disso, a própria bíblia faz alusão ao esporte como metáfora para a vida. Em um trecho da primeira carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo usa a paixão grega pela corrida para encorajar os cristãos a serem disciplinados no exercício da sua missão.

Os Jogos Olímpicos são uma celebração da vida. Falam sobre determinação, disciplina e superação. Eles estimulam a competitividade e a fraternidade e ensinam tanto a saber ganhar quanto a perder. Inspiram o cuidado da saúde, e aproximam as pessoas umas das outras.

O imperador Teodósio 1º pode ter tido as suas razões para julgar o evento pagão. Mas poucos eventos mundiais reúnem tantos ensinamentos cristãos como as Olimpíadas.

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