Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Alemanha e Cuba passam de potências olímpicas em Barcelona-1992 a coadjuvantes em Paris-2024

Nações estavam entre as maiores laureadas há 32 anos, no fim da Guerra Fria, mas hoje não repetem o mesmo desempenho

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São Paulo

Nas Olimpíadas de Barcelona-1992, Alemanha e Cuba eram potências esportivas e ocupavam a terceira e a quinta posições no quadro de medalhas, respectivamente. A dois dias do fim de Paris-2024, nesta sexta-feira (9), as duas nações estão em colocações intermediárias —9ª e 25ª—, longe da briga pela liderança da lista, entre Estados Unidos e China.

O que se viu nesses 32 anos foi uma queda de desempenho dos dois países, que não conseguem mais as mesmas vitórias de antes. De acordo com Ary José Rocco Jr, professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), tanto o sucesso em Barcelona quanto o declínio subsequente foram em decorrência da queda do Muro de Berlim, em 1989, uma das marcas do fim da Guerra Fria, período do embate entre Estados Unidos e a então União Soviética, uma disputa política que acabou envolvendo outras áreas, inclusive o esporte.

Três atletas estão no pódio durante uma cerimônia de premiação. O atleta à esquerda veste uma jaqueta branca com detalhes em vermelho e azul, representando Portugal. O atleta do meio usa um uniforme vermelho e amarelo, representando a Espanha, e segura uma medalha de ouro. O atleta à direita está vestido com uma jaqueta preta com a palavra 'ITALIA' em branco, representando a Itália, e segura uma medalha de bronze.
Os três atletas do pódio do salto triplo são nascidos em Cuba: Pedro Pichardo (à esq., prata), representa Portugal; Jordan Alejandro Diaz Fortun (centro, ouro), a Espanha; e Andy Diaz Hernandez (bronze), a Itália - Anne-Christine Poujoulat/AFP

Com o apoio da União Soviética, o governo da Alemanha Oriental investia fortemente na infraestrutura esportiva, e também em doping, para conquistar muitas medalhas, que eram usadas como ferramenta de marketing político. Para não ficar atrás, o governo do lado ocidental também investia, o que deixava as duas nações entre as principais potências.

O mesmo acontecia com Cuba. A proximidade do país comunista com os Estados Unidos fazia com que o governo cubano recebesse grande investimento da União Soviética, o que possibilitou a construção de instalações esportivas de ponta.

"A partir do momento em que há a dissolução da antiga União Soviética, esses recursos financeiros em Cuba vão diminuir, o que faz com que o país tenha uma estrutura de valorização do esporte, mas as instalações, os investimentos necessários para a medicina esportiva e todo aquele suporte do esporte vão se perder. Atualmente, aquela estrutura ainda existe, mas está obsoleta", diz Rocco Jr.

Com o fim da guerra, a dissolução da União Soviética e a reunificação da Alemanha, as edições olímpicas seguintes ainda tiveram a influência do poderio vivenciado até então.

"A Alemanha já unificada vai pegar um pouco esse rescaldo dessa estrutura esportiva muito financiada pelo Estado. Só que depois da unificação a parte oriental perdeu força. A parte rica da Alemanha hoje é a que era da Alemanha Ocidental", destaca o professor.

Um outro fator desencadeado pelo fim da Guerra Fria, segundo Rocco Jr., foi a mudança do cenário esportivo. O financiamento estatal praticamente acabou, dando espaço para um outro tipo de investimento: o privado, no qual empresas multinacionais começaram a investir por interesses comerciais.

"Isso vai ter um impacto direto na criação e no desenvolvimento da indústria do esporte como a gente conhece hoje e, consequentemente, vai trazer uma procura por uma melhoria na gestão. E aí a gestão vai trazer para esse universo dos Jogos Olímpicos uma série de outros atores, como a Austrália, a China, a própria Grã-Bretanha, que no auge da Guerra Fria perde muita importância."

Com outras nações crescendo de rendimento, Cuba e Alemanha, já sem o mesmo investimento de antes, começaram a perder espaço. Mais os cubanos, devido aos embargos econômicos impostos ao país pelos Estados Unidos.

A partir dos anos 1990, o esporte do país passou a perder muitos de seus atletas, que desertavam para fugir da pobreza e ganhar a vida em outra nação, recebendo dinheiro para isso. O jogador de vôlei Leal, que defendeu a seleção brasileira em Paris, é um exemplo.

A final do salto triplo, nesta sexta, no Stade de France, é outro.

Quatro saltadores nascidos em Cuba disputaram a prova, e três deles ocuparam todos os lugares do pódio. No entanto, a ilha ficou sem medalha. O único que representava o país, Lazaro Martínez, terminou em oitavo. O ouro ficou com Jordan Alejandro Díaz Fortun, naturalizado espanhol, seguido por Pedro Pichardo, que defende Portugal, e Andy Díaz Hernández, com a camisa da Itália.

"A questão do dinheiro passou a contar muito na performance e no investimento esportivo. A forma de financiamento do esporte passou a ser fundamental. Então, por conta de problemas econômicos e financeiros, Cuba não conseguiu acompanhar a evolução de outros países no mundo", diz o professor.

E como atualmente existem muitos países que se especializam em modalidades específicas, a distribuição de medalhas aumentou, tirando pódios das potências atuais, mas também de Cuba e da Alemanha. Em relação aos caribenhos, não há expectativa de melhora. A Alemanha, por outro lado, tem recursos suficientes para investir no esporte e tentar voltar a ser a força de antigamente. O tempo dirá.

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