Descrição de chapéu Primeira vez

Lula apareceu pela primeira vez na Folha em meio à ascensão como líder sindical

Ex-presidente completa 75 anos nesta terça; seção lembra estreia de personagens nas páginas do jornal

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa 75 anos nesta terça-feira (27). Sétimo filho de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo, a dona Lindu, ele só foi registrado anos mais tarde, o que fez com que tivesse outra data de nascimento no documento, 6 de outubro.

Sua trajetória é amplamente conhecida. Nascido em 1945 em Garanhuns (230 km de Recife), no agreste nordestino, tinha sete anos quando migrou para o sul do país, indo morar primeiro em Santos e depois em São Paulo.

Virou presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em 1975, liderou greves gerais nos anos de 1978 a 1980 e foi um dos fundadores e o primeiro presidente do PT (Partidos dos Trabalhadores).

Em 1982, disputou o governo de São Paulo, vencido por Franco Montoro. Em 1986, foi eleito deputado federal com a maior votação do país para a Assembleia Nacional Constituinte. Em 1989, disputou pela primeira vez à Presidência da República e foi derrotado por Fernando Collor de Mello no segundo turno.

Tentou novamente em 1994 e 1998 e, no entanto, perdeu as duas disputas no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 2002, chegou à Presidência da República ao bater o tucano José Serra. A Carta ao Povo Brasileiro, para acalmar o mercado financeiro de que não haveria uma disrupção econômica caso eleito, é considerada estratégica naquela vitória.

O crescimento econômico de 2003 a 2010 e a distribuição de riqueza com programas como Bolsa Família fez Lula encerrar seu mandato, em 2010, no auge de sua popularidade, com 83% de avaliação ótima ou boa, um recorde, segundo pesquisa Datafolha da época. Manteve-se com alta aprovação mesmo depois do escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005.

Lula conseguiu reeleger sua sucessora, a ex-ministra Dilma Rousseff, cuja gestão econômica levou o país à recessão. O tumultuado impeachment que a afastou do cargo e a prisão de Lula em 2018 pela Lava Jato de Sergio Moro –com métodos bastante criticados desde o início da operação-- marcaram o fim da onda esquerdista no Brasil e ascensão de Jair Bolsonaro ao poder.

Essa é a história de Lula que o Brasil conhece. A seção “Primeira Vez”, da Folha, busca agora contar uma história menos conhecida: a estreia de Lula nas páginas do jornal.

Essa série de textos traz a primeira aparição de personagens e temas nas páginas da Folha e faz parte do Folha, 100, projeto responsável pelo centenário do jornal, a ser comemorado em 19 de fevereiro de 1921.

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No começo dos anos 1960, São Bernardo do Campo (SP) ficou conhecida como a "capital do automóvel" do Brasil. A revolução sobre rodas que mudou a cidade do ABC começou em 1956, quando o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) criou um órgão para incentivar e supervisionar a produção nacional, dando início à indústria automobilística brasileira.

Até então, multinacionais como a americana Ford faziam aqui apenas a montagem dos veículos, com peças trazidas do exterior. As linhas de montagem ficavam concentradas nos bairros do Ipiranga e da Vila Prudente, em São Paulo.

As pioneiras em São Bernardo do Campo, em 1956 e 1957, foram a americana Willys Overland e a alemã Mercedes Benz. A consolidação como "capital do automóvel" ocorreu 1959, com a inauguração da fábrica da Volkswagen em um terreno com 1,6 milhão de metros quadrados no km 23,5 da via Anchieta.

No auge da produção, no início dos anos 70, a Volks empregava 23 mil pessoas.

É nesse contexto que, em 15 de julho de 1975, o nome do ex-presidente Lula apareceu pela primeira vez na Folha como Luiz Inácio da Silva, em nota publicada na página 22 do caderno de economia daquele dia.

A reportagem principal tinha como título “A Ford conseguiu-se recuperar em junho” e dizia que a empresa havia vendido 2.879 Mavericks, “o que representa uma grande recuperação em relação aos primeiros meses do ano”.

Uma nota no final da mesma página, no entanto, trazia um clima diferente para a alemã Volkswagen. “Apreensão em S. Bernardo”, era o título.

“Os empregados da Volkswagen temem que possa haver dispensa ao final das férias coletivas, no dia 25, concedidas a dois mil trabalhadores da linha “Passat”. Isto foi o que afirmou ontem em entrevista exclusiva a este jornal, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diadema, Luiz Inácio da Silva”, dizia o primeiro parágrafo.

Reprodução Primeira Vez Lula
Reprodução da Folha de 15 de julho de 1975 - Reprodução/Acervo Folha

O motivo das férias, segundo o texto, é que havia cerca de 4 mil modelos Passat encalhados nos pátios da Volkswagen.

“Segundo Luiz Inácio, o Sindicato dos Metalúrgicos mantém contatos permanentes com a Volks”, continuava o texto.

Nessa época, a indústria da região começava a enfrentar algumas crises que levariam às greves capitaneadas por Lula a partir de 1978, na qual ele consolidou sua liderança no meio sindical e sua entrada na política.

Em 16 de abril de 1976, a grafia errada Luis Inácio da Silva aparecia pela primeira vez na Folha. No texto “Aumento salarial de 42% aos metalúrgicos de SBC”, Lula defendia, mais uma vez, os interesses dos trabalhadores das gigantes automotivas. A grafia incorreta persistiu nos anos seguintes.

É em 13 de agosto de 1978 que o apelido Lula, enfim, apareceu. A estreia se dá numa coluna de Cláudio Abramo, que havia sido Diretor de Redação do jornal até o ano anterior. O título era “... cinco, seis, sete…”


“O MDB de São Paulo parece tão confiante na vitória esmagadora a 15 de novembro [haveria eleições gerais naquele ano] como estavam Napoleão ao entrar na Rússia e Stálin ao invadir a Finlândia.” O jornalista lembra que tanto Napoleão quanto Stálin acabaram decepcionados e alerta o partido do Movimento Democrático Brasileiro de que “é preciso que comece a pensar com certa racionalidade, esquecendo a retórica e os jogos de cintura”.

No final do texto, Cláudio Abramo comentava os apoios recebidos por um futuro senador.

“O candidato a senador F.H.Cardoso recebeu apoio do cardeal arcebispo dom Paulo Evaristo Arns e do líder sindical Luis Inácio (Lula) da Silva; esse apoio foi publicado no jornal de campanha do candidato, mas não anunciado pelo MDB; erro de avaliação e erro de cálculo; a não ser quem o tablóide de propaganda de F.H. sabe disso, o resto da população não sabe. E os termos desse apoio são suficientemente veementes e eloquentes para não deixar dúvida quanto ao peso específico”.

Uma ironia reside nesse apoio do líder sindical ao sociólogo Fernando Henrique Cardoso: nos anos 90, os dois seriam grandes rivais nas disputas de 1994 e 1998.

Só em 26 de outubro de 1983 que Luiz Inácio Lula da Silva, com o Lula e o Luiz com Z, tal como ficou nacionalmente conhecido, apareceria pela primeira vez na Folha.

“Apesar de tensão, atos da CUT são realizados sem incidentes” era o título do texto, em que Lula criticava o governador Franco Montoro, que o havia derrotado na disputa estadual de 1982.

“Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do PT, criticou a proibição por algumas horas da manifestação em Santo André. ‘A proibição só pode ter partido do governador Franco Montoro”, disse ele, comparando tal atitude à do presidente Figueiredo “ao decretar medidas de emergência em Brasília."

Este texto faz parte da série Primeira Vez, que mostra quando temas e personagens estrearam nas páginas do jornal.

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