Economia brasileira cai 1,7% no 3º trimestre e prolonga recessão
O PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção e da renda do país, caiu 1,7% no terceiro trimestre deste ano, na comparação aos três meses imediatamente anteriores, para R$ 1,481 trilhão, informou o IBGE nesta terça-feira (1º).
O resultado é pior do que a expectativa de economistas consultados pela agência internacional Bloomberg, de queda de 1,2% do PIB no período.
Trata-se do terceiro trimestre consecutivo de queda do PIB, a mais longa sequência desde o ano de 1990, quando o governo Collor confiscou o dinheiro depositado na caderneta de poupança para tentar conter a hiperinflação.
PIB - Tri. x tri. imediatamente anterior, em %
O PIB já havia caído 0,8% no primeiro trimestre e 2,1% no segundo trimestre, na comparação com os três meses anteriores, segundo dados revisados pelo IBGE. A economia entra tecnicamente em recessão depois de retrair por dois trimestres seguidos.
Segundo Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, o resultado do PIB reflete a fraqueza da demanda interna brasileira, afetada pela piora do emprego e renda, crédito mais restrito, inflação mais alta.
"Estamos vendo assim taxas mais negativas na economia", disse Dionísio.
A queda no Brasil é a mais longa e a mais forte de 41 economias globais que já divulgaram dados do PIB referentes ao período de julho a setembro.
Pela avaliação da FGV (Fundação Getúlio Vargas), entretanto, a recessão começou há ainda mais tempo, no segundo trimestre de 2014, quando houve uma piora geral dos indicadores econômicos.
Segundo a estimativa de economistas consultados pelo Banco Central, o recuo em 2015 como um todo deve ser de 3,2% e, em 2016, de 2% —as previsões têm piorado semanalmente.
RECUO DE 4,5% COMPARADO COM 2014
Quando comparado ao mesmo período de 2014, o PIB teve um recuo de 4,5% de julho a setembro. A economia assim recuou 3,2% no ano e 2,5% no acumulado de quatro trimestres (12 meses).
Nesta base de comparação, foi a queda mais intensa da série histórica da pesquisa, iniciada em 1996, considerando todos os trimestres. E também a sexta queda consecutiva, a maior sequencia da série histórica.
A queda é maior do que aquela esperada para o período por economistas consultados pela agência internacional Bloomberg, de 4,2%.
No acumulado do ano, o PIB encolhe 3,2%, a maior queda da série histórica, de 1996. No acumulado de quatro trimestres (12 meses), a economia teve uma queda de 2,5%.
A economia brasileira sofre com uma combinação de fatores, desde a perda de dinamismo do crescimento econômico global até a conta de anos de uma política econômica que fragilizou as finanças públicas. A crise política também não dá trégua.
Os principais componentes do PIB tiveram queda neste terceiro trimestre. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias recuou 1,5% e os investimentos tiveram queda de 4% frente aos três meses anteriores. Pela ótica da oferta, a indústria teve uma baixa de 1,3% no mesmo tipo de comparação.
FAMÍLIAS REDUZEM AINDA MAIS O CONSUMO
As famílias brasileiras voltaram a reduzir suas compras, pressionadas pela combinação de queda na renda, inflação elevada, crédito mais restrito. O consumo das famílias recuou 1,5% frente ao segundo trimestre e 4,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os setores produtivos também diminuíram seus gastos devido à falta de confiança na economia. Essa resistência em investir deve dificultar ainda mais a retomada do crescimento em 2016.
Os investimentos em máquinas, equipamentos e na construção tiveram queda de 4% frente ao segundo trimestre deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2014, a queda foi de 15%.
Segundo o IBGE, o consumo do governo —o que inclui União, Estados e municípios— continuou crescendo no terceiro trimestre, em 0,3% frente aos três meses anteriores. Frente ao mesmo período de 2014, porém, houve queda de 0,4%.
AGRONEGÓCIO TEM QUEDA
O setor agropecuário contribuiu negativamente para o PIB, com baixa de 2,4% na passagem do segundo para o terceiro trimestre. Frente ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 2%.
Os dados revisados também apontam para um recuo ainda maior da agropecuária no segundo trimestre. O valor anterior, de 2,7% de queda, foi ampliado para 3,5%.
Segundo Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, o terceiro trimestre concentrou a colheita de culturas que estão com safra menor neste ano, como café, cana-de-açúcar, laranja e algodão.
Ela disse que o setor responde por 5,2% do PIB brasileiro e não foi, portanto, o que mais pesou no resultado. "É preciso portanto também olhar o dado com cuidado porque a soja responde por 34% da agricultura brasileira e está crescendo no ano", afirmou.
A atividade industrial, que já vinha tendo quedas, repetiu o mal resultado no trimestre. Com estoques elevados e pouca confiança dos empresários, o setor tem cortado produção e empregados em ritmo intenso desde o ano passado.
No terceiro trimestre, o PIB da indústria teve queda de 1,3% na comparação ao três meses imediatamente anteriores, segundo o IBGE. Já na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda foi de 6,7%.
Já o setor de serviços, que responde por algo como dois terços do PIB brasileiro, teve uma queda de 1% na passagem do segundo para o terceiro trimestre. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 2,9%.
O QUE É O PIB
O PIB, Produto Interno Bruto, é um dos principais indicadores de uma economia. Ele revela o valor adicionado a ela em um determinado período.
O cálculo do indicador pode ser feito pela ótica da oferta e da demanda. Os métodos devem apresentar o mesmo resultado.
Imagine que o IBGE queira calcular a produção gerada por um artesão que cobra R$ 30 por uma escultura de mármore. Para fazer a escultura, ele usou mármore e martelo e teve que adquiri-los da indústria.
O preço de R$ 30 traz embutidos os custos das matérias-primas utilizadas. Se o mármore e o martelo custaram R$ 20, a contribuição do artesão para o PIB foi de R$ 10. Esse tipo cálculo é replicado por toda a economia do país. A soma total da produção é o PIB nacional.
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