A controvérsia presente no debate público brasileiro sobre a recuperação econômica pós-fase aguda da pandemia opõe o papel do Estado ou sua capacidade ao protagonismo que o mercado deve assumir na agenda de investimentos. Qualquer que seja o prognóstico, essa recuperação sustentada depende de ambiente favorável ao investimento e de condições sociais equilibradas.
Em medidas tomadas por diferentes economias do globo, o Estado aparece como tomador de riscos e indutor de mercados. Porém, são feitas em combinação com investimentos privados para modernização produtiva, relocalização de cadeias produtivas ou aproveitamento de oportunidades vindas da digitalização e descarbonização das economias.
Aos esforços de recuperação se somam políticas de inclusão produtiva, requalificação profissional e de apoio a segmentos mais vulneráveis.
Essas sínteses programáticas podem ser vistas, por exemplo, no "Green Deal" europeu ou no American Jobs Plan, lançado pelos EUA, configurando o que se pode chamar de missões com objetivos de desenvolvimento, modernizando a economia e os mercados, gerando novas oportunidades e também inclusão social.
Esta é a principal conclusão do estudo "Rumos ODS: Por uma Agenda de Crescimento Econômico Inclusivo", realizado pela Agenda Pública, que teve como desafio identificar estratégias mais promissoras para promover o crescimento econômico inclusivo no Brasil.
A atividade econômica não voltará a ser como era antes da pandemia de Covid-19. Movimentos para reorganização de cadeias de insumos, transição energética e digitalização da economia criam novas pressões, mas também abrem oportunidades.
Apenas no Brasil, a produção do setor de tecnologia da informação, em 2021, representou quase R$ 600 bilhões, equivalente a um crescimento nominal de mais de 18% em relação ao ano anterior, e concentrando 1,9 milhão de empregos.
Somente em 2021, foram mais de 198 mil novas posições, que representaram um aumento de 11,7% comparado a 2020, segundo relatório da Brasscom - Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação.
A transição para uma economia de baixo carbono exigirá mudanças expressivas na estrutura produtiva, com a adoção de tecnologias verdes por setores estruturais e a adaptação de empresas a novos modelos de negócios.
Esse movimento pode adicionar R$ 2,8 trilhões ao PIB brasileiro e gerar dois milhões de empregos em uma década, tornando o país mais resiliente às mudanças climáticas. Recursos que virão, por exemplo, da adoção de novas fontes de energia renovável, modernização dos transportes e introdução de cadeias para economia circular.
Os responsáveis pelas políticas de desenvolvimento precisam de uma nova agenda que considere as transformações socioeconômicas em curso. Setores mais produtivos, inclusivos, justos e sustentáveis deverão ser privilegiados.
Para uma recuperação econômica inclusiva será necessário ainda considerar desafios e recomendações específicas relacionados ao território, raça, gênero e cortes etários.
Eis o caminho para um crescimento mais inteligente (cadeias de valor mais inovadoras), sustentável (investimentos em produção e consumo verdes) e inclusivo (menos desigual).
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