ONG propõe levar mutirões odontológicos a escolas

Proposta da Turma do Bem foi apresentada ao presidente Lula para promover a restauração de 1 milhão de dentes de crianças e adolescentes em todo o país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo (SP)

Representantes da Turma do Bem, ONG que atua na oferta de serviços gratuitos de saúde bucal para pessoas em vulnerabilidade social, entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma proposta para realização de um mutirão de atendimento odontológico de crianças e adolescentes.

Fabio Bibancos, fundador da ONG Turma do Bem e vencedor do Prêmio Empreendedor Social Folha - Folhapress

A ideia é levar tratamento e educação preventiva a escolas de todo o Brasil. Segundo o presidente da entidade, Fábio Bibancos, a saúde bucal das crianças foi defasada pelo enfraquecimento da política de saúde bucal no Brasil.

"São seis anos sem um programa de saúde bucal eficiente. Desde o [Michel] Temer (MDB). Foi por isso o nosso pedido para fazer o mutirão", avalia o dentista, que trabalha há 20 anos com atendimento odontológico social e é vencedor do Prêmio Empreendedor Social.

Segundo ele, houve um aumento da precariedade da saúde bucal dos estudantes, em função da falta de políticas públicas nos últimos anos.

A proposta de realização do mutirão nacional foi apresentada em 16 de maio, uma semana depois de o presidente Lula ter sancionado o projeto de lei que institui tratamento odontológico como uma política do SUS (Sistema Único de Saúde).

O ato oficializou a reativação do Brasil Sorridente, programa criado no primeiro governo do petista, implementado em 2004. Segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, em oito anos de operação, o programa reduziu em 26% a incidência de cáries na faixa etária de 12 anos.

Apesar deste resultado nos anos iniciais, o cenário odontológico no Brasil apresentou regressão. De acordo com dados da Turma do Bem, entre 2018 e 2022, houve aumento nos casos de cárie em crianças de 5 anos e entre jovens 15 e 19 anos.

Gilberto Pucca Jr, dentista que ajudou na implementação do Brasil Sorridente e esteve à frente da coordenação nacional de saúde bucal até 2015, afirma que pessoas em vulnerabilidade social sofrem mais com a falta de acesso a serviços odontológicos.

"A situação é pior nas periferias, nas áreas mais longínquas. A saúde bucal é muito ligada à questão socioeconômica", diz Pucca Jr., também professor e pesquisador da pós-graduação em Odontologia e Saúde Coletiva da UnB.

O especialista afirma ainda que, além do risco de saúde, pessoas com acesso limitado a tratamento dentário enfrentam preconceito e problemas de autoestima.

A queda dentária impossibilita a entrada dos adolescentes no mercado de trabalho, porque muitas das vezes são dentes anteriores

Gilberto Pucca Jr.

Professor e pesquisador da pós-graduação em Odontologia e Saúde Coletiva da UnB

A proposta de realização de um mutirão de saúde bucal em todo o Brasil se baseia em outros projetos locais de sucesso. Em São Paulo um mutirão similar atendeu 10,3 mil crianças, com 23,6 mil dentes restaurados em um mês.

Uma das coordenadoras do mutirão paulista, a professora Fernanda Carrer, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, afirma que o sucesso a intervenção se deu pela simplicidade de operação.

"O consultório para a criança pode ser um ambiente assustador. Já na escola, a criança vê o coleguinha abrindo a boca para ser tratada e abre também. Nós usamos uma metodologia de mínima intervenção, sem motor, e de primeira qualidade."

A doutora em odontologia explica ainda que a presença dos dentistas na escola permite também uma orientação para os profissionais de merenda para diminuição do açúcar nas refeições.

O Ministério da Saúde informou que já recebeu a proposta de realização da Turma do Bem e que encaminhará o documento para a análise da coordenação responsável.

O projeto ainda deve passar por uma fase piloto antes de ganhar escala nacional. Segundo os idealizadores, a meta é restaurar um milhão de dentes e toda a operação será feita em parceria com o SUS.

"Queremos que o mutirão seja exemplo de uma organização da sociedade civil auxiliando o governo a oferecer uma nova realidade para os brasileiros.", completa Bibancos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.