'Agora posso recomeçar', diz venezuelana acolhida por brasileira no Rio

Ruz Mary Escobar ganhou oportunidade de recomeçar vida no Brasil com apoio do Refúgio 343, finalista do Empreendedor Social na categoria Soluções que Inspiram

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Boa Vista

Cinco mil quilômetros, sete estados e um trecho da maior floresta tropical do mundo separavam a venezuelana Ruz Mary Escobar, 40, e a brasileira Marcela Rego, 53.

Quem uniu esses dois destinos foi o Refúgio 343, ONG criada por Fernando Rangel, finalista da categoria Soluções que Inspiram do Prêmio Empreendedor Social 2023.

Depois de meses dormindo em abrigos e vivendo de bicos em Boa Vista (RR) Ruz e o marido, José Antonio Caballero, 47, ganharam uma chance de viver com dignidade no Rio de Janeiro.

Refugiados venezuelanos acolhidos pela ONG Refúgio 343 encontram recomeço no Brasil - Renato Stockler/Folhapress

A advogada Marcela, que é acolhedora voluntária do Refúgio 343, bancou os primeiros gastos do casal até que consigam se virar sozinhos. Não deve demorar: Ruz e José já estão empregados e animados para recomeçar a vida no Brasil.

Saí da Venezuela pela primeira vez em 2019, buscando um futuro melhor. Como eu não tinha dinheiro, fui caminhando. Foram 12 dias andando até chegar na Colômbia junto com outros grupos de migrantes.

Tenho um problema na perna de um acidente que sofri, meu pé inchava, descansávamos apenas das 22h às 2h da manhã. Foi horrível, mas precisava ir em frente porque eu tinha uma meta.

Meu sonho é comprar uma casinha para minha mãe, que tem 67 anos e sofre de fortes dores na coluna. Ela teve que vender a dela e agora mora com parentes, fica indo de um lugar para o outro.

Conheci meu marido na Colômbia. Em 2021 decidimos voltar para a Venezuela por causa da pandemia, mas, por causa da crise, tivemos que migrar novamente neste ano.

Chegamos no Brasil em janeiro, depois de oito dias viajando de ônibus. Dormimos na rua em Pacaraima, até que conseguimos vaga em um ônibus para Boa Vista.

Minha ideia era trabalhar limpando casas ou fazendo qualquer outra coisa, mas estava muito difícil. Moramos em um abrigo na rodoviária, tivemos que aguentar de tudo.

Mas estou nessa luta há quatro anos, sou perseverante. Enquanto esperávamos uma chance de viajar para outro estado, éramos voluntários nesse abrigo lavando banheiros, distribuindo comida, arrumando os beliches.

Nos colocamos no lugar dessas pessoas. É muito estressante passar o dia todo na rua, no sol. Queríamos que na hora de dormir elas fossem mais bem tratadas do que fomos ao chegar.

Fizemos vários cursos no Refúgio 343: português, educação intercultural, operador de caixa… Temos uma pastinha com os diplomas, são nosso orgulho.

Fizemos entrevistas de emprego por videochamada e fomos contratados, eu como faxineira e ele como ajudante de pedreiro.

Em setembro, enfim, viajamos para o Rio. Foi minha primeira viagem de avião, mas consegui me virar nas conexões em Manaus e em São Paulo. Não senti medo, estava ansiosa para chegar.

A Marcela é ótima pessoa. Nos buscou no aeroporto e nos levou para o apartamento. Encontramos roupas para os dois, sapatos, escova de dentes, xampu… Não nos falta nada.

Em Boa Vista não gostam dos venezuelanos, no Rio é diferente. Estamos sendo muito bem tratados.

Vai ser bom ter privacidade, chegar do trabalho e vestir algo confortável, não pegar fila para tomar banho, usar a cozinha.

Adoro cozinhar, principalmente doces. Um dia, quem sabe, consigo abrir minha confeitaria. Todo dia se comemora algo, acho bonito que o bolo saia das minhas mãos.

Nosso desejo é ter independência. Quando receber meu primeiro salário, quero tentar mandar um dinheirinho para minha mãe na Venezuela.

Vai ser bom recomeçar, vou aproveitar ao máximo a oportunidade que me deram.

Conheça os demais finalistas na plataforma Folha Social+. Vote e, se possível, doe para esta iniciativa na Escolha do Leitor até 20 de outubro em folha.com/escolhadoleitor2023.

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