"Não acreditei quando vi o resultado. Fiquei pensando: 'será que é isso mesmo?' ", conta Miguel dos Santos, 18, recém-aprovado no curso de economia da USP (Universidade de São Paulo).
A incredulidade do morador de Guaianases, bairro da periferia da zona leste da capital paulista, ao ler seu nome na lista de convocados não foi à toa.
Para Miguel e outros milhares de estudantes de escolas públicas brasileiras, chegar até a universidade ainda parece um sonho improvável.
Filho de mãe professora e pai metalúrgico, o jovem foi o primeiro da família e o único de seu grupo de amigos a ingressar na prestigiosa instituição de ensino superior.
"Comecei a ouvir falar de faculdade pública na escola técnica onde cursei o ensino médio. Os professores faziam um esforço para ajudar os alunos e sempre comentavam sobre universidades boas", relembra o estudante.
Além desse incentivo, ausente na maioria das escolas em que havia estudado antes, Miguel conta que outro fator decisivo para a aprovação na USP foi ter participado do Salvaguarda, programa social de auxílio para jovens da rede pública brasileira.
A iniciativa é voltada para alunos que desejam se preparar para o vestibular, mas não têm recursos para pagar um curso. A seguir, saiba mais sobre esse e outros programas.
Salvaguarda
O programa Salvaguarda oferece gratuitamente e de forma online aulas, materiais de estudo, correções de redação, simulados e tutorias aos estudantes inscritos, que devem estar cursando ou ter concluído o ensino médio na rede pública de ensino.
Ao realizar uma pesquisa com mais de cem alunos de quatro escolas públicas de Ribeirão Preto, em 2016, quando estudava economia na USP, o fundador do Salvaguarda Vinicius de Andrade observou que grande parte dos jovens desconhecia o funcionamento dos vestibulares.
"Fiquei chocado com a falta de informação. Ribeirão Preto tem um campus da USP, mas poucos alunos sabiam o que era a Fuvest, em um momento em que a prova ainda era a única forma de ingresso", relata.
Para ajudar a solucionar o problema, o Salvaguarda foi fundado em 2017. Atualmente, o programa conta com uma equipe de tutores voluntários.
Porém Vinicius alerta para a falta de políticas públicas de educação eficazes no país. "Outro desafio são as redes sociais, que geram um cenário de ansiedade e falta de atenção dos alunos", afirma.
50 mil vagas serão abertas neste ano, e as inscrições para estudantes vão até o dia 19 de março.
Site: programasalvaguarda.com.br
Acelere no Enem
O Acelere no Enem é um curso pré-vestibular online e gratuito criado em 2020. "O cursinho surgiu no auge da pandemia, motivado pelo desejo de ajudar jovens que estavam fora da escola, sem contato com os professores e desesperançosos com o futuro", diz o fundador Rhayann Vasconcelos.
O preparatório conta com aulas ao vivo e gravadas, monitorias, simulados e exercícios. "Estudei em escola pública e fui bolsista integral em escola particular. Sei que, muitas vezes, uma única oportunidade muda a vida de uma pessoa", explica o criador da iniciativa que recebeu mais de 500 mil estudantes em 2023.
As inscrições para novos alunos começam no dia 15 de fevereiro e permanecerão abertas por todo o ano.
Site: acelerenoenem.com.br
Redes da Maré
A ONG Redes da Maré promove cursos para estudantes do complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). Além das aulas clássicas, a entidade desenvolve atividades de campo e acompanhamento psicossocial.
"Também trabalhamos muito com educação antirracista e antimachista. Lutamos pelo direito de sonhar de nossos estudantes, que são sempre incentivados a serem o melhor que puderem", destaca Daniel Remelik, coordenador do eixo de educação da ONG.
Existem diferentes opções de curso pré-vestibular: o tradicional, o de ciências atuariais e o de tecnologia. O único que ainda não encerrou as inscrições é o último.
Inscrições para o curso pré-vestibular de tecnologia começam em maio.
Site: www.redesdamare.org.br
Instituto Verdescola
A ONG Instituto Verdescola oferece um cursinho presencial gratuito em São Sebastião (SP), desenvolvido em parceria com o Sistema Anglo de Ensino.
O programa é voltado para alunos do segundo ou terceiro ano do ensino médio ou que já tenham concluído os estudos em escolas públicas ou particulares, com bolsa de no mínimo 70%.
"Para se ter uma ideia, não existe nenhuma faculdade em São Sebastião. Vimos que precisávamos criar não só um cursinho pré-vestibular, mas um movimento que possibilitasse a mobilidade social dos jovens da região", diz Raquel de Oliveira, diretora geral do instituto.
A entidade também custeia a inscrição e o transporte dos alunos até os locais de prova, além de fazer acompanhamentos com a família dos alunos.
Serão disponibilizadas 60 vagas e as inscrições vão até 18 de fevereiro.
Site: verdescola.org.br
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.