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22.set.71/Folha Imagem
Um dos dois carros de entrega da Folha incendiados por integrantes do grupo extremista Aliança Libertadora Nacional, que ameaçaram matar Octavio Frias de Oliveira


Militares ameaçam suspender circulação



Folha apoiou o regime de 64, mas se engajou na redemocratização nos anos 70


MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Na manhã do dia 16 de setembro de 1977, os leitores da Folha receberam o jornal com uma longa coluna em branco, de cima a baixo, no canto direito da última página da "Ilustrada".

No alto, como de hábito, estava escrito o nome do colunista: Lourenço Diaféria. No pé, depois de mais de 40 cm sem nenhuma letra impressa, uma Nota da Redação esclarecia: "A crônica diária de Lourenço Diaféria deixa de ser publicada em virtude de o cronista ter sido detido às 17h de ontem pela Polícia Federal conforme noticiamos na Primeira Página".

O jornalista foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional devido a um artigo de duas semanas antes, considerado pelo Exército ofensivo ao seu patrono, o duque de Caxias. Começava aí a mais grave crise que a Folha viveria com o regime militar (1964-85).

A Folha apoiou a deposição de Goulart, mas não participou de nenhuma conspiração


A pretexto de exaltar um sargento que morrera ao pular num poço de ariranhas para salvar um menino, Diaféria, um cronista do cotidiano de São Paulo, escrevera a coluna "Herói. Morto. Nós". Um trecho, em especial, despertara a ira militar: "Prefiro esse sargento ao duque de Caxias. O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. Aquela espada que o duque ergue ao ar aqui na praça Princesa Isabel _onde se reúnem os ciganos e as pombas do entardecer_ oxidou-se no coração do povo. O povo está cansado de espadas e cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal".

No mesmo dia da publicação da coluna em branco, resposta à prisão de Diaféria, o "publisher" e então diretor-presidente da Folha, Octavio Frias de Oliveira, recebeu um telefonema do ministro-chefe do Gabinete Militar da Presidência, general Hugo Abreu, com quem mantinha um relacionamento cordial. "Quem está falando aqui não é o seu amigo, mas o chefe da Casa Militar da Presidência da República", disse Hugo Abreu, conforme lembra Frias. "Se continuar publicando a coluna em branco e fazendo críticas, nós vamos fechar o seu jornal". Assessor direto do presidente Ernesto Geisel, o general que conduzia a abertura política lenta, gradual e controlada, Hugo Abreu ameaçou com uma suspensão de 30 dias, renovável por quanto tempo quisesse, conforme a Lei de Segurança Nacional permitia. Iria estrangular o jornal.

Treze anos antes, a Folha apoiara editorialmente o movimento militar que depôs o governo constitucional de João Goulart, na virada de março para abril de 1964.

Já manifestava a vocação de pluralismo que se tornaria um pilar do seu projeto jornalístico a partir de meados da década seguinte. Nos editoriais, opinava contra Jango. As reportagens, em tom seco e relatorial, vinham acompanhadas das íntegras dos discursos presidenciais mais importantes.

O principal articulista político, Hermano Alves, era o titular da coluna "Panorama Político", escrita do Rio. Defendia o governo com entusiasmo.

A Folha apoiou a deposição de Goulart porque considerou ter havido esquerdização do governo. Em 2 de abril, um editorial indagava: "Por que haveriam os comunistas de dominar o Brasil e dar o tom da política nacional?". O jornal não participou, contudo, da conspiração que envolveu muitas publicações. Em 17 de março, duas semanas antes do golpe, se opôs à proposta de "impeachment" do presidente: "Já há fogueiras acesas em demasia para que se lance mais combustível a elas".

A Folha era ainda um diário pequeno, num mercado liderado com folga por "O Estado de S. Paulo". A preocupação essencial dos seus donos, Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, era com a saúde financeira do jornal que haviam comprado em 1962. Viriam a atingir o objetivo no final da década de 60.

O jornal progrediu no ano que antecedeu o do golpe militar. Vendeu 60 milhões de exemplares, alcançando em dezembro de 1963 uma carteira de 70 mil assinantes e vendendo 100 mil exemplares diários em banca.

Numa edição de março de 1964, o jornal definiu a sua orientação: "Liberal, a Folha de S.Paulo apresenta hoje aos seus leitores uma página de editoriais que marcam o pensamento dominante em sua direção, mas faz questão de incluir em suas páginas artigos de outros comentaristas que defendem, por vezes, pontos de vista diversos (...), dando ao seu leitor a possibilidade de encontrar opiniões diversas, que possa cotejar e julgar, aceitando-as ou desprezando-as". Quando os militares tomaram o poder, a Folha tinha dois colunistas políticos (além de Hermano Alves, D’Alembert Jaccoud escrevia de Brasília). Na página 4, ao lado dos editoriais, revezavam-se Cecília Meirelles e Carlos Heitor Cony. Nos anos seguintes, o jornal se pautaria por uma preocupação, a retomada da agenda democrática, antecipada na manchete de 3 de abril de 1964: "Lacerda propõe: eleição já do novo presidente".

Em 1965, o telefonema de um diretor do Banco Nacional, Antônio de Pádua Rocha Diniz, para Octavio Frias de Oliveira contribuiu decisivamente para o futuro da Folha.

Diniz contou que tinha uma boa indicação para o amigo: o jornalista Cláudio Abramo, que em 1963 deixara "O Estado de S. Paulo". Impressionado com a descrição de quem seria o melhor profissional disponível, Frias foi direto ao banco. Nascido em 1923, Abramo havia pouco ingressara na casa dos 40 anos. Ficara dez anos no "Estado", onde comandou uma significativa reforma. Até 1950 integrara o Partido Socialista Brasileiro, tornando-se a seguir um marxista independente. Seus irmãos Fúlvio e Lívio haviam sido militantes destacados do movimento trotsquista no Brasil.

Frias simpatizou com Cláudio Abramo e contratou-o na hora. De início, Abramo foi um assessor do empresário, elaborando uma crítica diária do jornal. Logo assumiu a Redação, até então a cargo de José Reis. Formalmente, sua função era a de secretário-geral.

Contratou os jornalistas Antônio Pimenta Neves, Roberto Muller, Perseu Abramo, Washington Novaes e Alexandre Gambirasio, que seria secretário de Redação por muitos anos.

Em janeiro de 1968, a tiragem da Folha atingiu os 200 mil exemplares. Durante o ano, o jornal cobriu nas páginas noticiosas e elogiou nas opinativas as passeatas estudantis do Rio. Pregou eleições diretas para a Presidência como uma "boa tese". O colunista Tristão de Athayde atacou o "descalabro" do governo.

Em 8 de dezembro, impulsionado por um encarte de uma rede varejista, bateu o seu recorde de tiragem, com 1.675.000 exemplares impressos no recém-adquirido equipamento em offset. A Folha foi pioneira, entre os jornais do país, na nova técnica.

No fim do ano, o governo quis que o Congresso autorizasse um processo contra o deputado oposicionista Márcio Moreira Alves. Em 10 de dezembro, editorial condenou a hipótese de "uma decisão ditada pelo medo, pela subserviência ou pelo instinto de sobrevivência do Congresso". Dia 13, a decisão da Câmara de negar a licença foi aplaudida. No mesmo dia, o governo baixou o Ato Institucional nº 5, fechando ainda mais o regime e asfixiando o que restava das liberdades democráticas, inclusive a de imprensa.

No governo de Emílio Garrastazu Médici, o mais duro do regime militar, de 1969 a 1974, a Folha viveu um período marcadamente acrítico. Editorialmente, apoiou o general. Abandonou, no início, os editoriais. Depois, publicava apenas um. Não havia articulistas ou colaboradores que escrevessem sobre política.

No noticiário, tomou cuidados para não divulgar como verdade o que era versão, muitas vezes falsa, das forças repressivas. Publicou notas sobre mortes de oposicionistas entre aspas, apontando como fonte os órgãos policiais e militares, sem assumir como suas as informações.

Pouco antes de sua morte, em 1987, Cláudio Abramo falou sobre aqueles tempos a universitários: "Não era possível fazer nada, o jornal era um ramerrão".

No dia 21 de setembro de 1971, quatro militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional) incendiaram duas camionetes da Folha. Os guerrilheiros disseram que iriam matar Octavio Frias de Oliveira. Pela primeira e única vez em sua vida, Frias escreveu de próprio punho um editorial, publicado na primeira página do dia seguinte. Intitulado "Banditismo", dizia que "não há causa que justifique assaltos, assassínios e sequestros, muitos deles praticados com requintes de crueldade".

O empresário mudou-se temporariamente com a família para um apartamento que Carlos Caldeira construíra na sede do jornal. Na origem do atentado da ALN estava a revolta com outro jornal do grupo, a "Folha da Tarde". Em tom policialesco, com policiais infiltrados na Redação e jornalistas ligados à repressão, o jornal publicava títulos como "Lamarca, o louco, é o último chefe do terror".

A guerrilha também acusava a Folha de ceder carros para disfarce de policiais em ações contra as organizações da luta armada. Frias diz que, se isso ocorreu, foi à sua revelia. Nunca houve, afirma, colaboração com o Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) ou o Segundo Exército.

Em 1973, o diretor da Sucursal de Brasília, Ruy Lopes, foi chamado para dirigir a Redação, tornando-se editor-chefe e controlando as decisões jornalísticas. Abramo virou diretor de Redação.

O jornal decidiu explorar ao máximo, editorialmente, as possibilidades da abertura no governo Geisel


Na Folha desde a década de 50, Ruy Lopes integrara a equipe enviada para cobrir a inauguração de Brasília, em 1960. Então solteiro, acabou ficando na nova capital. Foi chamado para São Paulo a fim de implantar na Redação novos procedimentos gerenciais. Tinha 38 anos.

Em 1974, o ex-assessor de imprensa do prefeito nomeado Figueiredo Ferraz (1971-73) Boris Casoy foi convidado por Octavio Frias de Oliveira para trabalhar na Folha.

Com experiência exclusiva em rádio e assessoria de imprensa, chegou como editor de Política, aos 33 anos. Em 1975, substituiu Ruy Lopes, que voltou para Brasília. Quando Boris, no começo de 1976, pediu para deixar o cargo de editor-chefe e tornou-se editor do "Painel" e assessor de Octavio Frias de Oliveira, Cláudio Abramo retomou o comando efetivo da Redação.

Em janeiro de 1974, Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do presidente Ernesto Geisel, que assumiria naquele ano, chamara Frias para uma reunião no Rio.

Revelou que o novo governo iniciaria a distensão. Reafirmou sua obsessão com um "novo 9 de Julho", o temor de que houvesse uma rebelião paulista contra o poder federal nos moldes da Revolução de 32. E disse que ao futuro governo não convinha apenas um jornal forte em São Paulo.

A Folha era um jornal muito lido, mas de pouco prestígio e influência restrita. Era informativo, mas faltava-lhe densidade política. Com as finanças equilibradas, Frias resolveu dedicar-se mais à Redação. Numa reunião na casa de praia do "publisher", em Ubatuba, foi definido um "pacto", segundo Ruy Lopes. Ele conta ter participado de vários dias de discussão com Frias, Otavio Frias Filho, Cláudio Abramo e Boris Casoy. Ao final, decidiram, rememora o então editor-chefe, explorar ao máximo, jornalisticamente, as possibilidades da abertura. "Perdi a conta de quantas vezes fui preso e tive de explicar reportagens da Folha à Polícia Federal", lembra Lopes.

O jornal, em pleno governo Médici, já cobrira com vigor o golpe militar no Chile, em 1973, e a Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974. Driblando as restrições oficiais ao noticiário sobre um surto de meningite, publicava um quadro com o número de casos.

Em 1975, Cláudio Abramo foi preso, voltando logo à Redação. "Quando saí do DOI-Codi (órgão central da repressão militar), comecei a formular os planos para a Folha", disse mais de dez anos depois. "Começamos a levar gente boa, como Paulo Francis, Newton Rodrigues, Alberto Dines. Aí começou a virada". Passaram a escrever na Folha Gerardo Mello Mourão, Oswaldo Peralva, Flávio Rangel e Glauber Rocha. Nascia uma reforma jornalística que se tornaria histórica. O jornal ganhou as colunas "Brasília", "Rio de Janeiro" e "São Paulo", existentes até hoje. Newton Carlos desde os anos 60 assinava um artigo diário sobre política internacional.

Alberto Dines introduziu a crítica de jornalismo no país, com a coluna dominical "Jornal dos Jornais". Perseu Abramo expandiu a cobertura sobre educação. Articulistas de colorações políticas diversas foram convidados a escrever na seção "Análise/ Perspectiva".

Em outubro, a morte do jornalista Vladimir Herzog foi noticiada com relatos que negavam a versão militar de suicídio. As mortes do ex-presidente Juscelino Kubitschek e do ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda, adversários dos militares, tiveram cobertura ampla. O jornal passou a reportar sistematicamente casos de violações de direitos humanos. No dia 22 de junho de 1976, sem anúncio ou pompa, apareceu pela primeira vez na página 3 a seção "Tendências/Debates". Cláudio Abramo queria ampliar a presença nas páginas do jornal de pessoas de fora dos seus quadros. Octavio Frias de Oliveira insistiu num leque ideológico abrangente.

Abramo desenhou as páginas 2 e 3. Com pequenas diferenças, até hoje a Folha mantém o seu projeto gráfico. Passaram a escrever oposicionistas como Fernando Henrique Cardoso, Almino Affonso e Miguel Arraes. Antigos exilados dividiam espaço com articulistas conservadores, entre os quais Jarbas Passarinho, Plínio Corrêa de Oliveira e Jorge Boaventura.

No dia da estréia de "Tendências/Debates", com um artigo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, a coluna vertical de opinião da página 2 foi ocupada por Mino Carta, articulista do jornal. A coluna "Rio de Janeiro" foi escrita por Alberto Dines. O editor do "Painel" era Boris Casoy. Paulo Francis foi publicado na página 9. "De 1975 a 1977, a Folha viveu a sua Primavera de Praga", diz o hoje diretor de Redação Otavio Frias Filho, que começou a trabalhar diariamente no jornal em 1975.

Quando Lourenço Diaféria publicou o texto "Herói. Morto. Nós", em 1º de setembro de 1977, na Semana da Pátria, ninguém se deu conta de que ele provocaria o vendaval que veio a seguir. Em junho, o jornal chegara aos 300 mil exemplares de tiragem. O artigo de Diaféria foi um pretexto do ministro do Exército, Sílvio Frota, para pressionar Ernesto Geisel. Frota representava a linha-dura do regime que Geisel queria flexibilizar. Sonhava em suceder o presidente, num plano que acabou fracassando.

Informado por Frota sobre a coluna, o ministro da Justiça, Armando Falcão, abriu inquérito contra Diaféria. O jornalista foi preso dia 15. A edição seguinte trouxe a notícia de sua detenção, a coluna em branco e, na página 3, o artigo "A sucessão e o percurso", do colaborador Fernando Henrique Cardoso.

No dia 17, a coluna em branco foi abandonada. O editorial "Nós" qualificou a prisão de "chocante e lamentável episódio". Para impedir o fechamento do jornal, Octavio Frias de Oliveira decidiu pela mudança. "Chamei o Cláudio e disse: ‘A pressão é toda sobre você. Posso fazer um gesto bonito, e afundamos todos’." Abramo deixou a Direção de Redação. O primeiro escolhido para substituí-lo foi Alexandre Gambirasio, mas a nacionalidade italiana o impediu.

O segundo nome foi o de Boris Casoy, que passava férias em Araxá (MG). Num avião alugado, ele voltou às pressas para São Paulo. Boris apoiara o movimento de 1964 e tinha bom relacionamento com a área militar. Aceitou o novo desafio. Frias, o diretor-presidente, tirou seu nome da primeira página, que passou a publicar o de Boris Casoy, como editor responsável. Dines deixou de assinar a coluna "Rio". Editoriais foram suspensos. Diaféria, solto dias depois, só voltaria a escrever em outubro de 1978.

Cláudio Abramo passou a coordenar o recém-criado Conselho Editorial. Pouco depois pediu para sair da Folha a fim de integrar a equipe que fundou o "Jornal da República". Voltou no fim de 1979, tornando-se correspondente em Londres e Paris. Ao morrer, era o titular da coluna "São Paulo". Seu obituário foi redigido por Boris Casoy.

Quem esperava um recuo da Folha com Boris à frente da Redação surpreendeu-se. O jornal apoiou a campanha pela anistia, impulsionou a das diretas e defendeu a Constituinte. Expandiu sua audiência. Na gestão de Boris, o secretário de Redação foi Odon Pereira, que ingressara no jornal na década de 60 como repórter da área urbana.

Ainda em 1977, a Folha cobriu a invasão da PUC e a prisão de mil estudantes que participavam de um encontro. Dos 92 fichados no Deops, pelo menos três viriam a trabalhar no jornal _um como chefe dos editorialistas, outro como repórter especial e uma como secretária-assistente de Redação.

O nascente movimento sindical no ABC paulista recebeu larga cobertura. Em 1979, o ascenso das mobilizações de trabalhadores chegou à imprensa, com uma greve dos jornalistas que durou sete dias. A assembléia que a deflagrou reuniu 1.692 profissionais. As reivindicações foram fundamentalmente salariais. Quase todos os jornalistas da Folha pararam. O jornal não deixou de circular todos os dias, em edições precárias, feito por 15 pessoas, sete delas jornalistas.

O caderno "Folhetim", editado por Tarso de Castro, foi um marco do jornalismo cultural na segunda metade da década de 70. De 1964 a 1984, a Folha recebeu 14 Prêmios Esso de Jornalismo, consideradas as várias categorias. Boris Casoy deixou a chefia da Redação em 1984. Foi substituído por Otavio Frias Filho. Editou o "Painel" até julho de 1988, quando iniciou uma vitoriosa carreira na televisão.

Quase 15 anos depois, ele aponta três motivos para a Folha ter se transformado, nos anos militares, no grande jornal político do país: "A Folha teve a percepção nítida de que a sociedade brasileira estava reagindo ao regime militar; teve a percepção das novas lideranças que surgiam, como FHC, Lula, Eduardo Suplicy (que trabalhou na Redação, escrevendo sobre economia) e José Serra (foi editorialista do jornal); e serviu de porta-voz e farol dessa sociedade".

No derradeiro governo militar, o de João Batista Figueiredo, a Folha tornou permanentes na página 5 os artigos que Janio de Freitas escrevia como colaborador. Artífice das célebres reformas do "Jornal do Brasil", em 1959-60, do "Correio da Manhã", em 1963, e da "Última Hora-RJ", em 1967, Janio estivera afastado do jornalismo por anos.

Antes da campanha das diretas, na qual a Folha se consolidou como o diário brasileiro de maior circulação, um dos últimos grandes furos no regime militar foi de Janio de Freitas, em 22 de junho de 1983, poucos dias depois de estrear sua coluna. Ele revelou que, em virtude de problemas cardíacos, os médicos de Figueiredo cogitavam uma nova cirurgia.

Autoridades chamaram o colunista de terrorista, jornalistas alardearam o que seria a saúde de astronauta do presidente. No dia 15 de julho, Figueiredo foi operado do coração em Cleveland (EUA). No dia seguinte, Janio publicou o artigo "Votos gerais", no qual citou _com aspas, data e nome do autor_ declarações de ministros e jornalistas políticos que negaram sua informação. Ao final, desejou, com bom-humor: "Ao general Figueiredo, pronta recuperação. Aos outros citados, também".

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  •  Textos citados

    Herói. Morto. Nós., crônica de Lourenço Diaféria
    Editorial: Em defesa da lei
    Banditismo, por Octavio Frias de Oliveira
    A Sucessão e o Percurso, por Fernando Henrique Cardoso


    Coluna em branco (à dir.) na Ilustrada protesta contra prisão de Diaféria
    Tanques em rua do Rio de Janeiro após o movimento de 64
    A ameaça das metralhadoras em charge de Luiz Gê, de 26/12/1978, sobre a repressão militar

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