Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/12/2002 - 15h39

Em depoimento tumultuado, Enéas nega venda de legenda

SILVIO NAVARRO
da Folha Online

Em tumultuado depoimento à comissão de sindicância que investiga denúncias de venda de legenda pela vereadora Havanir Nimtz (Prona), o médico cardiologista Enéas Carneiro, fundador e presidente do partid, negou o suposto mercado de vagas.

"Sempre ficou claro que não há exigência [de pagamento para venda de legendas]. Há cinismo desse senhor [o comerciante Jorge Roberto Leite, primeiro denunciante do suposto mercado de vagas do Prona]. Por que ele não foi ao vivo na televisão falar para toda a nação no programa do senhor Gugu diante de um detector de mentiras? Ele tem caráter deplorável e agiu de maneira sorrateira", disse Enéas no depoimento mais longo tomado até agora pela comissão. Durou cerca de uma hora.

Enéas atacou o comerciante sucessivas vezes por ter gravado conversa com Havanir na qual ela exigiria uma quantia em dinheiro para que ele pudesse sair candidato pelo Prona. Em seguida, o deputado eleito exibiu fita de áudio na qual José Roberto Leite supostamente ameaça levar o caso à imprensa. "Ele é um chantagista, a fita está aqui para mostrar isso."

Essa é a última sessão da comissão de sindicância para ouvir testemunhas. A comissão foi instaurada em 20 de novembro a pedido do Ministério Público, que instaurou inquérito civil para apurar as supostas irregularidades envolvendo Havanir.

Teoricamente, ela teria até o dia 20 de dezembro para entregar o relatório que dirá se houve ou não quebra de decoro parlamentar de Havanir, mas o presidente da comissão, vereador Eliseu Gabriel (PDT), pretende entregá-lo até sexta-feira, dois dias antes da eleição do próximo presidente da Câmara.

Cartilhas
Enéas também fez questão de negar que a venda das cartilhas que contêm sua ideologia política-econômica, intitulada "O Brasil em perigo", estivesse condicionada à concessão de vagas a candidato pela legenda. Ele afirmou que a contabilidade do Prona é feita no Rio de Janeiro e que o dinheiro para a compra das cartilhas é repassado da Livraria e Editora Enéas Ferreira Carneiro Ltda. ao diretório nacional.

"Nenhum centavo foi para o regional", disse Enéas, defendendo Havanir, que é presidente licenciada do diretório estadual do Prona em São Paulo.

Questionado se o dinheiro da compra das cartilhas vendidas no Estado poderia ir para Havanir, Enéas não poderia garantir que isso nunca tivesse acontecido. "Pode ter ocorrido que ela tenha colocado numa conta que não era a minha e depois ressarcido o partido. Um a ou outra vez pode ter ocorrido", admitiu o deputado federal eleito.

Atrito
Enéas entrou sucessivas vezes em atrito com Milton Leite (PMDB), que, segundo ele, fazia muitas perguntas e muito rapidamente. "O senhor faz muitas perguntas. Eu não sou tão jovem, esqueço." disse Enéas, que chegou a chamar o vereador de "irônico".

Milton Leite, por sua vez, irritou-se com o fato de Enéas responder algumas de suas perguntas antes que ele as concluísse. "O senhor tem a presunção de adivinhar o que eu vou falar", disse ele.

Interrupção
O vereador Erasmo Dias (PPB) novamente interrompeu os depoimentos da comissão para fazer a defesa de Havanir. Ele entrou com uma interpelação na comissão de sindicância alegando que ela não teria competência para investigar o caso. "Quem apura se houve quebra de decoro parlamentar é a comissão de ética e decoro, que essa Casa não tem. Isso é um abuso", afirmou Dias.

Além dos nove vereadores que integram a comissão, estiveram presentes Wadih Mutran (PPB), Antônio Paes - Baratão (PDT), Ana Martins (PC do B), Roberto Tripoli e Gilson Barreto (PSDB).

Defesa
Novamente o médico cardiologista se disse vítima de um esquema maquinado por um suposto "poder mundial" para derrubar a "estrondosa votação" recebida pelo Prona nas eleições de 2002. Enéas citou um ofício enviado por ele ao Ministério da Justiça, que conteria diversas denúncias de fatos sofridos por ele e por seus correligionários, entre elas ameaças de morte por telefone, assaltos e invasões de domicílio.

Apesar disso, ele não atribuiu a culpa ou a autoria disso a ninguém que não ao "poder mundial". "Quem são os representantes eu não sei. Olhe os fatos e o senhor verá." Segundo Enéas, ele incomoda e todos procuraram uma brecha para derrubá-lo. "Eu era um homem com apenas 20 segundos de TV e ainda lutando contra um clone", disse ele, referindo-se ao candidato Osvaldo Nantes Soares, do PTB, que teria tentado se passar por ele nas eleições passadas.

Enéas justificou a proibição a que Havanir se pronunciasse alegando que ela era do sexo frágil, uma mulher sensível e, submetida ao estresse, poderia se emocionar. "Todos temos mães e filhas e ninguém gosta de ver uma mulher chorar. Isso poderia acontecer."

Leia mais:

Em sindicância, maioria confirma a compra de cartilha do Prona

Vereador do PPB pede anulação de sindicância sobre Havanir

Candidatos confirmam à Câmara venda de legenda

Ameaçada de perder mandato, Havanir deixa direção do Prona em SP

Prática de cobrar até R$ 5 mil por candidaturas é comum no Prona

Câmara e promotoria vão investigar denúncia contra Havanir

Havanir desobedece Enéas e diz que dinheiro "era como dízimo"

Enéas impede Havanir de falar e atribui acusação à venda de cartilhas

Prona já respondeu denúncia sobre venda de candidatura

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade