Os
fantasmas da prefeitura
Vigias
juram ter ouvido, de madrugada, estranhos barulhos acompanhados
de soturnas vozes no Palácio das Indústrias,
sede da prefeitura - alguns deles relatam que viram contornos
de almas vagando pelos salões.
Guardas
já se recusaram a ficar sozinhos de noite no primeiro
andar, o que obrigou a administração a escalá-los
em dupla.
Daqui
a cinco dias, Marta Suplicy vai rapidamente saber que os problemas
daquele prédio, que lembra vagamente o estilo de um
castelo medieval, são os defeitos visivelmente assombrosos,
e não as lendárias assombrações
fantasmagóricas.
Paulo
Maluf detestava o Palácio das Indústrias; se
dependesse dele, a sede da administração municipal
teria voltado ao aprazível parque Ibirapuera. Celso
Pitta diz que aquele imóvel pode ser útil para
quase tudo. Menos para a prefeitura.
Marta
Suplicy visitou as instalações e saiu horrorizada
tanto com o mau gosto dos móveis como com a falta de
funcionalidade e de privacidade.
Acoplado
ao parque Dom Pedro e construído para abrigar convenções,
o Palácio das Indústrias tornou-se Assembléia
Legislativa e, depois, delegacia de polícia, até
virar prefeitura. Abrigou, assim, empresários, políticos,
policiais e presos. A cada reforma adaptava-se à nova
clientela.
O ar-condicionado
funciona mal e, freqüentemente, quebra. No frio, as salas
ficam um gelo; no calor, uma sauna. Como o prédio é
tombado, ainda não se viabilizou uma reforma para melhorar
a refrigeração do ar.
Falta
de luz também é constante; não raro ocorrem
colapsos no sistema telefônico.
A acústica
permite que os bisbilhoteiros, apesar das paredes, ouçam
as conversas alheias. O prefeito não tem privacidade:
a porta de entrada do prédio serve para qualquer um.
Chuvas
mais intensas causam enchentes nas redondezas e deixam a prefeitura
ilhada. Os secretários já enfrentam, sem enchentes,
dificuldade de acesso ao prédio, localizado no epicentro
de vários focos de congestionamento. Para completar,
ocorreu ali uma invasão de pombos, deixando marcas
visíveis e desagradáveis em todo o edifício.
O prédio
da prefeitura, enfim, é a cara de São Paulo:
enchentes, congestionamentos, sujeira e temperatura imprevisível.
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