|
O
ministro da Saúde, José Serra, tinha até a semana
passada a candidatura presidencial mais bem planejada entre os partidos
de sustentação de Fernando Henrique Cardoso. Tinha.
Agora, esse projeto foi abatido pela intervenção do
governador de São Paulo, Mário Covas, em benefício
do colega tucano que administra o Ceará, Tasso Jereissati.
Enquanto
Tasso estava isolado em seu Estado, Serra construía a partir
de Brasília uma rede de apoios políticos e empresariais
capazes de deixar claro que, se nenhum candidato governista hoje
estava bem cotado nas pesquisas, ele estava mais bem articulado.
O PMDB, que lançou a candidatura de Pedro Simon para ocupar
espaço (só embarcará nela se a coisa virar
um fenômeno, hipótese hoje improvável), tem
(ou tinha) planos de marchar com Serra nas eleições
de 2002.
O ministro
da Saúde, segundo alguns pefelistas, também estava
tentando vencer a resistência do senador Antonio Carlos Magalhães,
principal líder do PFL, a seu nome. Ou seja, Serra vinha
comendo o mingau pelas beiradas quando surgiu Covas.
O governador
de São Paulo deu apoio público a Tasso, argumentou
que o julga o melhor candidato para o PSDB ("ele é nossa
chance real de poder") e mudou tudo internamente no partido,
que já começava a ver a candidatura de Serra como
o caminho provável.
Esse
jogo ainda pode mudar. Mais importante é o que Covas fez.
Na prática, assumiu o comando político do PSDB. Agora,
que uma nova luta contra o câncer acabou praticamente com
sua chance de ser candidato a presidente, Covas ficou livre para
dizer o que realmente pensa, doa a quem doer. De acordo com tucanos
brasilienses, doeu em Serra.
O governador
paulista, em conversas reservadas, diz que não veta o ministro
da Saúde, mas afirma que o considera menos partidário
do que Tasso. Ou seja, julga que o tucano paulista faz um jogo político
mais individual que coletivo. E é com esse coletivo que Covas
alega estar preocupado agora.
O PSDB
nunca aceitou a política econômica de FHC, apesar de
ter desfrutado da popularidade do presidente quando isso foi útil
em eleições. O partido, especialmente Covas, busca
resgatar aquelas raízes perdidas da social-democracia. Uma
coisa que incomoda o governador paulista é a pouca diferença
que existe atualmente entre as propostas de PSDB, PFL e PMDB, os
três principais partidos governistas.
Com
seu apoio a Tasso, que deve radicalizar o discurso anti-Malan e
cia., Covas tenta dar novos rumos ao PSDB. Se tiver sucesso, será
um feito de impacto no modo de operar hoje do establishment brasileiro.
Para chegar a esse objetivo, Covas pensa que seu jogador tem de
ser o tucano cearense e não paulista.
Leia colunas anteriores
1º/12/2000 - A armadilha contra
ACM
24/11/2000 - Malan ressuscita indexação
17/11/2000 - Financiamento público
é bom até com caixa-dois
10/11/2000 - A morte do PT radical
03/11/2000 - O PSDB está acabando?!
|