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Senador, o peso de o sr. dizer a 30 jornalistas estrangeiros que o
presidente Fernando Henrique Cardoso tolera a corrupção...
_ ia perguntando um repórter ao presidente do Senado, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), em um almoço de final de
ano.
_ Trinta, não. Quarenta _ corrigiu ACM, com um sorriso maroto.
O diálogo acima mostra que ACM não pegou leve, não.
Pegou pesado, e com cálculo e gosto, quando atacou FHC. Qual
o estrago que uma declaração desse tipo faz na imagem
do presidente? Um tremendo de um rombo.
Das outras vezes em que criticou FHC (e elas não foram poucas
nos últimos dois anos), ACM sempre mencionou uma suposta falta
de autoridade e um real traço do caráter do presidente
de sempre preferir uma solução negociada ao enfrentamento.
FHC se saía bem. Atribuía isso a diferenças de
estilo. E dava a sua alfinetada em ACM. Afinal, um virou presidente
da República. O outro, apesar da enorme influência na
política e na mídia, sempre ficou à sombra do
poder.
Dessa vez, o tiro de ACM não foi no estilo do presidente, mas
na sua honra. A resposta de diferença de estilo não
vale. Afinal, roubalheira é roubalheira, tenha ela elegância
ou não.
A acusação foi gravíssima. Em poucas palavras,
disse que FHC sabe que há corruptos no seu governo, mas que
tolera a ladroagem para tirar proveito político.
Depois, voltou a subir o tom no almoço, falando novamente de
corrupção. Afirmou que, "na intimidade, o presidente
diz que sabe que tem amigos no governo que não podiam ficar
no governo".
Quem conhece bem FHC diz que ele não será "saco
de pancada" até o final do governo. No entanto, o presidente,
no momento, é um "saco de pancada". FHC acabou reagindo
depois de 48 horas, mas deu uma resposta indireta, usando mais uma
vez uma solenidade para mandar seus recados.
A demora da resposta é grave porque o próprio FHC fez
a avaliação de que, dessa vez, ACM passou dos limites
e colocou em dúvida a sua honestidade, coisa que ele sempre
disse querer preservar.
Convenhamos que o revide foi bem fraquinho (FHC insinuou que faltou
compostura a ACM). Um ataque à honra merecia mais do que isso.
Inclusive, mas não só, em benefício da própria
biografia presidencial.
Leia colunas anteriores
08/12/2000 - Covas derruba Serra
1º/12/2000 - A armadilha contra
ACM
24/11/2000 - Malan ressuscita indexação
17/11/2000 - Financiamento público
é bom até com caixa-dois
10/11/2000 - A morte do PT radical
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