Matt
Drudge, para o bem e para o mal, tornou-se o símbolo, mais
até, o paradigma do webjornalismo. Para quem não
sabe, é o repórter de fofocas que começou
falando de estrelas e bilheterias de Hollywood e ganhou projeção
ao dar em site o furo do escândalo Monica Lewinsky.
Seu livro, que ainda não saiu, acaba de bater no topo dos
mais vendidos da Amazon, na lista de não-ficção.
Chama-se, sintomaticamente, "Drudge Manifesto". Promete
coisa nova, mas muito do que vem aí foi adiantado pelo
próprio num antológico discurso no National Press
Club, em Washington.
A imprensa americana vinha do impacto do furo de Drudge e abriu
os microfones para o repórter, que falou o diabo diante
dos maiores nomes da cobertura política. Ele está
com 33 anos. Seu alvo maior, desde sempre, são os editores,
que vê como cerceadores da notícia.
Para ele, com a Internet, qualquer um pode cobrir o que bem quiser,
sem as restrições _éticas, inclusive_ impostas
nas redações. Em suma, vale tudo. O discurso foi
transmitido pela TV a cabo C-Span
e ainda pode ser encontrado no site do canal americano.
Uma transcrição pode ser lida no próprio
site Drudge Report.
Vale reproduzir alguma coisa, até para ninguém dizer
que não foi avisado do que representa ou representou a
revolução do webjornalismo. Uma passagem do debate
que se seguiu ao discurso, com pergunta e resposta:
_ O direito de todo cidadão de gritar "extra!, extra!"
vale mais do que respeitar a ética profissional do jornalismo?
_ Profissional... Você fica jogando palavras sobre mim e
eu não posso me defender, porque eu não sou um jornalista
profissional. Eu não sou pago por ninguém. Eu não
sei por que é tão assustador que eu possa publicar
alguma coisa sem um editor. Eu ponho meu nome em tudo o que escrevo,
ao contrário de alguns colunistas nesta sala.
Outra passagem, pergunta e resposta:
_ Você pode definir qual é a diferença entre
fofoca e notícia?
_ Algumas das melhores notícias começam como fofoca.
Monica Lewinsky certamente foi fofoca, no começo. Em que
ponto elas se tornam notícia? Essa é a coisa indefinível
nessa atmosfera em que todo repórter estará operando
de sua casa, com sites gratuitos, como eu faço.
Sites gratuitos, com repórteres escrevendo sem travas,
são a utopia drudgiana, pode-se dizer. É fascinante
e assustadora, em sua irresponsabilidade. Já rendeu processo
milionário contra o próprio. Já rendeu até
simpósio sobre os perigos da cobertura econômica
on line, no Brasil, com participação de Pedro Malan.
Mas talvez você, leitor da web, não precise se preocupar,
afinal. Drudge e seu discurso utópico aconteram antes da
união entre AOL e Time Warner, antes de começar
a concentração corporativa. E bem antes do início
da seleção natural das últimas semanas na
web.
É a contra-revolução em marcha. Contra-revolução,
diga-se, que aprendeu muito com os ensinamentos drudgianos.
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