NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Vaguinaldo Marinheiro
vmarinheiro@uol.com.br
  23 de julho
  Inglês e a Internet podem
ressuscitar Deus
 

Em um livro de Paul Auster ("Trilogia de Nova York") há um homem que acredita que se conseguirmos voltar a falar a língua usada antes da Torre de Babel (aquela língua que todos os homens compreendiam) vamos poder falar diretamente com Deus, porque essa seria a língua divina.
Mas o inglês e a Internet atropelaram isso tudo. Hoje, pessoas mais ou menos esclarecidas de todo o mundo falam inglês, lêem os mesmos livros, ouvem as mesmas músicas. Como não precisamos mais da língua divina, também não precisamos mais de Deus, decretado como morto há mais de um século por Nietzsche.
Mas esse não é um artigo religioso. É sobre a universalidade da humanidade em torno da língua inglesa e da cultura que a cerca. E por que eu estou falando isso? Porque ontem chegou ao Brasil um grupo de nepaleses. Nessa era globalizada, vieram fazer testes para aprender a pilotar aviões da nossa brasileira Embraer. A empresa para quem eles trabalham, nepalesa, veio fazer negócios nestas bandas.
O mais curioso é que, tirando um pouco as feições, os nepaleses poderiam ser brasileiros ou ingleses, ou mesmo nepaleses mesmo. Falam inglês, leram os livros de Nick Hornby, também aplaudido no Brasil na peça "O Mundo é Cheio de Som e Fúria".
O livro talvez tenha feito tanto sucesso no mundo por retratar um cara tipicamente inglês, que só ouve música inglesa ou americana, mas que todo o mundo conhece. Um cara tipicamente inglês, mas que encontra pares em todo o mundo.
Mas, mais uma vez, esse artigo não é sobre o Nick Hornby ou seu livro. É sobre o bem ou o mal que toda essa globalização cultural está fazendo com o mundo.
Sim, hoje quase todo o mundo pode falar sobre os mesmos livros ou sobre as mesmas músicas. Nepaleses estão abandonando a cultura de castas, já fazem casamentos intercastas, como eles dizem. Mas cadê as diferenças culturais? Cadê a vantagem de conhecer outras culturas, diferentes formas de ver o mundo? Essas diferenças vão ficar confinadas em museus, ou em reservas indígenas ou aborígenes?
Talvez com o inglês e a Internet a gente volte ao estado pré-Torre de Babel, com uma compreensão entre todos. Mas eu espero que Deus ressuscite e destrua essa unanimidade entre os homens.


RAZÕES PARA GOSTAR DE SÃO PAULO OU PARA MORAR NESTA CIDADE

Enfim acabou. Após 13 semanas foi possível reunir 200 razões para gostar desta cidade ou para morar nela. Há pelo menos três possíveis motivos para ter demorado tanto tempo: as pessoas não lêem esta coluna; as pessoas não estão interessadas em mandar razões para este colunista, ou não há razões para gostar desta cidade.
Da enquete, é possível tirar algumas conclusões. Os paulistanos prezam a vida cultural e noturna de São Paulo e, principalmente, prezam os restaurantes da cidade. Até parece que alguns dão razão àquela frase atribuída a Vinicius de Moraes, que teria vindo a São Paulo e perguntado, após ser levado a vários restaurantes na mesma noite, o que eles fariam após já ter jantado três vezes.
Há também muitos que mantém uma relação de amor/ódio com a cidade. São aqueles que mandaram as 36 razões irônicas.
Das 200, há pelo menos uma que é mesmo uma declaração de amor à cidade: Porque esta cidade é o Brasil, você pode vir de qualquer lugar e aqui (quase) se sentir em casa.
Outra mostra muita desilusão: Porque viver aqui é mais emocionante que praticar alpinismo no Himalaia. Você tem de sobreviver, todos os dias, a 15 assassinatos, a 4 assaltos seguidos de morte e a 1 acidente de carro com vítima fatal.
Leia abaixo as últimas 18 razões que foram enviadas. Aproveito para agradecer a todos que ajudaram a construir essa listagem.


1-
É a única cidade onde, depois de um dia inteiro de trabalho, você consegue chegar em casa e comemorar: não bati o carro, não fui assaltado, não fui multado e consegui chegar em menos de 40 minutos
2- Para sentir frio na barriga ao passar pela praça da República
3- Para lembrar de Nova York (principalmente da Central Park South, em frente ao Plaza) ao sentir o cheiro de urina na praça da República
4- Porque finalmente a Vila Mariana começa a querer ter vida noturna
5- Para comer sushi e sashimi, melhores que no Japao, às segundas-feiras no Tanji
6- Para lamber o molho do robatayaki de lula do Sea House
7- Porque a Luciana Vendramini mora aqui
8- Porque a região do Pátio do Colégio lembra Madri
9- Para comer foundue de carne, feito no caldo de carne, no Bierquelle
10- Para ver jacarés e pacas nadando no rio Tietê
11- Porque aqui, diferentemente de Nova York, os motoristas de táxi falam uma língua que você entende
12- Porque em nenhum outro lugar do Brasil há tantas casas tocando tecno
13- Porque não faltam restaurantes de comida típica
14- Para ser enterrado no cemitério do Morumbi, ao lado do Ayrton Senna
15- Para comer a costelinha empanada do Pirajá
16- Pelo ravióli frito do Giardino
17- Pelos pães italianos (principalmente os de linguiça e cebola)
18- Porque é um ótimo lugar para ficar longe dos pais que moram no interior


Clique aqui para ver as 200 razões.




Leia colunas anteriores

16/07/2000 - Assinatura e responsabilidade
09/07/2000 - García Márquez e a Justiça do trabalho
02/07/2000 - Elián é um revolucionário cubano e americano
25/06/2000 - Brasileiros loiros
18/06/2000 - A busca por heróis causa vítimas

   

| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.