Descrição de chapéu Deixa que eu leio sozinho

Concerto não exige roupa 'certa', só mesmo concentração, diz violoncelista

Mauro Brucoli, da Sinfônica Municipal, conta tudo que acontece em uma orquestra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Mauro Lombardi Brucoli tem 48 anos e é o primeiro violoncelista solista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. A Folhinha conversou com ele e descobriu coisas muito legais sobre o universo da música clássica.

Tipo: como é tocar violoncelo numa orquestra. Ou o que os músicos fizeram quando uma barata resolveu participar de um concerto.

Também falamos sobre vontade de ir ao banheiro e músicos soltando puns durante as apresentações.

Mauro Brucoli, primeiro violoncelista solista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, e seu filho, Claudio, 2 - Karime Xavier/Folhapress

Se você não souber a diferença entre ensaio, concerto, show, ou até mesmo o que é um violoncelo, não se preocupe. O Mauro esclarece tudo isso e mais um pouco.

Além disso, ele falou também sobre o álbum que está lançando, "Cirandinhas de Heitor Villa-Lobos". São 12 músicas que ele gravou sozinho tocando três violoncelos.

Como ele fez isso? Como ele fará quando for se apresentar? Quem foi Villa-Lobos? Você vai saber agora lendo a entrevista exclusiva.

Há quanto tempo o senhor toca violoncelo?

Iniciei aos oito anos, com minha mãe. Portanto, toco há 40 anos.

O que é ser o 1º violoncelo solista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo?

Há nove violoncelos na orquestra, e eu sou o líder deles. Por ser o solista, também sou o responsável por tocar sozinho quando o compositor quer apenas um violoncelo tocando.

Quantos músicos têm na orquestra?

Cada orquestra tem um tamanho. A minha é bem grande e tem por volta de cem músicos.

Na orquestra todo mundo é amigo?

Nem sempre, é bem parecido com a escola onde gostamos mais de uns colegas do que de outros. Mas, quando estamos tocando juntos, todos se respeitam muito e se concentram na música.

Mauro Brucoli pratica em escadaria próxima à sua casa - Karime Xavier/Folhapress

Por que os maestros e maestrinas têm fama de ser bravos e mandões? 

Porque eles têm a função de chefe da orquestra. Precisam ser bem rígidos com regras e disciplina para que todos os músicos se mantenham organizados e toquem bem.

O que é um ensaio?

O momento de treinar as músicas. Dura geralmente umas três horas, com intervalo.

O que os músicos da orquestra fazem no intervalo?

Tem de tudo. Uns aproveitam para fazer um lanche, conversar ou contar uma piada, tem gente que aproveita para estudar uma música difícil e alguns até conseguem sair para comprar alguma coisa e voltar rapidinho.

O que o senhor faz se tiver vontade de ir ao banheiro durante a apresentação?

Eu já me acostumei a ir ao banheiro sempre antes de entrar no palco. A gente não pode sair, só em caso de estar passando mal mesmo.

O que o senhor faz se um colega da orquestra soltar um pum durante o ensaio ou uma apresentação?

A gente tem muita vergonha disso lá. Nunca ninguém sabe quem foi.

O que já aconteceu de mais engraçado na orquestra?

Uma vez que entrou uma barata no palco. Na hora eu fiquei sério, mas depois que acabou a música eu ri muito só de lembrar todo mundo disfarçando e tentando tirar a baratinha.

O que já aconteceu de mais triste na orquestra?

Com certeza quando perdemos um colega, que morreu. Foi muito triste nunca mais vê-lo.

Como escolher um concerto para assistir?

Comece procurando músicas de que você gosta. Com o tempo vamos conhecendo os compositores e fica fácil saber aqueles que achamos mais legais.

Que roupa devemos usar para ir a um concerto?

Não tem uma roupa certa, eu gosto de usar aquela que eu acho mais bonita. Pode ser aquele tênis legal, uma camiseta. Algumas pessoas vão de terno e gravata, eu não gosto.

Como devemos nos comportar assistindo a um concerto?

Apenas lembre-se de se manter em silêncio e comportado quando a música começar, para não atrapalhar os outros. Não devemos conversar alto, fazer barulho com papel de bala ou saquinho de salgadinho, chutar a cadeira da frente, ficar levantando. Mas, por favor, bata bastante palmas no final se gostar.

Quantos concertos o senhor faz por ano?

É de perder a conta, muitos mesmo. Quase toda semana tem dois ou três.

Quantos discos o senhor já gravou?

Meus discos, nos quais eu toco como músico principal, gravei cinco. Mas, como músico acompanhante, já gravei quase uma centena.

O senhor é rico?

Não sou rico nem pobre. Se eu trabalho bastante consigo juntar dinheiro para comprar as coisas que eu preciso.

Porque o senhor não escolheu uma guitarra em vez do violoncelo?

Acho guitarra muito legal, mas escolhi violoncelo porque era o instrumento que eu escutava todos os dias em casa com a minha mãe tocando e fiquei fascinado. Toco com ela de vez em quando.

Violoncelo não é um instrumento só para pessoas mais velhas?

Não, ele é para todos a partir dos dois ou três anos quando a criança já tem um pouco de concentração.

Qual o violoncelo mais caro de que o senhor teve notícia?

Tem violoncelo que custa milhões, se chamam Stradivarius, mas esses violoncelos ficam em museus ou com colecionadores.

Verdade que os dedos doem quando aprendemos a tocar?

Sim, nas primeiras semanas vai doer um pouco até criar resistência e um pequeno calo na ponta do dedo.

Quanto tempo demora para aprender?

Alguns meses de estudo são suficientes, o problema é que nunca estamos contentes e sempre queremos tocar uma música mais difícil. Eu nunca paro de estudar.

Quem era o Heitor Villa-Lobos?

O compositor brasileiro mais conhecido no mundo.

Por que o senhor decidiu gravar as cirandinhas dele?

Porque eu queria fazer um álbum dedicado ao meu filho, e as cirandinhas de Villa-Lobos mesclam a música infantil com a música clássica que eu faço.

Claudio, filho de Mauro, a quem o novo disco é dedicado - Karime Xavier/Folhapress

Essa música é só para crianças?

Não mesmo! Elas são tão bem feitas que interessa aos adultos ouvir também.

O senhor é o único músico do disco, como gravou três violoncelos ao mesmo tempo?

Primeiro gravei a melodia das músicas e depois, escutando essa gravação, gravei os outros dois violoncelos.

Como vai ser quando tiver que se apresentar ao vivo?

Vou convidar outros dois violoncelistas, talvez minha mãe e mais um outro bom profissional.


Heitor Villa-Lobos Cirandinhas

Mauro Brucoli, violoncelo. Independente, R$ 30. Exclusivo no site www.maurobrucoli.com.

DEIXA QUE EU LEIO SOZINHO

Ofereça este texto para uma criança praticar a leitura autônoma

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.