'Se um pai vai embora, a culpa nunca é da criança', diz o escritor e psicólogo Ilan Brenman

Folhinha conversa com três pais para saber como é cuidar dos filhos e como dá para lidar com a tristeza da ausência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O Dia dos Pais está chegando, e a Folhinha ouviu três homens para saber como a vida deles mudou depois de ter filhos, quais conselhos eles dão às crianças que não têm seus pais por perto, e o que eles gostariam de ganhar de presente neste domingo (14).

Veja o que pensam o palestrante Marcos Pianges, o podcaster Thiago Queiroz e o escritor Ilan Brenman.

Marcos Piangers caminha de mãos dadas com uma das filhas - Arquivo Pessoal

Marcos Piangers

Escritor, palestrante e produtor de conteúdo, autor de "O Papai É Pop" (editora Belas-Letras)

Marcos Piangers com as filhas em foto de arquivo da família - Arquivo Pessoal

Tenho duas filhas, a Aurora de 10 e Anita de 17 anos. Quando a Anita nasceu eu tinha 24 anos. Pode não parecer muito cedo, mas na época eu era bem imaturo.

Fiquei muito feliz, porque não tive pai, minha mãe me criou sozinha. Ter filhos era a chance de experimentar a paternidade do ponto de vista do pai. Claro que me senti despreparado, mas fiquei muito feliz.

Me parece que, quando chega um filho, a gente começa a dedicar a vida a outra pessoa. As crianças podem nem notar, mas tudo que fazemos acaba sendo para elas. Quando saem de casa dá até um vazio, os especialistas chamam inclusive de "ninho vazio".

Ser mãe é bem mais difícil que ser pai, porque a sociedade cobra bem mais da mulher. Mas ser pai é complicado porque a gente não tem incentivos, e ninguém nos ensina. O homem tem que aprender sozinho ou ouvindo as dicas da mãe, da esposa e, se tiver sorte, do próprio pai.

Para ser um bom pai, você tem que estar presente. Entender que o manual da paternidade é a própria criança, prestar atenção nela. Para mim, o bom pai é aquele que conhece o filho, aceita o filho do jeito que ele é e festeja por ele ter vindo para a sua vida.

Acho que muitos homens se sentem assustados, despreparados. Nós, homens, ouvimos que quando chega um filho acabou a nossa vida, não vamos mais dormir, não vamos conseguir pagar as contas. Alguns homens ficam apavorados. Certamente meu pai biológico sentiu algo parecido. Mas é bonito ver vários homens hoje em dia assumindo seu papel de pai, isso é inspirador para muitos outros homens.

Eu diria para as crianças que não têm o pai por perto para prestar atenção nas pessoas que estão ao seu redor, e que ficaram. Muitas vezes, pensamos apenas em quem nos abandonou, ou em quem está longe, e sofremos por aquilo que não temos. Hoje em dia, vejo tudo que minha mãe fez por mim e o tempo que fui bobo e ingrato.

O melhor presente de Dia dos Pais é uma cartinha escrita à mão em que o filho declara alguma coisa para você. Os presentes mais baratos são os mais gostosos: um abraço, um beijo, um passeio de mão dada, esses são o tipo de presente que não tem preço.

Thiago Queiroz

Escritor, palestrante, engenheiro, psicanalista em formação e apresentador do podcast "Tricô de Pais"

O podcaster Thiago Queiroz com dois dos quatro filhos - Renan Olivetti/Divulgação

Tenho quatro filhos: o Dante de 9 anos, o Gael, de 7, a Maia, 3, e a Cora, que vai fazer um ano. Eu tinha 30 anos quando fui pai pela primeira vez, era muito jovem. Fiquei muito feliz quando soube porque eu queria muito ser pai, muito, muito, muito mesmo.

Lembro que também fiquei muito preocupado, porque ter filho é uma coisa importante, e eu ficava pensando "Será que eu vou ser um bom pai?", "Será que vou conseguir cuidar do meu filho da forma como ele gostaria de ser cuidado?".

Desde que tenho filhos, consigo achar legal sentar e brincar com carrinhos, bonecas, jogar jogos. Ser pai é difícil, mas não muito. A gente tem uma responsabilidade muito grande. Dá trabalho. Mas é uma das coisas mais legais que tenho na minha vida.

Um bom pai é o que escuta o que seus filhos têm a dizer. Quando a gente fica adulto, às vezes esquece que ainda tem muito a aprender, ou que, porque o filho é uma criança, ele não sabe de nada.

Acho que uma das coisas mais tristes do mundo é ver um pai indo para longe dos seus filhos, porque ele perde tanta coisa incrível. Perde a oportunidade de aprender com seus filhos, viver uma relação com eles, dar abraço. As melhores gargalhadas que já ouvi foram as dos meus filhos. É de uma tristeza imensa que esse pai ache que pode sair de perto do seu filho e não cuidar dele.

As pessoas perguntam qual é meu emprego e o meu maior emprego é ser pai. Não deveria existir nenhum pai que desiste de ser pai, todos deveriam estar ali fazendo o seu trabalho.

Se seu pai não está perto, você pode ficar triste, está tudo bem ficar assim porque é uma coisa que não é legal. A tristeza vai e volta e é normal a gente querer chorar. Então, se lembre de pedir um abraço de quem você ama.

Gostaria muito de ganhar de Dia dos Pais um "montinho" dos meus filhos logo quando acordar. São muitas crianças, e elas vão fazer um montinho grande. E podiam fazer um bom café da manhã pra mim, ia ser muito legal.

Ilan Brenman

Escritor, psicólogo, autor de "Princesas Soltam Pum", "Papai É Meu" e outra dezena de livros

O escritor Ilan Brenman com as filhas Lis e Iris - Arquivo Pessoal

Tenho duas filhas, uma de 18 anos, que acabou de tirar a carteira de habilitação e vai me dar caronas, e a outra de 15. Claro que tenho vontade de protegê-las, colocá-las num papel celofane, mas tento dar autonomia. A Lis está descobrindo as coisas do mundo lá fora e tenho o maior orgulho.

Eu tinha 30 anos quando a primeira nasceu. Não dá nem para por em palavras o sentimento. Choro, alegria, emoção. A coisa que mais me marcou, quando elas nasceram, é a quebra do nosso egocentrismo, dessa ideia de que tudo gira em torno de você. O mundo se desloca do seu umbigo para o umbigo do seu filho.

Tudo que você faz é por eles. Não vou mais pular de paraquedas assim tão fácil, por exemplo. E, se for tomar um sorvete, vou deixar um pedaço para elas.

E elas transformaram minha vida profissional também. Eu não seria o que eu sou se elas não existissem. Meus livros só nasceram porque elas nasceram, os títulos são frases que saíram da boca delas.

Eu amo ser pai. Nasci pra isso. O segredo para ser um bom pai é não pensar nisso. O problema do mundo atual é que a gente busca o tempo inteiro fórmulas, e não acredito nisso para nada. Não tem manual, nós não somos máquinas. Ajuda se o homem se autoconhecer, entender como funciona.

Se um pai vai embora, a culpa nunca é da criança. Os filhos não têm culpa. Quando vocês crescerem vão entender isso. Vão ver que aconteceram coisas no caminho do seu pai que não têm a ver com você.

Se você não tem o pai presente, a figura paterna vai aparecer para você em um professor, um tio, um avô. Muitas mães guerreiras fazem essas duas funções, vejo muito isso nas viagens que faço pelas periferias do Brasil. E, se esse for o seu caso, nesse Dia dos Pais dê um presente pra ela também. Seria bem legal, ela ia ficar bem feliz.

Tem um provérbio persa que diz que a gente aprende a educação com um mal-educado. Então, você pode aprender a ser um bom pai mesmo que tenha tido um mal pai. Você vê o que não gostou e o que não quer ser.

Todos os anos, minhas filhas me dão cartas e fazem montagens com fotos. Gosto das surpresas, essas coisas me emocionam bastante.

DEIXA QUE EU LEIO SOZINHO

Ofereça este texto para uma criança praticar a leitura autônoma

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.