Caco Galhardo inventa herói que tem o poder de sumir com as coisas (as legais e as chatas)

No livro 'Doutor Sumiço', cartunista homenageia avós e São Longuinho com linguagem bem-humorada

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São Paulo

Quando se diz que alguém é devoto de um santo, significa que essa pessoa acredita e é apegada àquela figura. Pois o cartunista e escritor Caco Galhardo é devoto de São Longuinho, que tem como especialidade encontrar coisas perdidas.

"Minha vida inteira foi assim, tudo sumindo. Estou trabalhando e cadê a borracha, nunca sei onde está o controle remoto, perco os óculos e não enxergo mais nada, na hora de sair de casa não consigo achar as chaves", conta Caco, que sempre recorre aos pedidos de ajuda ao santo quando se vê nessas situações.

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No livro 'Doutor Sumiço', de Caco Galhardo, o protagonista some com tudo de que ele não gosta - Divulgação

O que Caco acredita ser um defeito, isso de viver perdendo tudo, virou um superpoder na história que ele criou para seu novo livro, o "Doutor Sumiço", originalmente feito para crianças, mas que os adultos também podem ler.

O protagonista Lico descobre que consegue fazer coisas sumirem. "Aí ele vira um super-herói e começa a sumir com tudo que ele acha que está errado, e a princípio a ideia é muito boa, só que o livro mostra que isso pode não ser tão legal assim", adianta Caco.

Ele falou um pouco de "Doutor Sumiço" à Folhinha, e sobre seu jeito de trabalhar — além de perder a borracha, o Caco também faz coisas muito legais.

Quando o Lico desaparece com tudo, você tenta mostrar que até as coisas chatas são importantes para a gente de alguma maneira?

Sim, porque sumir com as coisas pode ser um problemão. Não vou dar spoiler, mas ele some com quase tudo. Esse é um livro muito maluco, mas que toca na questão de "será que vale a pena sumir até com nossos problemas?".

Por que você acha que as coisas somem tanto nas nossas casas, especialmente as chaves, controles remotos e os pés de meia?

Eu acho que a gente tem muita coisa. Cada vez a gente vai tendo mais coisas, e elas vão sumindo. É o excesso, e a gente acaba se atrapalhando no meio de tantas coisas.

Você dedica o livro ao São Longuinho. Ele costuma te ajudar?

Sempre recorri a ele, dando não sei quantos mil pulinhos em agradecimento. Ele geralmente funciona, você pede e dá os pulinhos depois. Descobri que ele existiu mesmo, sabia? Era um centurião [militar que comandava exército de cem homens] romano, depois virou um santo. E ele era baixinho e por isso achava as coisas, ele ficava mais perto do chão.

Por que você escolheu dar um papel bem importante para a avó do Lico no livro?

Acho que, quando você é criança, os avós trazem um amor que é diferente do amor de pai e mãe. Pai e mãe educam também, e muitas vezes os avós só dão amor e comida boa. O livro traz isso.

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Imagem do livro 'Doutor Sumiço' de Caco Galhardo - Divulgação

Você é autor de "Crésh" (editora Peirópolis) e "Bilo" (editora Girafinha), os dois também infantis. Tem algum cuidado que um autor tem que tomar quando vai escrever ou desenhar para crianças?

É pensar que você está contando uma história para uma criança. Palavrão não cabe, por exemplo. Para este livro, pesquisei muitos autores de livros infantis dos anos 1960 e 1970, estão todos velhinhos hoje. Pensei que quero ser igual esses caras, sair sereno nas fotos, chega de rock’n’roll (risos). Também quis fazer o livro todo na aquarela, no guache, apostando que as crianças vão curtir essa coisa mais orgânica e não só no computador.

Gosto de falar com crianças. O público infantil hoje está mais inteligente e maduro que o público adulto. Os adultos só estão batendo cabeça, enquanto as crianças estão muito mais espertas. Acho que a pessoa mais lúcida do mundo atualmente é a [ativista] Greta [Thunberg], que era criança até pouco tempo atrás.

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