'Meu Amigo Totoro' faz 35 anos e prova que Japão é 'muito mais que sushi, kimono e videogame'

Netos de japoneses falam sobre animação do Studio Ghibli, que mostra irmãs que se mudam para o interior à espera da mãe e conhecem seres mágicos

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Cena de 'Meu Amigo Totoro' (1988) Divulgação/IMDB

São Paulo

Enquanto os amigos de Takashi Yamanishi cresceram assistindo aos filmes da Disney, a infância dele foi toda à base dos desenhos do Studio Ghibli. Seus pais traziam do Japão fitas VHS com os filmes de animação que são o maior sucesso no país em que Takashi e seus avós nasceram —a mãe e o pai dele são do Brasil.

"Fita VHS era uma caixinha retangular de plástico com uma bobina de fita magnética dentro. Era o único jeito para assistir filmes em casa, antes do surgimento de DVDs e dos serviços de streaming", explica Takashi, que tem 29 anos e é professor de língua e cultura japonesa na 123 Japonês.

O Totoro com suas amigas em um galho de árvore sobre o rio, em cena de 'Meu Amigo Totoro' - Divulgação/IMDB

O filme favorito dele era "Meu Amigo Totoro", que este mês completa 35 anos de existência. Junto das irmãs, ele assistia e assistia e assistia de novo à história das meninas Mei e Satsuki, que se mudam com o pai para uma casa no campo, enquanto esperam pela volta da mãe, que está doente no hospital.

"Eu sinto um quentinho no coração quando vejo a nossa cultura retratada no filme. Posso citar como exemplo uma das primeiras cenas, em que a personagem Satsuki anda de joelhos ao encontrar alguns frutos em casa", lembra Takashi.

"Ela faz isso para não pisar no chão com seus sapatos, seguindo um costume muito presente nas famílias de origem japonesa. Desde criança, somos ensinados a tirar os calçados para não trazer sujeiras para dentro de casa."

"O legal de aprender sobre a cultura japonesa vendo os filmes do Miyazaki é que a gente entende que o Japão é muito mais do que sushi, kimono e videogame", comenta Janaina Tokitaka, ilustradora e roteirista, falando de Hayao Miyazaki, co-fundador da Studio Ghibli.

"Nos filmes dele, a gente pode ver como é uma cozinha japonesa do dia a dia, com panela de arroz elétrica, por exemplo, ou jeitos de os japoneses entenderem a vida, como o respeito às pessoas mais velhas e curiosidade com a natureza", lista Janaina, que é brasileira e neta de japoneses.

"Meu Amigo Totoro", Janaina conta, é o filme a que ela mais assistiu na vida. Durante um dos anos da pandemia de coronavírus, sua filha Rosa, de 6 anos, pedia todas as noites para ver a animação.

"Quando você assiste 'Totoro', você sente coisas muito especiais, todas ao mesmo tempo. Uma mistura de conforto com empolgação, tristeza com alegria… É por isso que Totoro é meu filme preferido, e acho que é por isso que a Rosa gosta tanto dele."

Totoro é uma criatura mágica, parecida com um fofíssimo bicho de pelúcia gigante —não à toa, há inúmeros brinquedos dessa natureza à venda inclusive no Brasil. Ele aparece em um determinado momento (como aparecem as fadas e seres mágicos em outras histórias) para ajudar as irmãs Mei e Satsuki a lidar com a espera difícil e cheia de incertezas causada pela doença da mãe.

A ilustradora Janaina define as duas personagens como corajosas, curiosas e preocupadas uma com a outra. E tanto ela quanto o professor Takashi têm a mesma parte favorita do filme, veja a coincidência.

"A cena em que as meninas e dois mini-Totoros fazem as sementes do jardim crescerem. Eu acho uma das cenas mais mágicas e lindas que eu já vi", resume Janaina.

"É divertidíssimo ver o Totoro fazendo o ritual com o guarda-chuva, ele até sua para fazer os brotinhos surgirem", completa Takashi. "As meninas e os dois mini-Totoro seguem com os mesmos movimentos, até que as plantinhas se tornam uma árvore gigante e todos voam no céu de lua cheia, gritando e se divertindo."

Vários elementos do filme fazem Janaina se lembrar da própria infância, a começar pela casa para a qual as meninas se mudam com o pai. "Parece o sítio que era do meu avô!", se anima.

"Também tem a cozinha, o jeito de comer verduras direto da horta, os banhos de ofurô. Acho o jeito do pai das duas bem parecido com o jeito do meu pai. O senso de humor, o jeito de ser ao mesmo tempo atento e distraído, acho que é um jeitão bem de pai asiático."

Quando "Meu Amigo Totoro" chega ao final, a mãe de Satsuki e Mei ainda não saiu do hospital, e isso fez muita gente considerar a possibilidade de que talvez ela não ficasse boa de seu problema de saúde.

"Confio no que as histórias contam, não acredito em teorias malucas. E o que sabemos é que no fim do filme ela parece melhor", defende Janaina. Takashi concorda: "Podem ficar tranquilos que ela fica bem, Totoro tem um final feliz", diz.

"Basta olhar a sequência de imagens após o fim do filme, que começa com o reencontro das filhas com a mãe, que recebeu alta do hospital. Vale lembrar que o filme se passa no verão, enquanto essas cenas finais mostram a passagem do outono e a chegada do inverno", complementa o professor, que em agosto programa dar uma aula online sobre "Meu Amigo Totoro".

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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