Descrição de chapéu desafios de matemática

Alunos de escolas públicas voam pela primeira vez para receber medalha de ouro em olimpíada de matemática

Mais de mil crianças de todo o Brasil se reuniram em Florianópolis para premiação da Obmep

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Foto aérea com os medalhistas de ouro da OBMEP, na praia do Santinho, em Florianópolis (SC) Diogo Machado/Divulgação

São Paulo

O comandante João Batista foi o responsável pelo voo 1261 da Gol, que saiu de Florianópolis para São Paulo na tarde de terça (6). Quando abriu o microfone para dar oi aos passageiros, como sempre fazem os pilotos, ele aproveitou para dar os parabéns às crianças embarcadas ali —todo mundo então bateu palmas, saudando os medalhistas de ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).

Ao todo, 1.089 alunos de escolas do Brasil inteiro participaram da cerimônia de premiação da olimpíada, que aconteceu na segunda (5), em um hotel no norte da ilha catarinense. No dia seguinte, foi hora de voltar para casa, e vários deles entraram nos aviões ainda com a medalha dourada pendurada no pescoço.

Pedro Ygor S. S., medalhista de ouro da Obmep morador de Pernambuco - Diogo Machado/Divulgação

A premiação em Florianópolis reuniu os vencedores das 16ª e 17ª edições da Obmep —por causa da pandemia, a cerimônia de 2021 precisou ser adiada e aconteceu só agora. Todas as crianças viajaram e se hospedaram sem custo nenhum, e muitas andaram de avião pela primeira vez.

Pedro Ygor S. S., de 13 anos, é de Tamandaré, em Pernambuco, e só tinha saído de sua cidade uma vez, de carro com os pais, para visitar uma cidade em Alagoas. "Eu vim de boa, pensei que ia ser pior. Porque é avião, né? O povo falava pra eu não olhar pro chão ou eu ia passar mal. Mas vim na janelinha, e ainda vim tirando foto", conta.

Ele foi o único aluno de sua cidade a ganhar uma medalha de ouro na Obmep. "Peguei a prova, fui respondendo e justificando. Quando fui ver, alguns meses depois, minha mãe começou a chorar do nada dizendo que eu tinha ganhado. Fiquei meio bestinha, como assim eu com uma medalha?", brinca.

Fazia 20°C na manhã de segunda-feira, quando todas as crianças se reuniram nas ruas do hotel rumo à praia do Santinho, onde posariam para uma foto aérea feita com drones.

Pedro usava touca de lã, calça jeans e chinelos de dedo. E fazia, ele próprio, imagens do lugar, usando uma câmera digital Cyber-shot antiga. "Sou friorento, lá onde eu moro é muito calor", explicou.

Bruna F. S. tem 13 anos e também é de Pernambuco. Ela mora em Serrita. Logo na sua primeira participação na Obmep, já levou a medalha de ouro. Ela conta que sempre se deu bem com a matemática, mas que nunca achou que "estaria no nível de uma olimpíada".

Bruna F. S. é de Pernambuco, e sua medalha é motivo de orgulho e brincadeiras na escola - Marcella Franco/Folhapress

No dia de conferir os resultados, começou procurando seu nome entre os medalhistas de bronze e prata. "Não achei nada, então tinha que olhar na de ouro. E meu nome estava lá. Meus amigos agora brincam comigo quando fico conversando durante a aula, eles dizem que a medalhista da Obmep tá fazendo bagunça", ri.

Do Tocantins viajaram Natalia C. P. e Samara D. C., de 14 anos, e Gabriel A. M. S., de 16 anos. As meninas, que são amigas de escola, se ajudaram na hora de consultar o resultado das provas.

Samara, Gabriel e Natalia viajaram do Tocantis para a premiação - Diogo Machado/Divulgação

"De primeira não tava dando para acessar o site, e durante a tarde Natalia me mandou mensagem dizendo que eu tinha vencido também, eu mal acreditei. Fui no site e era verdade", lembra Samara, que conta que sua mãe sempre a incentivou a estudar bastante.

As duas voaram pela primeira vez de avião para chegar a Florianópolis. Samara diz que gostou da sensação, principalmente na decolagem. "Eu tava ansiosa. E com sono! Nosso voo foi de madrugada", conta Natalia.

Gabriel, por sua vez, já tinha ido a Salvador receber uma medalha de ouro da Obmep que ele ganhou em 2019 —em 2018, a medalha foi de prata. "Mesmo tendo ganhado outras vezes, não significava que eu ia ganhar agora. Então, eu tinha que estudar e me dedicar", diz.

"A competição vale muito a pena, é uma experiência única e não só pela viagem, mas porque abre muitas oportunidades. Quando uma universidade vê que você já tem histórico de premiações, por exemplo, ou pelas bolsas de estudo de iniciação científica que são dadas para medalhistas da Obmep."

Bandeja com medalhas destinadas aos alunos vencedores da Obmep - Marcella Franco/Folhapress

Para Gabriel, a melhor maneira de estudar para a olimpíada é fazendo as provas das edições anteriores, disponíveis no portal da Obmep. Bryan M. V. A. S., de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, concorda. Ele, que tem 13 anos, fez exatamente isso para se preparar para a competição.

"Eu achei que tinha ido muito mal, fiquei até cabisbaixo. Mas aí passei e fiquei felizão", resume. Bryan disse que ficou empolgado com o primeiro avião que pegou na vida, mas que não gostou "daquele bagulho no ouvido" —ele se referia à dorzinha que às vezes se sente por conta da mudança rápida de pressão no voo.

Essa parte também incomodou um pouco Daniel R. F., 15 anos, de Itaperuna, no Rio. Mas nada que atrapalhasse a felicidade que ele sentia pela primeira medalha de ouro na Obmep. Ele é veterano da competição: em 2019 levou medalha de bronze, e em 2022 até tentou participar, mas sua escola perdeu o prazo de inscrição.

"No dia eu já tava esperando sair a resposta, fiquei apreensivo, quase fiz contagem regressiva. Vi meu nome no meio das medalhas e fiquei muito feliz, quase taquei o celular longe", conta, empolgado.

Enquanto esperavam a cerimônia de premiação começar, ele e Bryan fizeram amizade com Carlos A. C., 12 anos, de Jaguapitã, no Paraná, que já tinha participado da Obmep antes, mas recebido apenas uma menção honrosa. A medalha de ouro, Carlos conta, foi muito celebrada por ele com os pais e a avó.

Carlos, do Paraná, fez amizade com Daniel e Bryan, do Rio de Janeiro, enquanto esperavam pelo início da cerimônia de premiação - Marcella Franco/Folhapress

Larissa P. S., de 13 anos, moradora de Rosário, no Maranhão, fala que até pensava que poderia ganhar uma medalha na Obmep já que se dedica bastante na escola, mas que jamais imaginou que ela seria de ouro.

"Eu me senti feliz vendo que meu esforço de estudos deu certo. Desde que fiquei sabendo da prova, estudei todo dia, vendo vídeo. A prova envolve muito raciocínio lógico, tem que resolver muita questão", conta ela, que foi a única medalhista de sua escola.

Larissa P. S. se dedicou aos estudos para conquistar sua medalha - Marcella Franco/Folhapress

A cerimônia em Florianópolis teve a presença do ministro da Educação, Camilo Santana, e da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos.

"Sou engenheira eletricista e tenho paixão pela matemática, muito por causa do meu pai, que era um negro de origem muito humilde e que se tornou engenheiro eletricista porque tinha paixão pela matemática", contou a ministra.

"Muitas vezes a ciência parece uma coisa distante, ainda mais a matemática, que parece que não é coisa de menina, ou que é muito complicada. Acho que esse é um mundo fantástico pelo qual as crianças podem se apaixonar."

A Obmep foi criada em 2005, e alcançou quase 18 milhões de alunos e mais de 47 mil escolas por ano. É a maior olimpíada estudantil do mundo, e suas provas são realizadas em duas etapas, com provas aplicadas depois que as escolas inscrevem os alunos interessados.

"Com essa medalha, as crianças têm um selo que diz que elas são boas em matemática e que deveriam continuar estudando, porque elas têm talento", diz Claudio Landim, diretor adjunto do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e coordenador-geral da Obmep, que são parceiros da Folhinha nos Desafios de Matemática publicados semanalmente.

"O que essa prova tem de extraordinário é que ela não cobra conhecimento em matemática, mas sim o raciocínio. E, portanto, muitos alunos que vão mal em matemática descobrem com a prova da Obmep que conseguem resolver problemas, e que são bons nisso."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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