Descrição de chapéu dia dos pais maternidade

Padrastos vivem amor 'por escolha' e podem ganhar presente no Dia dos Pais

'Ele é importante porque ele é mais uma pessoa pra me amar'; leia depoimentos de duas enteadas e de seus padrastos

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São Paulo

Se o amor fosse uma operação matemática, ele seria uma adição, nunca subtração ou divisão. Quem faz essa definição é o psicólogo clínico Vinicius Barbati, que trabalha com adultos e crianças em seu consultório. Ele gosta de dizer que, para amarmos alguém, não é preciso deixar de amar outras pessoas.

A afirmação serve bem em situações como a deste domingo (13), em que se comemora o Dia dos Pais no Brasil e quando muitas famílias se perguntam se dá para juntar a essa celebração a figura do padrasto, a pessoa com quem a mãe com filhos de uma relação anterior namora ou se casa.

Algumas crianças (os enteados e enteadas) desejam dar presentes para o padrasto. Será que tudo bem? "Se essa vontade de presentear os dois existe, imagino que seu pai e padrasto são pessoas importantes pra você", comenta Vinicius.

"Pode ser que dar presente para os dois te deixe com medo de magoar alguém. Se tiver esse medo, busque ajuda de alguém que sinta que irá te compreender. Nem sempre os adultos conseguem compreender as razões das crianças, mas tenho certeza de que sua intenção é muito boa!".

Luiz Felipe Silva e sua enteada, Helena de 9 anos. A menina tinha 4 anos quando ele e a mãe dela se conheceram - Karime Xavier/Folhapress

O psicólogo lembra que, no ano passado, houve no país recorde de crianças registradas apenas pela mãe, sem o nome do pai na certidão de nascimento. Uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostrou que quase 15% das casas brasileiras são chefiadas por mães solo, e no total são 11 milhões de mulheres nessas condições.

Quando uma dessas mães conhece alguém legal e eles começam a namorar, nasce um padrasto. "Pode ser que quando seu padrasto entrou em sua vida, você discordou da escolha da sua mãe, viu defeitos. Isso não é um problema. Quando conhecemos alguém novo, podemos não gostar da pessoa e está tudo bem", tranquiliza Vinicius.

Mas ele diz que, depois de um tempo de convivência (que pode ser de meses e até anos), é possível que a amizade, o carinho e a confiança apareçam. E que, se não havia um pai presente, agora há um padrasto. E, se há um pai legal e sempre por perto, agora há uma família grande, cheia de gente para amar.

Conheça a história de dois padrastos que têm quase o mesmo nome e de suas enteadas, que também são xarás.


Luiz Felipe e Helena, 9 anos

"Minha mãe conheceu o Luiz Felipe, ela me apresentou ele, aí a gente foi brincar lá em casa, na casa antiga. Eu gosto que ele me dá comidinhas gostosas, brinca comigo, me gosta. A gente brinca de [boneca] Polly, ele faz uma voz da Polly muito legal.

Gosto quando a gente joga bola no clube e brinca de escolinha. Eu gosto de dar bronca nele, gosto de mandar ele fazer as coisas e brigar com ele quando ele deita do nada. Não é legal, né? Tem que ficar em pé pra fazer a escolinha, tem que ficar lá sentadinho, bonitinho.

Minha mãe me cuida mais diariamente, mas ele fica perguntando de mim no dia a dia. Ele é importante porque ele é mais uma pessoa pra me amar, pra brincar comigo, pra conversar comigo, pra ler histórias, pra conversar de noite.

Tem muita chance de ele ganhar presente porque ele já ganhou dois presentes no último Dia dos Pais e talvez ganhe esse ano de novo."

Depoimento de Helena C. L. S. T., 9 anos

"Uma coisa pro adulto pensar é que a criança já tem a mamãe dela, o papai dela, os vovós, já tem toda a vida dela, e que você entra pra ser uma pessoa a mais que vai cuidar, brincar, trazer um chocolatinho quando lembrar de você, colaborar na sua lição de casa, te levar pra passear, vai te trazer mais gente legal, mais tios, mais primos, mais avós, avôs.

Você tem que estar sempre disposto a entender melhor do que a criança precisa e qual é o seu lugar nesse espaço que ela já tem.

Eu e a Helena… a gente compra chocolate, pega um quadradinho e guarda. Aí a mãe dela fala que o dela acabou e que queria mais. Aí a Helena ri e fala que, 'como diz o Luiz, quem guarda tem'.

A Helena tem uma alegria, uma vontade de viver, uma vontade de fazer as coisas, uma vontade de aprender, de brincar, de correr, de dançar, que é muito gostoso, dá muita energia na vida. A partir do momento em que eu me relacionei com a mãe dela, me relacionar com a Helena só me fez querer ainda mais estar dentro disso.

Um bom padrasto tem que entender que a criança não é a filha da sua companheira. A partir do momento em que você está lá e que a criança pega na sua mão, ela passa a ser sua responsabilidade também, passa a ser seu afeto também.

O pai e a mãe dela, os avós dela, todo mundo, ama muito ela. Mas eu falo, olha, de todo mundo, quem escolheu ter você na vida fui eu, Helena. Ela é a coisa mais importante pra mim hoje."

Depoimento de Luiz Felipe Silva, 34 anos

Felipe Valente e Helena, 6 anos

"Eu chamo ele de Ferefê. Conheci ele quando a mamãe foi me buscar com ele na escola. O Felipe tinha barba grande, aí eu vi fotos dos cachorros dele no celular. Ele me mostrou dez fotos! Um cachorro é loiro, um é branco, marrom e cinza. É o Bruno Aleixo e o Pedro Paulo.

O Felipe ficou com a barba lisinha, mas já cresceu. Eu gosto mais sem. Gosto dos cachorros e da "doidura" dele. Ele é maluco! Ele é engraçado. Teve uma vez que o Felipe comeu uma mosca!

Helena com seus 'irmãos' peludos, os cachorros de Felipe - Arquivo pessoal

Ontem mandei um presente de parabéns pra ele. Ele fez 200 anos! Eu gosto de ir na casa da mãe do Fê, de passear com ele, assistir futebol com ele. Ele vai nas festas da escola. A gente canta 'Samuel Foi Pro Céu'. Ele tem tapa-olhos e eu também.

Como o Felipe é doido, agora eu sou doidinha!"

Depoimento de Helena R. T., 6 anos

Felipe Valente e sua enteada Helena - Arquivo pessoal

"Eu ainda estou aprendendo a ser padrasto. Só tive irmãos homens, era um "clube do Bolinha" a vida toda, e a Helena é mais sensível. No caso dela, que tem um pai superpresente, tenho a responsabilidade de não ir contra as coisas que o pai ensina.

Desde o começo, ela fez questão de me falar que tinha um paizão. E ele entendeu nossa relação, sou bem privilegiado.

A Helena gosta de usar minha escova de cabelo, de comer a comida que eu faço. Já tomei bronca porque coloco muita comida pra ela (risos). O fato de ter ganhado dois irmãos peludos [os cachorros de Felipe] ajudou bastante na convivência. Eles dormem com ela, perseguem ela.

Um bom padrasto tem que ter bom humor, muita paciência, saber se conectar com o mundo da criança. Tem que aprender a perder no jogo, porque a Helena ganha todas as vezes! (risos) Tem que aprender a mudar as regras do jogo, tanto literalmente quanto na vida, porque a gente vira adulto e fica congelado, sem lembrar como era ser criança. Mais pra frente, vou perceber o privilégio que foi conviver com uma criança que não é minha filha."

Depoimento de Felipe Valente, 40 (e não 200) anos

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