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Criança pode ter celular e rede social? Saiba o que elas mesmas acham do assunto

Excesso de exposição preocupa alunos de 8 anos de escola paulista, que receberam visita da Folhinha para roda de conversa

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Estela, 8 anos, lê a Folhinha em sala de aula Zanone Fraissat/Folhapress

São Paulo

A turma do 3º A da Escola da Vila, na Vila Indiana, em São Paulo, é informada e sabe muito bem o que é notícia. Um caminhão que tomba na Marginal Pinheiros e atrapalha o trânsito é, sem dúvida, uma notícia —um caminhão que não tomba na Marginal Pinheiros e segue seu caminho, por sua vez, não é notícia, já que está ali fazendo o que os caminhões fazem todos os dias.

E, quando se está lendo o jornal ou navegando na internet, há algumas dicas para saber se o que aparece ali é uma notícia de verdade ou uma notícia inventada. "Tem que ver se a notícia está em um lugar confiável", resume Joana M., 8 anos. "E notícia inventada é a mesma coisa que fake news", ensina.

Cecilia (esq.) é entrevistada por Mel, que faz de conta que a caneta é um microfone - Zanone Fraissat/Folhapress

Os alunos receberam a Folhinha na quarta (9) para uma roda de conversa sobre jornalismo, e também para brincar de ser repórter por um dia. "O Jornal Nacional é aquele que toca aquela musiquinha 'pã nã nã nã nã'", lembrou Cecilia C., 8 anos. "Meu tio apareceu na TV porque tava passando atrás da repórter que entrevistou pessoas no metrô", se animou Nina C., 8 anos. "Também tem jornalista dentro do helicóptero falando que tá trânsito nas ruas lá embaixo!", completou Cecilia.

A turma concluiu que notícias podem ser sobre coisas boas (alguém que sobe a montanha mais alta do mundo ou quando um novo livro é lançado) e também sobre coisas tristes (uma guerra é iniciada, um avião sofre um acidente). Em seguida, começou a atividade, com a ajuda da professora Fernanda Beillo.

Em duplas, os alunos escolheram quem começaria como repórter e quem seria o entrevistado —foi legal ver que todo mundo queria primeiro ser o jornalista. A entrevista tinha duas perguntas iguais para todos: "Criança pode ter celular e por quê?", e "Criança pode ter rede social e por quê?".

Constance B. L., 8 anos, disse que criança pode, sim, ter celular. "Mas não pra ficar olhando rede social, essas coisas. É só pra poder ligar pra mãe quando estiver perdido", avaliou. "A minha resposta é a mesma da Constance. Pode ter, mas não pra ficar mexendo, jogando sem parar, nada disso", completou sua dupla, a Laura R. G., 8 anos.

"É só pra quando você tá no clube, sua mãe chegou lá, você não estava, aí você tem que ligar pra ela pra ela vir te buscar. Se você ficar perdida e não souber como ir embora."

E da rede social, o que as meninas acham? "Não pode, porque a criança vai ficar mostrando o corpo, a cara, não pode mostrar. Aí a pessoa que tá vendo ela pode marcar um encontro e matar", disse Laura. "Não pode, porque tem pessoa que rouba crianças. Aí, quando o responsável não está em casa, a pessoa vai lá e rouba. Pode dar problema", respondeu Constance.

Nina participa da palestra da Folhinha - Zanone Fraissat/Folhapress

Para Lucas S. E., 8 anos, a infância ainda não é hora para rede social. "Tem gente que pode pegar e zoar. Mas isso depende, se for uma rede social confiável, até pode. O Youtube não é confiável, mas o Instagram é. Só que não pode ter muita foto. Uma ou duas pode, mas mil, não."

Lucca R. B., 9 anos, que fez dupla com o amigo, acha que quem decide tudo isso são os pais. As famílias também fizeram parte das respostas de Guilherme S. A. S., 8 anos e Benjamin M. A., 8 anos. Para os dois, são os adultos que têm a palavra final nessa decisão.

"Tudo depende dos pais. Ter redes sociais, só se a família for muito tecnológica e conseguir colocar sem a cara da criança, com efeitos, e sem deixar a criança ser hackeada. Mas o mais normal é não ter", disse Guilherme.

As meninas Ana C. R., 8 anos e Maria Valentina M. G. C., 8 anos, têm seus próprios celulares, mas os aparelhos não têm chip. As duas discordam sobre redes sociais. "Pode ter, mas sem mostrar o rosto", disse Ana. "Não pode ter rede social. Já vi um caso de um menino que tinha corrente de ouro, ficava postando, aí veio um ladrão e roubou", comentou Maria Valentina.

"Tem pais que deixam ter celular, mas eu não daria. Eu não tenho. Acho que eu vou ganhar com uns 20, 16 anos. Os nossos pais, quando eles eram crianças, eles só ganharam com mais ou menos essa idade", ponderou Estela Y. S., 9 anos.

Ela fez dupla com Maria C. G., 8 anos, que também acha que ainda é cedo para ter um aparelho. "A criança tem que aproveitar a infância, porque quando ela for adulta ela não vai conseguir aproveitar muito. Não vai poder brincar, não vai poder ir em festas. Tipo, se a criança ficar na tela ela começa a se viciar e não consegue sair", disse.

"Tem que aproveitar, jogar jogo de tabuleiro, brincar de esconde-esconde, de boneca. Coisas que quando você é adulto não pode fazer. Tem gente que fala que quer ser adulto logo pra poder ser livre, mas na verdade é meio que o contrário. Você vai ter que trabalhar e não vai ter muitas férias, vai ter que trabalhar muito pra sustentar sua família", completou Estela.

Ao final do papo, as crianças fizeram uma bagunça com a reportagem para pedir autógrafos em cadernos e nas edições da Folhinha que foram distribuídas na visita. Lucas S. E. ficou tão animado que queria ganhar uma assinatura até na camiseta. "Minha mãe não vai brigar, ela vai achar legal que eu conheci os primeiros jornalistas da minha vida!", justificou.

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