Descrição de chapéu desafios de matemática

Matemática foi 'inventada' para ajudar com astros, ovelhas e cobrança de impostos

Crianças se perguntam de quem foi a ideia de criar coisas como divisão e a raiz quadrada, que já aparecia na Mesopotâmia

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São Paulo

Bernardo e Pedro não se conhecem, mas houve um dia em que os dois se perguntaram a mesma coisa, um no Rio Grande do Sul, o outro lá em Minas Gerais. "Quem inventou esse negócio de matemática?!", questionaram os meninos. A única diferença foi que Bernardo queria saber de quem foi a ideia porque a achou péssima, enquanto Pedro adorou a criação.

Em todas as turmas do mundo inteiro sempre há os que amam e os que odeiam matemática. Pedro A. S. R., 11 anos, por exemplo, diz que essa é sua matéria favorita, e que tudo nela é muito fácil de aprender. Nos tópicos mais críticos, ele só precisa prestar um pouco mais de atenção e… pronto, aprendido.

colagem com vários elementos de matemática como numeros, sinais, foto das crianças citadas na matéria, matemáticos como arquimedes, tales de mileto, hipátia
Ilustração de Silvis - Silvis

"Alguns cálculos não fazem sentido pra mim", se queixa Bernardo P. M., 10 anos, para quem a matemática é complicada. Ele conta que tem dificuldade com a divisão e com as tabuadas do 6, do 7 e do 8.

"Na minha escola, eu conheço mais gente que gosta de matemática do que quem não gosta. Na minha sala tem eu, principalmente, que odeio. E tem minha mãe, que também não gosta", enumera Bernardo. "Conheço pessoas que não gostam de matemática. Por exemplo, o Felipe Magalhães e o Davi", diz Pedro.

Respondendo à questão lá do início, não se sabe o nome dos matemáticos que nos deixaram escritas as tabuletas de argila em que foram encontrados os primeiros cálculos da humanidade.

"Mas uma figura que mais tarde, na Grécia, provou um fato matemático foi o Tales de Mileto. Ele não chega a ser o pai da matemática, mas é considerado um dos primeiros", ensina Marcelo Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e colunista da Folha.

As mulheres também estavam participando dessas descobertas. A primeira de que se tem notícia é a grega Hipátia. Arquimedes, lembra Marcelo, também foi um matemático pioneiro. "Ele tinha ideias que demoraram 2.000 anos para se tornarem utilizadas com mais frequência", conta.

Marcelo diz que desde quando a escrita foi descoberta, por volta de 1500 a.C., as pessoas começaram a registrar suas ideias —entre elas, estava o movimento dos astros no céu. "A matemática nasceu junto com isso. As pessoas queriam não só acompanhar os astros, mas prever esses movimentos no futuro. A matemática foi inventada também para ajudar nisso."

Também havia a necessidade de contar coisas. Se alguém tinha um rebanho de ovelhas, por exemplo, como fazer para saber se alguma delas fugiu? "Pegava-se uma pedrinha para representar cada animal. Daí se comparava as quantidades de pedra e de ovelha. Nisso, se desenvolveu o processo de contagem", diz Marcelo.

A mesma coisa fazia parte também da venda de mercadorias, em que era preciso saber quanto havia de coisas e de pagamento por elas, ou na cobrança dos impostos pelo governo, em que deveria haver registro de quanto cada cidadão entregou.

"Hoje em dia as pessoas acham que matemática é só sobre números, mas essa é só uma parte dela. No Egito antigo, quando havia enchentes do rio Nilo, havia o inconveniente de cercas serem derrubadas entre os terrenos", lembra Marcelo.

Alguns cálculos não fazem sentido pra mim

Bernardo, 10 anos

bom em ciências

"Depois que as águas baixavam e eles tinham que devolver as terras para as pessoas, ninguém sabia mais onde começava e acabava cada uma. Então, tiveram que aprender a contar e registrar essas áreas, para devolver a mesma quantidade que se tinha antes."

Assim nasceu o aprendizado de formas e de outra parte importante da matemática, a geometria. Esta, aliás, é a única área em que o menino Bernardo tem menos dificuldade. Mas ele deixa claro: "Não curto, apenas acho fácil".

Conheço pessoas que não gostam de matemática. Por exemplo, o Felipe Magalhães e o Davi

Pedro, 11 anos

fã de potenciação

Os números, ensina Marcelo Viana, foram aparecendo de maneira simultânea em várias civilizações, que tinham seus símbolos específicos para representá-los. Havia os maias, os gregos e os romanos, por exemplo, com aqueles numerais em pauzinhos que aplicamos até hoje.

"A numeração que nós utilizamos foi criada pelos hindus, na Índia, e foi transmitida deles para os árabes, que a levaram para a Europa. Ela demorou muito até começar a ser usada. E um matemático que teve papel importante em divulgar essa numeração foi o Leonardo Fibonacci", diz.

A numeração foi se tornando cada vez mais popular e, para Marcelo, é muito melhor que outros sistemas. "Seria um horror multiplicar com numeração romana", acredita. E multiplicar, por sinal, é uma das coisas favoritas do menino Pedro. "Também tem a potenciação, também tem ângulos, essas são minhas três coisas favoritas", conta.

Um pesadelo bem comum entre os desgostosos com a disciplina é a temida raiz quadrada. Ela também é muito, muito antiga, revela Marcelo Viana, e já aparecia em tabuletas da Mesopotâmia (claro que não com esse nome).

E seja com raiz quadrada, seja com a divisão do Bernardo ou com qualquer outro tema, Marcelo fala que ter dificuldades com essa disciplina é bem comum. "Quando a gente é pequeno não tem muito problema porque consegue relacionar bem a matemática com a experiência na vida. Os números inteiros, por exemplo, você conta com seus brinquedos."

"Mas a matemática tem ideias mais abstratas que essa, então a relação delas com a realidade não é tão clara. O papel do professor na sala de aula é fazer essa conexão, explicar por que está ensinando aquilo. Infelizmente, para algumas pessoas o gosto vai sendo perdido com o tempo", lamenta.

Bernardo em breve vai começar a ter aulas com uma professora particular e diz ter "uma miniesperança" de que sua relação com a matemática mude. "Eu aprendi a escrever e a ler durante a pandemia, foi quase milagre", lembra.

Para o matemático Marcelo, as chances de Bernardo são boas. "O medo bloqueia o raciocínio e faz parecer que a matemática é coisa para gênios, o que não é verdade. Recomendo sempre que os alunos tentem perder a ansiedade e busquem a matemática na brincadeira. Se virar estudo, fica ruim."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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